O maravilhoso Estado do doutor BezerraEm sua aguardada visita à Assembleia Legislativa, o secretário da Segurança Pública, coronel Francisco Bezerra, mandou um monte de recados para O POVO, sem citar o nome do veículo. Mostrou-se incapaz de autocrítica numa área em situação de descalabro. Só faltou dizer que inventamos aqui os números desastrosos que sua própria pasta divulga. E cobrou justiça na avaliação. Pois bem. No ano da eleição de Cid Gomes (PSB), em 2006, houve 1.791 homicídios no Estado, conforme o Subsistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Na segunda-feira passada, a secretaria do coronel Bezerra informou que foram 2.036 homicídios dolosos no primeiro semestre deste ano. Só nos primeiros seis meses de 2013, houve 245 assassinatos a mais no Ceará que nos 12 meses de 2006. Nesse intervalo, houve aumento de 4,7% da população. Já o número de assassinatos cresceu 13,6% na comparação entre aquele ano inteiro e a metade deste. O secretário se limita a falar o que fez, sem mergulhar na evidente falta de resultados das ações – o cerne do problema. Sua fala é assustadora, porque ele parece acreditar convictamente no que diz. O descolamento da realidade é mais apavorante que a criminalidade galopante. O Estado em que vive tem segurança de sonhos. Se for só discurso para a plateia, é o menor dos problemas. Mas se ele realmente estiver convencido de que a situação é boa, nem quero imaginar o que acha que é ruim. Infelizmente, diferentemente do que pensa o secretário, não é só nos jornais que está a crise, mas na sociedade cearense.
Quanto às reclamações dirigidas ao O POVO, ossos do ofício de quem tem mesmo o dever de incomodar. Morreria de vergonha, isso sim, se fôssemos elogiados pela autoridade responsável pelo fiasco por não apontar quão crítica é a situação da área que dirige.
A RAPIDEZ DOS NÚMEROSNesse particular sobre as estatísticas, a semana tem sido até bem alentadora na Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), faça-se justiça. Não tanto quanto aos resultados práticos, mas certamente em relação justamente à celeridade das informações. Coincidência ou não, depois da cobrança feita pelo O POVO - descabida, segundo Bezerra. Na própria segunda-feira, conforme a coluna apontou no dia seguinte, foi divulgada a queda de homicídios no segundo trimestre em relação ao primeiro. No entanto, por trás do resultado, conforme aqui destacado na terça, escondia-se que a queda, mesmo, havia sido em abril. Em maio e junho, houvera alta.
Na terça, foram divulgados os números de julho.
Nunca antes os números consolidados de um mês haviam sido divulgados tão rapidamente, nem se tinha notícia de estatísticas sobre dois meses saírem na mesma semana.
Que a celeridade se repita, para que não se constate que a pressa em consolidar os números foi estratégia para fabricar agenda positiva nas vésperas da visita do secretário à Assembleia.
De qualquer forma, é fato que os novos números mostram melhora em julho em relação aos dois meses anteriores, embora permaneça em patamar superior a abril. Trato desse particular mais aprofundadamente amanhã.