Mesmo sendo alertados pelo presidente da Assembleia Legislativa no retorno dos trabalhos na Casa, no início deste ano, deputados cearenses têm desobedecido as orientações para não fazer pronunciamentos "municipalizando" os debates em período pré-eleitoral. Alguns dos parlamentares ouvidos pelo Diário do Nordeste alegam ser inevitável não falar sobre determinados temas e defenderem os redutos eleitorais, principalmente porque são cobrados por isso.
Os líderes de partidos foram alertados a instruir os liderados a evitar o uso da palavra para direcionar discursos para municípios, evitando questionamentos dos órgãos fiscalizadores. O deputado Neto Nunes (PMDB), além do tema principal de seus pronunciamentos, que é a emancipação de municípios, vez por outra sobe à tribuna do plenário 13 de Maio para fazer críticas à Prefeitura Municipal de Icó.
Sergio Aguiar (Pros) e Gony Arruda (PSD), que disputam a hegemonia em Granja, já protagonizaram cenas inusitadas. Recentemente, quando Aguiar parabenizava o prefeito Romeu Aldigueri por conseguir recursos para a construção de uma adutora no município, Arruda disse que seu pai, o ex-prefeito Esmerino Arruda, foi quem, em conversa com o governador Cid Gomes, havia solicitado o equipamento para o local. O episódio gerou comentários irônicos dos demais parlamentares.
A maioria dos discursos do deputado Delegado Cavalcante (PDT) limita-se a Morada Nova, sempre atacando ou se dizendo perseguido pelo prefeito da cidade, Glauber Castro. Na Assembleia, o embate mais visível por espaço em municípios tem sido feito pelos deputados Júlio César Filho (PTN) e Fernanda Pessoa (PR), ambos filhos de ex-prefeitos de Maracanaú.
Fraudes
Com as denúncias recentes de fraudes em licitações envolvendo gestores da Prefeitura de Maracanaú, abriu-se margem para pronunciamentos críticos por parte de Júlio César Filho contra a atual gestão, que recebeu apoio do grupo político ligado à republicana. Em resposta, Pessoa chegou a contar os problemas da gestão do pai do colega, o ex-prefeito Júlio César.
O deputado Roberto Mesquita (PV), que até o fim de 2010 era vereador de Fortaleza, tem se priorizado pronunciamentos sobre bairros da Capital cearense, tecendo críticas ao prefeito Roberto Cláudio. "Essa história de municipalizar o discurso é apenas para tentar cercear o debate. Nós não temos debates pré-determinados, temos que tratar de todos os assuntos que nos chegam. Quer dizer que agora nós só vamos tratar de segurança, rodovias? Assuntos que são do Município não vamos tratar por quê?", questionou.
Já Júlio César Filho disse que questões políticas e localizadas não devem ser colocadas em plenário, mas ponderou que o que ocorreu em Maracanaú não poderia ser deixado de lado, já que tem sido cobrado por eleitores. "Eu sou fiscalizador dos órgãos estaduais, mas devo satisfação para uma parcela do meu eleitorado", relata.
A deputada Fernanda Pessoa (PR) defende que os assuntos sejam direcionados de forma abrangente, pensando o Estado como um todo. No entanto, em tempos de eleições municipais, acredita que os parlamentares devem usar a tribuna da Casa como palanque para candidatos em disputa. Segundo ela, o Ceará passa por dificuldades na segurança pública, saúde e combate à seca e seria necessário que os parlamentares se debruçassem mais sobre temas referentes às discussões sobre o Estado.