A ex-senadora Marina Silva esteve, ontem, em Fortaleza, para reforçar a mobilização pela criação de um novo partido, o Rede Sustentabilidade. Para oficializar a legenda, é necessário colher cerca de 500 mil assinaturas em pelo menos em nove estados. Entretanto, em menos de dois meses e meio, a arrecadação bateu recorde, mobilizando 300 mil cidadãos.
Em Fortaleza, a sigla já conseguiu cerca de três mil assinantes, com a perspectiva de ainda colher 50 mil. Além da mobilização para fortificar a arrecadação de assinaturas, segundo ela, a sua vinda ao Ceará, assim como em outros estados, também tem a finalidade de reunir a militância e estimular os coletivos estaduais e municipais, fazendo discussões programáticas no campo das ideias.
Marina classificou como “oportunismo” a restrição ao acesso, pelos novos partidos políticos, ao tempo de propaganda eleitoral e gratuita e aos recursos financeiros do fundo partidário. “Por que é que as regras só valeram até a criação do partido do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD)?”, indagou. Para Marina, “isso fere o princípio da isonomia e da impessoalidade”, em virtude de que, “não pode fazer uma lei de encomenda para prejudicar um grupo ou uma pessoa”.
A ex-ministra relatou que muitas pessoas, mesmo sendo de diferentes partidos, estão fazendo um gesto democrático de reconhecer que é legítimo que se constitua uma força política que luta em prol do meio ambiente. “Quando o PV foi criado, nós, do PT, ajudamos a construí-lo. Eu sinto que esse movimento de solidariedade e respeito vem de todos os partidos e de pessoas como Pedro Simon, Cristóvão Buarque, Heitor Férrer e Eduardo Suplicy”.
Segundo ela, o esforço é “programático”, mas não no sentido de realizar um movimento para “arrebanhar” deputados e senadores. Para ela, as pessoas que estão se vinculando ao Rede são aquelas que têm identidade com o programa, com o estatuto e com a carta de princípio. “O nosso programa estabelece a sustentabilidade como eixo estratégico da nossa ação.
Entendo sustentabilidade, não o verde pelo verde, mas em um novo modelo de desenvolvimento que busca gerar prosperidade, melhoria da qualidade de vida das pessoas, com democracia, com respeito à adversidade, mas protegendo o meio ambiente”, disse.
Alianças e CamposSobre as futuras parcerias, reverberou que qualquer aliança na qual se coligar será feita sob o critério programático. “Os partidos, em si, em sua maioria, não dizem mais muita coisa. Para mim, as alianças programáticas não são só olhar para programa. É preciso olhar para as trajetórias das pessoas”.
Indagada sobre a eventual candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), à presidência da República, disse ser a favor que se tenha várias candidaturas, “para que se tenha a eleição de dois turnos”. Para ela, “só assim as pessoas podem discutir as propostas, e, no segundo turno, fazer os alinhamentos políticos e programáticos para definir quem será aquele que vai governar o País”.
Pragmatismo une apoiadores de MarinaA ex-senadora reuniu em torno do projeto da Rede Sustentabilidade, partido que tenta viabilizar para se candidatar à Presidência em 2014, uma teia que vai de Heloísa Helena, a fundadora do Psol a um aliado histórico do ex-governador José Serra (PSDB-SP). Além do discurso de que estão juntos para construir coletivamente a “nova política”, os principais apoiadores de Marina são movidos por causas individuais realistas.
Muitos deles já não gozam em seus partidos do prestígio de outrora ou travam batalhas perdidas contra líderes de suas siglas. O deputado Domingos Dutra, por exemplo, protesta em vão contra a aliança do PT com a família Sarney no Maranhão e, por isso, quer deixar a legenda.
Hoje vereadora em Maceió (AL), a ex-senadora Heloísa Helena, que em 2005 saiu do PT para criar o Psol, entregou a presidência do partido há três anos, após se desentender com a direção nacional. Ela queria que sua legenda apoiasse Marina, então no PV, à Presidência em 2010, mas foi derrotada. Integrante, como Dutra e Heloísa, da Executiva provisória da Rede, o deputado federal Walter Feldman chegou a anunciar sua saída do PSDB em 2011. Na ocasião, acusou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, por uma crise interna que levou seis vereadores da capital paulista a deixarem o partido.
Feldman, no entanto, voltou atrás e ficou no PSDB. No ano passado, foi um dos coordenadores da campanha de Serra à Prefeitura de São Paulo. Intermediou o apoio do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, ao tucano. As críticas do religioso a políticas contra a homofobia trouxeram danos à candidatura e Feldman acabou responsabilizado internamente.
Ele admite que a Rede não atrai “apenas os ideológicos, os doutrinários”, mas também quem está perdendo espaço em seus partidos. Mas diz que não se encaixa em nenhum dos grupos. “Sou um sonhático radical. Estou em busca de uma nova utopia.”
Rochana LyvianDa Redação