Nos próximos meses, a composição da Câmara Municipal de Fortaleza deve passar por mudanças, pois alguns vereadores vão tirar licença para fazer campanha eleitoral no Interior, cedendo espaço a suplentes
Foto: Natinho Rodrigues
Alguns partidos já estão organizando visitas ao Interior, antes mesmo da campanha, para mobilizar o eleitorado
Dos 43 vereadores que compõem a Câmara Municipal de Fortaleza, pelo menos 18 podem concorrer às eleições deste ano na busca de vagas na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados. Desse total, 13 já confirmaram a pré-candidatura e outros cinco ainda discutem o futuro com os partidos.
A bancada do PSC é a que mais poderá sofrer mudanças. Dos quatro parlamentares eleitos em 2012, três estão confirmados no pleito de 2014. O vereador Wellington Sabóia quer uma vaga como deputado federal, enquanto Eulógio Neto e Marcos Aurélio almejam cadeiras na Assembleia Legislativa. Sabóia revelou que sua pré-candidatura faz parte de um grande bloco formado por oito partidos que disputarão a Câmara Federal. Além do PSC, também compõem esse grupo o PTdoB, PMN, PSDC, PTC, PPL, PPS e DEM.
A intenção dos vereadores em participar do pleito também deve provocar a posse de diversos suplentes na Câmara Municipal para dar mais tempo à campanha dos parlamentares. O vereador Alípio Rodrigues (PTN) afirmou que sua licença de 120 dias foi solicitada para ele fazer viagens ao Interior com a intenção de ampliar a base eleitoral. Ele pretende se candidatar a deputado federal. "Hoje, estou chegando em Russas para articular minha base eleitoral na região do Vale do Jaguaribe", ressaltou o vereador que será substituído por Audízio Oliveira (PTN) durante os próximo quatro meses.
O vereador Leonelzinho Alencar (PTdoB) já assegurou a licença e deve disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. Nos próximos quatro meses, Gerôncio Coelho (PTdoB) é quem assume a vaga. O vereador Wellington Sabóia também antecipou que a bancada do PSC deve, em breve, solicitar licenciamento para participar da campanha. "Houve o acordo entre os vereadores e o partido de que, em abril, nós iremos nos licenciar para podermos dar espaço aos suplentes e nos dedicarmos exclusivamente à disputa", apontou.
Protestar
O vereador João Alfredo (PSOL) também irá se afastar da Câmara Municipal para buscar uma vaga na Assembleia Legislativa e adiantou que a vereadora Toinha Rocha (PSOL) deve se candidatar ao cargo de deputada estadual. Com as licenças, quem deve assumir o cargo temporariamente é a suplente Nascélia Silva, que invadiu, recentemente, o plenário da Casa para protestar contra o reajuste dos servidores do Poder Executivo.
Na bancada do PT, Acrísio Sena explicou que sua intenção é buscar o cargo de deputado federal, atendendo a um pedido partido, que quer fortalecer a representação na Câmara dos Deputados e no Senado. Guilherme Sampaio (PT) tentará uma vaga na Assembleia Legislativa.
Já o PMN pensa em ampliar a bancada de deputados estaduais na Assembleia. Além de Mário Hélio tentar a reeleição, o vereador Zier Férrer também quer assegurar uma vaga no Legislativo Estadual. Pelo PR, o vereador Capitão Wagner confirmou a pré-candidatura nas eleições deste ano, mas não antecipou qual cargo disputará. "Isso ainda não está definido, porque há a possibilidade de eu concorrer ao Executivo", frisou.
Na bancada do PMDB, a única certeza é a candidatura do vereador Vitor Valim ao cargo de deputado federal, pois o presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, vereador Walter Cavalcante, alegou ainda estar à espera de uma posição do partido. "Se o partido quiser a minha candidatura, farei isso sem problema, mas a definição só sairá mesmo no fim de janeiro", esclareceu o peemedebista.
Na bancada do PROS, o vereador Adail Júnior assegurou que, no momento, não pretende disputar o pleito, mas fez a ressalva de que a possibilidade ainda não foi descartada pelo partido. Ele lembrou que o vereador Elpídio Nogueira deve disputar algum cargo neste ano. "A incógnita é se ele vai concorrer a uma vaga na Assembleia ou na Câmara dos Deputados", acrescentou.
Reduzir
As incertezas também tomam conta do PDT. Com a possível saída da deputada Patrícia Saboya para assumir um cargo no Tribunal de Contas do Estado, o partido quer lançar mais nomes à Assembleia para não correr riscos de reduzir a bancada. A escolha do vereador Iraguassú Teixeira é a mais cotada.
