Municiando a hegemonia
• A notícia não foi surpresa para ninguém: o Planalto, ao fazer os costumeiros cortes “estratégicos”, no Orçamento, repetiu, e agora em maior intensidade, o que já vinha ocorrendo, “limpou a barra” do PT, e carregou na caneta em cima dos aliados, inclusive o PMDB. Se atentarmos para declarações de alguns governistas da AL, da Câmara Municipal de Fortaleza, além de lideranças do interior, e que vêm sendo feitas com maior frequência, dá para entender que o descontentamento por medidas como essa é crescente. Hoje, na Capital e no sertão, os protestos contra o tratamento desigual dado a partidos, que ajudaram a eleger a presidente Dilma, já deixaram de ser feitos apenas “à boca pequena”. Há motivos para isso. No Ceará, onde mais de 20 partidos, despejaram quase todos os 75% dos votos na candidata do presidente Lula, é justificado o temor desses partidos, de que terão grandes problemas para eleger prefeitos e vereadores. Sabe-se que estes contarão com o valioso apoio de um governador – Cid Gomes – cuja aceitação bate sucessivos recordes. Ocorre que, do mesmo modo como os interioranos dependem muito de Brasília, o ótimo governador Cid também vive o drama de não pertencer ao privilegiado e poderoso PT, cujo crescimento é prioridade absoluta do poder central. Mas, para chegar a isso, sempre haverá um “crânio” acima dos demais. No final dos anos 40, e até ser eleito presidente, Getúlio Vargas fez da sua fazenda, em São Borja (RS), uma trincheira, de onde comandou a sua vitoriosa campanha de 1950. O ex-presidente Lula, por motivos de saúde, faz o mesmo em São Bernardo (SP). Dali, “mexendo com os pausinhos”, ele fez a cidade ganhar mais verbas do que todos os municípios do País. Dali, ele, sem sair de casa, move as peças do xadrez político, no sentido de tornar o PT capaz de imobilizar os grandes aliados, e devorar os pequenos e médios. É assim que se alimenta uma hegemonia. Quem tem Lula, tem tudo.