Insegurança? Que insegurança?
Quem assistiu à fala de Franscisco Bezerra, ontem, na Assembleia, certamente passou a ter muita vontade de se mudar para o Ceará desenhado pelo secretário. Porém, a dura realidade das nossas ruas é categórica. Que o digam os milhares de cidadãos que, em 13 de junho passado, foram ao asfalto com suas mãos espalmadas de sangue.
A forma como tudo se deu na Assembleia nos deixa ainda mais amedrontado. Com a faca nos dentes, o secretário falou longamente como se não houvesse um imenso clamor das ruas. Citou dezenas de números como se os números que importam não lhes fossem completamente adversos.
Com a faca nos dentes, o secretário falou no parlamento como se parlamentar fosse. Um parlamentar especial, com tempo especial disponível, sem cortes.
Já os outros, tinham três minutinhos para falar. Segundos a mais e o microfone era silenciado.
Diante da sugestão para que o secretário pedisse exoneração, Bezerra respondeu à Fernanda Pessoa que ela é quem deveria se “exonerar”. Numa democracia (graças por ainda vivermos numa), um deputado tem mandato popular. É eleito. Não se “exonera”.
Com tom extremamente autoritário, Bezerra se dirigiu a quem lhe fazia questionamentos com soberba e, às vezes, veia sarcástica. Quase mandando-os se calar em sua própria casa. Humilhante para os deputados que questionaram. Humilhante para o parlamento.
O que levou o secretário à Assembleia foi o imenso clamor que nasce de uma tragédia cotidiana. No entanto, alegou que estava ali para fazer uma espécie de prestação de contas. E tome números, contratações, compras, obras e reformas. Em tempos de seca brava, muita chuva no molhado.
Está tudo certo. Não há nada de errado com a segurança pública no Ceará. “O problema é a lei” da maioridade. O problema são as leis que dificultam a prisão de bandidos. O problema é da política,dos políticos que não as mudam. Pelo que disse o secretário, são os principais culpados pela situação que vivemos.
A culpa é dos outros. Talvez nossa, cidadãos. Talvez dos jornais que teimam em expor a gangrena. Foi isso que descobri ontem com a fala do secretário. A culpa é da sociedade, é da democracia e do conjunto de leis que construímos a duras penas. Se a coisa está ruim, a culpa não é das opções assumidas pela segurança pública.
Os índices de violência pioram a galope. Mata-se gente aqui como numa terrível guerra. Esgueirando-se pelas ruas, as pessoas estão assustadas. No entanto, está tudo muito bem com a pasta. A Secretaria da Segurança está no caminho certo. Tudo não passa de invenção dos inimigos políticos do Governo.
Fiquei preocupado com o que assisti. Nenhum lamento pelas mortes, pelas vítimas, pelas famílias. Nenhum lamento pelo cidadão amedrontado, pelos pequenos comerciantes que se fecham em grades, pelos grandes que gastam fortunas com segurança privada. Nenhum lamento pelos pais que sofrem cada vez que os filhos saem de casa.
Os números que o secretário não mostrou são os que mais importam. No caso, a evolução das estatísticas, as comparações com outros estados, os índices de resolução de crimes, principalmente os de homicídio. Mas isso não vem ao caso, não é mesmo? O que importa é que a delegacia é novinha em folha.