Urbanismo apenas rima com amadorismo
São constantes em meus artigos, desde os tempos de Coluna Política, críticas à inexistência ou à pobreza do debate em torno dos prementes temas relacionados ao planejamento urbano em Fortaleza. Mais ainda durante as campanhas eleitorais.
Na última campanha, por exemplo, a questão permaneceu intocada. Se considerarmos o 6 de julho como a data de abertura oficial da campanha eleitoral, foram mais de cem dias de debates sem que essa importante questão fosse abordada por nossos diletos candidatos.
Há anos que a cidade de São Paulo rompeu com esse lugar comum. Não foi à toa que a Capital paulista colocou na ordem do dia temas como a despoluição visual, a ordem e o desenvolvimento urbano.
Não foi à toa que a campanha pela Prefeitura de lá colocou na linha de frente o debate acerca do planejamento urbano. A começar pelo candidato vitorioso, Fernando Haddad (PT), que teve como carro chefe de suas propostas um projeto denominado “Arco do Futuro”, que foi seguidamente detalhado nos debates e propagandas eleitorais.
Trata-se de um projeto de desenvolvimento que rompe com um modelo urbano que já chegou aos 80 anos. Portanto, ultrapassado pelas novas circunstâncias urbanas. Um modelo implantado pelo prefeito Prestes Maia, o urbanista que desenhou São Paulo dividindo-a em cidade-dormitório e área de trabalho.
“Nunca ninguém apresentou uma proposta de redesenho urbano como estamos apresentando. É a primeira vez que rompemos com o paradigma de Prestes Maia”, dizia Haddad durante a campanha.
Em Fortaleza, não se sabe o que o prefeito eleito, Roberto Cláudio (PSB), pensa do desenho urbano de Fortaleza. Será que pretende fazer reformas no desenho urbano da cidade? Na forma como o cotidiano urbano da cidade funciona? Se sim, qual? É uma incógnita.
Voltemos a São Paulo. Depois da proposta de replanejamento urbano, Haddad precisaria dar sequência à sua ideia nomeando um secretário capaz de tocar o projeto que, sim, é ambicioso e deve custar R$ 20 bilhões. E aí surge a boa notícia: a escolha deve recair sobre um respeitado arquiteto e urbanista.
O nome a ser oficializado: Fernando de Mello Franco. Currículo: arquiteto (1986) e doutor (2005) formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Professor do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade São Judas Tadeu e professor visitante do curso de pós-graduação “latu sensu” da Universidade Mackenzie.
Também foi professor no Curso de Arquitetura da EESC USP (1992-2005).
Professor visitante do curso de mestrado na Harvard Graduate School of Design (2009). Essa experiência resultou na publicação do livro “Operações Táticas na cidade informal”. O arquiteto é sócio de um dos mais respeitados escritórios que atuam na área.
Perceberam? Respeitabilidade técnica e acadêmica. Urbanismo não é lugar para ações instintivas. Não é lugar para amadores. O desenho da cidade não pode ser coisa da cabeça de um gestor, de um político.
Fortaleza precisa repensar seu desenho urbano. Precisa ser profissionalmente planejada para as próximas décadas. Nem o prefeito e muito menos o governador podem interferir em Fortaleza sem que se respeite um projeto de cidade bem discutido e tecnicamente pensado por quem muito entende e tem larga experiência no assunto.