A guerra não é só de palavras
Não fica só no palavreado – embora este abunde – a guerra do Governo do Estado contra entidades que representam policiais militares e bombeiros. O primeiro passo da nova estratégia de confronto foi encerrar as negociações referentes às reivindicações relativas à greve de 2012. Em seguida, conforme O POVO mostrou na quarta-feira, nove integrantes do movimento grevista do ano passado foram demitidos dos quadros da PM e dos bombeiros por participação em reunião em 3 de janeiro, aniversário de um ano da paralisação. Entre eles, o presidente da Associação dos Praças da Polícia e Bombeiros Militares (Aspramece), Pedro Queiroz. Também foi desligado, pela mesma razão, o presidente da Associação dos Profissionais de Segurança Pública do Ceará (Aprospec), Flávio Sabino. Os dois são os principais líderes do movimento, ao lado do vereador Capitão Wagner Sousa (PR). No meio disso tudo, houve a mal explicada saída do major Plauto de Lima do comando da Guarda Municipal de Fortaleza, a pedido do comando da Polícia, sob especulação de que teria relação com suposto apoio dele às reivindicações da categoria.
Há ações concretas entremeadas às duras palavras que vêm sendo proferidas. Primeiro veio a voz mais importante e – talvez por isso – mais diplomática: Cid Gomes (PSB). “Greve e motim de policiais é proibido, mas nós vamos acompanhar com mais vigilância”. Depois, Ciro Gomes. Explosivo. E não mais apenas como irmão e “bússola” do governador. O próprio Cid tornou público o pedido que fez para que “ajudasse” na segurança pública, embora não haja portaria de nomeação, cargo ou salário. Ontem, a deputada Patrícia Saboya (PDT) foi à tribuna chamar Capitão Wagner de “marginal”. Trata-se de muito mais que uma dentre vários parlamentares aliados. É alguém com relações políticas, pessoais e familiares com Cid e Ciro que remontam a décadas. Pode ser até que não se trata de estratégia comum, mas o fato é que são seguidos gestos, todos na mesma direção. Pode até não ser coordenada, mas a postura do governo nessa questão é ao menos coerente. O que cabe discutir é se está correta. Será mesmo o enfrentamento o melhor caminho para lidar com tropa que deu sinais de insubordinação há tão pouco tempo e de forma tão ampla? Por outro lado, haverá outro caminho para lidar com movimento que se insinuaria novamente à margem da lei? Seja qual for a resposta que se tenha para essas perguntas, é inequívoco que as várias manifestações que partem do entorno do núcleo palaciano só fazem sentido se estiverem dentro de estratégia alinhada entre eles. E, sobretudo, se for embasada em informações sólidas da inteligência. Caso seja na base do cada um por si, é uma temeridade.