“O governador não pode terminar os seus dias de Governo como assassino do Cocó, mas sim como parceiro do Cocó”. Foi assim que a deputada Eliane Novais (PSB) leu a proposta do governador Cid Gomes (PSB) aos manifestantes que há mais de 20 dias acampam no Parque do Cocó em protesto a construção de dois viadutos entre as Avenidas Engenheiro Santana Júnior e Antônio Sales.
No fim da noite da última segunda-feira, Cid Gomes resolveu conversar com os manifestantes. Na ocasião, ele propôs a regulamentação do Parque, incorporando mais dois hectares de mangue e mais 10 vezes o espaço retirado de área verde, entre a faixa do anel viário e o Rio Cocó. Ou seja, legalizar o espaço. Reivindicação, até então, cobrada pelos ambientalistas. Em troca, Cid Gomes propôs a desocupação do local e, assim, o andamento da obra de responsabilidade da gestão municipal.
MOEDA DE TROCA
Segundo a parlamentar, Cid Gomes quis tratar o assunto como “moeda de troca” e, portanto, cobrou diálogo para solução do impasse, principalmente no que diz respeito à construção dos viadutos. Disse, ainda, não entender como o “próprio Estado faça o desmatamento e depois venha propor a legalização”. Para isso, a parlamentar solicitou a realização de audiência pública para que, de fato, técnicos do Estado e da Prefeitura discutam com a sociedade sobre o assunto. Ou seja, possam encontrar outra forma sustentável para o empreendimento.
Eliane Novais parabenizou o gesto do governador Cid Gomes. Contudo, lamentou 0 que chefe do Executivo estadual não tenha se disponibilizado para mediar um diálogo com o prefeito Roberto Cláudio, além de não ter garantido a utilização da força policial contra os manifestantes. “Ele pode atuar sim. O secretário de segurança é seu subordinado e nem isso foi garantido. Só temos que lamentar”, pontuou.
Já Roberto Mesquita (PV) afirmou que, a seu ver, a proposta de Cid Gomes “apequenou” a discussão, embora tenha sido um momento marcante. Ele, porém, parabenizou os manifestantes por não terem aceitado a proposta do governador.
AMBIENTE ANTAGÔNICOO líder do governo, deputado José Sarto (PSB), informou que o projeto dos viadutos remonta a época do então prefeito Juraci Magalhães, inclusive recepcionado pela gestão anterior [Luizianne Lins]. No que se refere à segurança pública, o parlamentar explicou que, “caso ocorra uma decisão judicial, o Governo do Estado não tem o que fazer”. Destacou, ainda, que “a disposição do governador em abrir o diálogo num ambiente antagônico politicamente”.
UNIDADE DE CONSERVAÇÃOPara João Jaime (PSDB), a questão é delicada. Isso porque, segundo o parlamentar, até o momento, nenhum governo teve o interesse de criar a unidade de conservação do Cocó e, hoje, só existe aquela área porque o então governador Tasso Jereissati apresentou um decreto para desapropriar o local. Por outro lado, do ponto de vista ambiental, o tucano opinou que o impacto causado pelo engarrafamento é maior que o impacto da construção dos viadutos.
NA CÂMARAO assunto da visita do governador Cid Gomes ao Parque do Cocó para conversar com os manifestantes também rendeu comentários na Câmara Municipal de Fortaleza. O vereador Carlos Mesquita elogiou a postura do governador, por ter ido conversar com as pessoas acampadas no Cocó, na tentativa de apresentar uma proposta que faça os jovens desocuparem o lugar.
Mesquita destacou a atitude do governador que, segundo ele, demonstrou seu espírito democrático, mas que infelizmente não é o que se percebe do outro lado. “Começo a entender que o que interessa para muitos é dar entrevista. Eles não querem acordo, não querem resolver nada, e ainda tem outros que vão lá para fazer política, para aparecer e provocar o prefeito”, afirmou Carlos Mesquita.
LAURA RAQUELDa Redação