"Há uma possibilidade acima de 70% de que eu seja esse nome para concorrer à vaga na Assembleia, mas ainda estamos resolvendo isso dentro do partido", explicou Iraguassú Teixeira ao antecipar que não pretende se afastar da Câmara enquanto estiver participando do pleito. Didi Mangueira é outro vereador que pode tentar vaga na Assembleia, mas o futuro ainda não foi definido, segundo colegas de partido.
O presidente estadual do PSDC, deputado Ely Aguiar, disse ainda não haver uma posição oficial, mas revelou que os vereadores Vaidon Oliveira e Tamara Holanda são possíveis candidatos à Câmara dos Deputados. "Eu assegurei aos dois que não vai colocar nenhum obstáculo à possibilidade das duas candidaturas", garantiu Ely Aguiar.
Para o presidente da Câmara Municipal, Walter Cavalcante, muitos vereadores conseguirão se eleger para outras Casas Legislativas. "Acredito que a Casa deve conseguir eleger pelo menos dois deputados federais e quatro estaduais", previu.
Deputados oriundos da CM apontam dificuldades
Na atual Legislatura da Assembleia do Ceará, quatro deputados de primeiro mandato foram eleitos em 2010 quando eram vereadores da Câmara Municipal de Fortaleza. Passados três anos desde o início de seus mandatos, Eliane Novais (PSB), Roberto Mesquita (PV), Paulo Facó (PTdoB) e Mário Hélio (PMN) afirmam que há diferenças entre as duas Casas, principalmente no que diz respeito à estrutura física, e ainda sentem dificuldades por conta dessas distinções.
Em relação à atuação no Legislativo estadual, esses parlamentares apresentaram resultados diferentes. Enquanto Eliane Novais e Roberto Mesquita tiveram um desempenho pautado em um posicionamento contrário à gestão do governador Cid Gomes, Mário Hélio e Paulo Facó pouco participaram dos debates e das decisões da Casa, trabalhando, na maior parte das vezes, nos bastidores.
Para esses deputados, enquanto a Assembleia apresenta as condições necessárias para o as atividades do parlamentar, a Câmara Municipal de Fortaleza possui diversas falhas, como as comissões permanentes, que têm o mínimo de assessoria técnica e gabinetes antigos, inclusive sem banheiros. Por outro lado, os deputados lamentam que a Assembleia seja um espaço em que a distância entre deputado e eleitor tenha aumentado, diferente do Legislativo Municipal.
Mário Hélio afirmou que depois de três anos como titular de uma das 46 vagas da Casa Legislativa ainda tem dificuldades para se adaptar. “Tenho contato próximo com o eleitor, pois fui vereador, mas o deputado se distancia muito”, diz. Conforme Hélio, o seu eleitorado, cuja maioria é de Fortaleza, cobra demandas como se ele fosse vereador. “Eles não entendem e me cobram a falta de segurança, o buraco que não foi feito”, lamenta.
O deputado não apresentou muitos projetos e tem se limitado a fazer pedidos ao Governo do Estado, através de requerimentos. “A gente faz muitos requerimentos, mas não levo muito em conta essa história dos projetos. Prefiro acompanhar o Executivo, a produção do governador”, admite Mário Hélio, que é candidato à reeleição.
Afinidade
Dos 46 deputados estaduais, pelo menos 19 já foram vereadores em seus municípios. Para Roberto Mesquita, como vereador, a produção é maior, pois existe certa afinidade entre os parlamentares, fazendo com que o Executivo discuta alguns temas, mesmo as propostas sendo da oposição. Já entre os deputados, explica, há um distanciamento, tendo em vista que a ampla maioria governista acaba por prejudicar o debate em pauta na Casa.
“O Governo não se preocupa em detalhar e convencer os deputados de sua vontade. Ele manda as matérias, o presidente coloca em pauta e a Assembleia aprova ao gosto do Poder Executivo. Na Câmara, existe, sim, o poder do Governo, mas não com tanta intensidade”, alega Mesquita.
“Pedimos empréstimo, transferimos rubricas, ‘desafetamos’ áreas da forma como Governo quer. Ele trata-nos às vezes como se fôssemos crianças”, critica. Mesquita passou boa parte de seu mandato atacando a gestão cidista, inclusive fazendo denúncias que resultaram no fim de contrato com empresas, como no caso dos consignados. Ele afirmou que não é adepto de apresentação de projetos, pois acredita que o Brasil possui muitas leis, e que essas, em sua maioria, não são cumpridas.
Já Paulo Facó citou projetos de sua autoria. Dos quatro, Facó é o que tem participação mais tímida no Legislativo Estadual. “Você não tem muito acesso aos secretários. Há uma demora muito grande para nos atender e a gente perde muito tempo. Aqui na Assembleia, para você falar, precisa chegar de madrugada. Na Câmara, é mais democrático”, reclamou.