Os primeiros sinais
Ainda na noite de domingo da vitória, no dia 28, as primeiras declarações do prefeito eleito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PSB), deixavam claro o estilo do novo gestor. Para além do “prefeito de todos”, como se espera de quem é escolhido em um processo de disputa tão acirrada, o futuro chefe do Executivo da Capital procurou anular toda e qualquer tentativa de revanchismo contra os derrotados. Equilibrados, os discursos de RC desde então mandaram, no conjunto, um recado claro: a campanha ficou para trás. O que foi feito ou dito pertence ao campo eleitoral. É hora de preparar o terreno para governar. Todos quantos fazem política sabem que não cabe a quem chega ao poder a tarefa de criar, estimular ou subsidiar a oposição. Estas funções cabem a quem perdeu o jogo. Nesse sentido, a postura do prefeito do PSB tem outro componente, igualmente relevante. Verbaliza o sentimento que as urnas consagraram. A última campanha teve a marca da escolha entre dois modelos políticos. O que propunha um alinhamento entre a Prefeitura de Fortaleza e o Governo do Estado, representado pelo governador Cid Gomes/RC, e o que defendia um clima de tensão e concorrência entre os dois níveis de governo, representado por Luizianne Lins/Elmano de Freitas. Venceu o primeiro. Nas primeiras manifestações depois da totalização dos votos, o discurso “paz e amor” de Roberto Cláudio capitalizou a tônica dessa parceria. Curiosamente, também foi um antídoto antecipado à maneira raivosa e professoral de fazer oposição, como já apregoa o PT ligado aos vencidos.
O FUTURO DE LUIZIANNENa pré-campanha, quando Cid e Luizianne ainda eram aliados, havia uma preocupação no Palácio da Abolição para que, na hipótese de rompimento na Capital, PSB e PT, enquanto forças atuantes em todo o Ceará, continuassem lado a lado. Depois que chegou ao Governo do Estado, em 2006, o governador trilhou as instâncias partidárias, rumo à presidência estadual de seu partido. A prefeita de Fortaleza fez o mesmo, em relação ao PT. Estavam criadas, ali, as condições político-institucionais de equilíbrio entre ambos. Governador e presidente do PSB-CE de um lado, prefeita e presidente do PT-CE do outro. Agora, derrotada nas urnas, a petista perde parte considerável de seu poder de fogo. Daqui a algumas semanas, será ex-prefeita. Num movimento de precipitação do fim do outro núcleo de poder de Luizianne, o PT, Cid disse que não mais dialogaria com o partido, enquanto ela o presidir. Estão dadas as condições para um processo de isolamento interno de Luizianne no PT.
Os primeiros movimentos nesse sentido já surgem no horizonte: a presidência da Câmara Municipal de Fortaleza. Dificilmente, Luizianne conseguirá montar uma trincheira de resistência para o comando da Casa não ficar na órbita do prefeito eleito. Na Assembleia Legislativa, a batalha para levar o partido para a oposição será mais árdua ainda. Com que discurso deputados-secretários empunharão tais bandeiras? Pelo contrário, não será de assustar se surgirem nomes para o comando do PT menos hostil ao governo Cid.
ALIANÇA E ORÇAMENTOVem aí a batalha em torno dos orçamentos do ano que vem. Será o primeiro teste do PT estadual em relação ao Palácio da Abolição. Na Assembleia, redutos eleitorais esperam, sedentos, pelas famosas verbas parlamentares. É sempre oportuno lembrar que o sucesso nas disputas municipais deste ano, aliado a assistência a projetos de prefeituras, é a fórmula mágica de sobrevivência política para daqui a dois anos. Em outras palavras, dificilmente, sem um desses dois componentes, deputados terão fôlego na disputa estadual de 2014. Perceberam que os parlamentares com discursos mais combativos são o federal Eudes Xavier e Antonio Carlos, os dois mais ligados a Luizianne? Pois é... No plano federal, a corrida atrás de verbas é quase a mesma. Com a diferença de que se trata de um orça