Que me desculpe o deputado, mas há pratos que são “exóticos” só porque têm nome em inglês, francês? No cardápio do Palácio só deve ficar o que for em português? Francamente, é “pobreza demais” para ocupar a atenção do Chefe do Governo. E tudo para satisfazer o deputado Heitor Férrer que achou altos demais os itens do cardápio oficial (para convidados, diga-se). Cid Gomes zangou-se e anunciou que vai mandar retirar todo e qualquer item com “nome exótico” das recepções, inclusive almoços e jantares.
Noutras palavras: na mesa oficial só entrará comida brasileira, mais precisamente cearense. Nada de lagosta, escargot, caviar, strogonoff e outras iguarias “especiais”.
Mesa oficial, diga-se, a montada para convidados “de fora”. Francamente, isto é demais. Pois eu digo: sou de famílias onde a hospitalidade inclui : o melhor prato da casa geralmente só era montado para visitantes. A última “penosa” do galinheiro ia para a panela: era do convidado.
Acredito que, com o deputado Heitor, de origem sertaneja e arigó (como eu) assim aconteceu: algumas iguarias talvez tenha conhecido apenas quando da visita de algum convidado ou parente especial, pois o “pão nosso de cada dia” era (e é) o mesmo : arroz, feijão, carne (e olhe lá), “malassada” ( será que alguns dos leitores sabem o que é este prato? Pois se trata de ovo batido com farinha e passado na frigideira.) Uma delícia... Mesa bem nordestina é feliz tendo, como sobremesa, rapadura ou doce feito em casa, terminando com uma xícara de café passado (no pano) na hora.
O cearense, por mais humilde que seja, recebe com honra, alegria e mesa gostosa, o seu convidado ou “chegante” de última hora.
O governador não pode negar as suas raízes: tenha a comida sempre preparada para visitantes, mas coma aquilo com que foi criado e, pelo que sei, sua mulher, descendente de libaneses, honra as tradições culinárias de seus antepassados, mesclando com o bom cozido nordestino, a paçoca pisada no pilão, a carneirada macia, a carne soltando do osso... Uma delícia.
Mas, quando chega o visitante, volto a dizer, mata-se a última “penosa”, o hóspede sai satisfeito (e com ele, a família da casa), prometendo (Deus nos acuda) voltar ...
Que o governador Cid mande abrir os cofres do Palácio e receba bem os seus convidados – oficiais ou não: honrar as tradições é marca registrada dos Ferreira Gomes. Da minha família, também e de todo “cabeça chata” que se preza.
PS: Qualquer dia vou chegar de surpresa na residência oficial e testemunhar: comida cearense está posta e só sentar e ... comer.
Adísia Sá
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