O inverso de Luizianne
Roberto Cláudio (PSB) conseguiu pelo menos um feito na montagem de seu secretariado: a qualificação está acima da média da aliança política que o elegeu. Pelo menos pelos currículos e pelo histórico, pois ainda não é possível saber como será o desempenho dos escolhidos na prática – muitos dos indicados são iniciantes em cargos públicos com essa projeção. Evitar que a contaminação política imponha nomes despreparados para a gestão é o grande desafio nessa etapa. Roberto Cláudio conseguiu fazer essa travessia com mais sucesso que Cid Gomes (PSB) ou Dilma Rousseff (PT), por exemplo. O perfil majoritariamente técnico não é certeza de que o secretariado terá qualidade. Pela natureza da função, é imprescindível traquejo político e diálogo com os aliados. Não basta ser um grande gerente. Mas o problema é quando os atributos do gestor param na política.
Em relação ao início da gestão Luizianne Lins (PT), há uma mudança particularmente marcante. Naquele momento, as Regionais foram usadas justamente para abrigar os partidos aliados. Uma para PCdoB, uma para PSB, uma para PV, uma para PT, uma para PDT e uma para PPS. Roberto Cláudio radicalizou no caminho inverso. Quatro de seus seis secretários regionais são engenheiros dos quadros do serviço público. Os outros dois têm passagens por funções técnicas na Assembleia Legislativa. A exceção é na Regional do Centro que, pelo perfil particular, foi entregue ao empresário Régis Dias. Como com tudo mais, não se sabe se dará certo. O que é certeza é que, há oito anos, aquela opção de Luizianne teve relação com muito dos problemas posteriores. A prefeita não confiava em muitos dos indicados pelos partidos e dava autonomia restrita a eles. As amarras – quando não falta de jeito – do pessoal que estava na ponta da execução das ações urbanas provocaram ineficiência. Já o prefeito eleito coloca gente já entranhada com a burocracia da máquina. A expectativa é de eficiência na ponta. A conferir. A FORÇA POLÍTICA DO SECRETARIADOHá muita gente técnica no secretariado, mas há também nomes fortes politicamente. Alguns fortíssimos. É o caso de Eudoro Santana (do Iplanfor), ex-deputado, ex-diretor do Dnocs, coordenador da transição e homem que se tornou muito próximo dos Ferreira Gomes e, especificamente, de Roberto Cláudio. O vereador Salmito Filho (Turismo) é outro personagem de peso político. Sobretudo depois da montagem da chapa de Walter Cavalcante (PMDB) para presidir a Câmara Municipal, que teve nele o principal articulador. Há também Domingos Neto (PSB), que foi o deputado federal mais votado do Ceará na última eleição. Além de dirigentes ou ex-dirigentes partidários, que, evidentemente, têm influência em seus partidos: Karlo Kardozo (PSB), Robinson de Castro (DEM) e Márcio Lopes (PDT). Outros quadros com militância partidária são a vereadora Eliana Gomes (PCdoB), com histórico de atuação na área habitacional, e o empresário Régis Dias (PP). E, evidentemente, Ivo Gomes (PSB). Por cinco anos e meio, ele foi o secretário mais importante do irmão Cid Gomes e, possivelmente, o segundo homem mais importante da política cearense. Ivo conhece a área de educação e tem história nesse setor. Ao aceitar ser secretário, assume responsabilidade enorme. Como foi o maior crítico desse setor no Município, não tem margem para errar. Mas o problema pode ser, justamente, seu tamanho político. Ivo tem tal dimensão que é mais forte que a secretária estadual Izolda Cela – que sempre se reportou a ele no Estado. O peso da imagem dele chega a rivalizar com a do próprio prefeito eleito. Tanto que ambos chegaram juntos ontem ao anúncio do secretariado. Seria bem difícil para Roberto Cláudio, eventualmente, ter de demitir Ivo Gomes. Seria crise em potencial.