Depois que o DEM lançou oficialmente o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), como pré-candidato ao Palácio do Planalto, cresce a incerteza sobre a permanência do partido na base do governador Camilo Santana (PT). A necessidade de formação de palanque local para Maia poderá desfazer a união selada entre os dois partidos no Estado.
Conforme quadros do Democratas ouvidos pelo O POVO, a definição ainda carece de acertos com o Diretório Nacional e é uma decisão “futura”. A situação amplia, ainda mais, o clima de indefinição.Nacionalmente, com as duas siglas em campos diametralmente opostos, a união entre PT e DEM no Ceará é exceção. Apenas dois estados (Paraíba e Maranhão) repetem a aliança que se vê aqui. No contexto estadual, a união ganhou contornos mais fortes nas eleições de 2016 quando Camilo apoiou a reeleição de Roberto Cláudio (PDT) e elegeu Moroni Torgan como vice-prefeito.
"Essa questão da coligação ainda está longe. O nosso apoio é o Camilo, mas como isso vai ficar..."
JOÃO JAIME (DEM) deputado estadual
A incerteza sobre a permanência do DEM cresce também desde que o deputado federal Danilo Forte passou a sinalizar afastamento da base. O parlamentar tinha bom trânsito no Palácio da Abolição até bem pouco tempo, auxiliando na liberação de recursos federais. Forte chegou até a indicar o atual secretário das Cidades, Jesualdo Farias. No entanto, após a crise de segurança pública, o deputado tem defendido a intervenção federal no Ceará, nos moldes do Rio de Janeiro, o que contradiz o discurso dos aliados de Camilo tanto no Congresso quanto na Assembleia.
De acordo com Danilo, os rumos do partido ainda precisam ser debatidos. “O Camilo vai apoiar o Rodrigo Maia? Aí fica difícil. Temos que conversar com as forças que estão no centro, no campo do diálogo, para quebrar essa polarização que há no Brasil”, sugeriu o parlamentar, dizendo que ainda não foi convidado para nenhuma conversa com a direção do partido sobre o assunto.
Para o deputado estadual João Jaime, único da base do DEM na AL, o “desejo de apoiar Camilo” não impede que se tenha um candidato à Presidência, mas reconhece que ainda falta afinar essa ideia dentro do partido.
“Essa questão da coligação ainda está longe. O nosso apoio é o Camilo, mas como isso vai ficar... O próprio governador tem problema com o PDT e o PT, isso é algo lá pra frente”, afirma.
Mesmo defendendo a manutenção da sigla na base de Camilo, o presidente municipal do DEM, Robinson de Castro, ainda tem dúvidas sobre como o partido vai se comportar. “A conjuntura nacional vai dizer muita coisa”, disse classificando a situação como “um tanto quanto confusa”.
Ao O POVO, o ex-presidente nacional do DEM, José Agripino, disse que “absolutamente nada” foi discutido internamente ainda. A reportagem também buscou contato com o presidente estadual da sigla, Chiquinho Feitosa, mas as ligações não foram atendidas.
NACIONAL
MUDANÇAS NO DEM
O DEM lançou a pré-candidatura de Rodrigo Maia na última semana em convenção nacional do partido. A proposta era passar ideia de "refundação" do partido.
Nesse contexto, a executiva nacional também foi reformulada. José Agripino deixou a presidência da sigla para assumir ACM Neto.
A proposta do partido também é dar uma guinada ao centro, abandonando a roupagem que a legenda mantém desde o extinto PFL.
LETÍCIA ALVES | RÔMULO COSTA