Pela primeira vez, em mais de duas décadas, Fortaleza elege um prefeito do mesmo grupo político do governador do Ceará. A situação não se repetia desde 1988, quando as urnas consagraram a primeira - e única - hegemonia da Geração Cambeba, de Ciro Gomes e do então governador Tasso Jereissati, ambos então no PMDB. O prefeito eleito Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra (PSB), 37, dá novos ares à supremacia dos Ferreira Gomes no Ceará e será o 69º prefeito de Fortaleza desde o Império, e o 82º a assumir o cargo - contando os gestores que assumiram mais de uma vez. Em sua primeira eleição majoritária, Roberto Cláudio enfrentou numerosos desafios. Candidato de vida pública curtíssima, o socialista se elege prefeito sete anos após trocar os bancos da academia pela tribuna da Assembleia. Foram apenas dois mandatos como deputado estadual, um deles incompleto.
Outro percalço foi romper a barreira do anonimato. O então candidato do PSB era um desconhecido diante de nomes consagrados entre o eleitorado fortalezense, como Moroni Torgan (DEM) e Inácio Arruda (PCdoB). O anonimato pesou, e o candidato alcançou desempenhos pífios nas primeiras pesquisas de opinião.
Prefeito de desafios, mas também de muitos amigos. Dono de arco de alianças quatro vezes maior que o do PT – com 20 partidos –, Roberto Cláudio contou com o apoio decisivo do governador Cid Gomes (PSB). Passado o primeiro turno, conseguiu engrossar fileiras com o apoio de quatro dos dez candidatos que derrotou.
A força econômica também foi determinante na eleição de Roberto Cláudio. Em campanha que bateu recorde de presença nas ruas e de autuações pela Justiça Eleitoral, o PSB conseguiu arrecadar, apenas nos dois primeiros meses de candidatura, mais de R$ 5,2 milhões, segundo dados da prestação parcial de contas no Tribunal Superior Eleitoral.
Com a bênção de Cid Gomes, obteve ontem, no 2º turno, 650.607 votos de confiança. Agora, terá na figura do governador um parceiro que deve guiar o estilo da administração municipal pelos próximos quatro anos. TrajetóriaMédico com PhD em Saúde Pública pela Universidade de Arizona (EUA), sob influência da família, trocou o jaleco pelo paletó com apenas oito meses de atuação profissional. Eleito em 2006 pelo então nanico PHS com pouco mais de 20 mil votos, se aproximou do governo Cid Gomes e viu o crescimento no meio político “cair em seu colo”. No mesmo mandato, assumiu posição de vice-líder do governo na Assembleia. Alegando divergências políticas, migrou para o PSB em 2009 e, candidato à reeleição em 2010, conseguiu o triplo dos votos de sua primeira eleição: mais de 60 mil.
Colher os lourosEntre os desentendimentos que cercaram o PSB nos últimos anos, se notabilizou como “regra três” em momentos de divergência. Em 2011, quando se reelegeu, correu por fora na disputa entre os correligionários Zezinho Albuquerque e Wellington Landim pela presidência da Assembleia. Beneficiado pelo impasse entre as duas candidaturas, foi o escolhido do governador Cid Gomes e venceu por unanimidade o pleito para chefiar o Legislativo. Tudo sem contabilizar bancadas, traçar acordos políticos ou promover reuniões, de forma inédita naquela Casa.
Aliados, apoio da máquina estadual e poderio econômico fizeram o candidato. Agora, consagrado nas urnas, é hora de colher os louros.