ATA DO SEMINÁRIO DE INICIATIVA DA COMISSÃO DE INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA, PARA A REALIZAÇÃO DEBATER O TEMA: ‘QUEM CALA, CONSENTE’, REALIZADA NO DIA 13 DE ABRIL DE 2012, NA AABB, NA CIDADE DE SENADOR POMPEU-CE.
SR. CERIMONIALISTA GLEILSON MENDES: Bom dia, senhoras e senhores.
A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, através da Comissão da Infância e da Adolescência, tem a honra de realizar aqui em Senador Pompeu, o 16º Seminário Regional da Campanha “Quem Cala, Consente – Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes é Crime, numa parceria com a 14ª Crede e com a Secretaria Estadual de Educação.
A iniciativa tem como objetivo sensibilizar e conscientizar a sociedade cearense para o combate ao abuso e exploração sexual infanto-juvenil.
Além de Senador Pompeu, este seminário recebe representantes dos municípios: Deputado Irapuan Pinheiro, Milhã, Mombaça, Pedra Branca, Solonópole e Piquet Carneiro.
O ciclo de seminários regionais está percorrendo as principais regiões do Ceará, reunindo representantes dos 184 municípios cearenses. Até junho de 2012 a campanha “Quem Cala, Consente” percorrerá vinte municípios onde estão localizados as Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação – Crede.
Desde já, a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, na pessoa da Presidente da Comissão da Infância e Adolescência, Deputada Estadual Bethrose, agradece à 14ª Crede de Senador Pompeu e à Secretaria Estadual da Educação pelo apoio.
Para compor a Mesa de abertura do seminário “Quem Cala, Consente”, convidamos as personalidades:
-Deputada Estadual Bethrose, Presidente da Comissão da Infância e Adolescência (aplausos);
-Senhora Cleide Esteves Nunes, Secretária da Ação Social de Senador Pompeu (aplausos);
-Professora Maria Erenice dos Santos Barros, Coordenadora da 14ª Crede de Senador Pompeu (aplausos);
-Dra. Candice Lucena, Promotora de Justiça de Senador Pompeu, representando os prefeitos da região (aplausos);
-Maria Rizoleta Moreira, Vice-Prefeita do município Deputado Irapuan Pinheiro (aplausos);
-Senhora Orimar Lemos, Secretária de Educação de Senador Pompeu (aplausos);
-Senhora Vera Lúcia Bezerra, Conselheira Tutelar de Solonópole (aplausos);
-Geomarcia Pinheiro, Presidente de CMDCA de Milhã (aplausos).
Convidamos a todos para a execução do Hino Nacional.
(Hino Nacional – aplausos)
Para fazer abertura do seminário, convidamos para fazer uso da palavra a Deputada Estadual Bethrose, Presidente da Comissão da Infância e da Adolescência da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. (Aplausos).
SRA. PRESIDENTE DEPUTADA BETHROSE (PRP): Bom dia a todos e a todas.
Cumprimentar os componentes da Mesa, a senhora Cleide Esteves, Secretária de Ação Social do município de Solonópole; Erenice, Coordenadora da Crede de Senador Pompeu, e agradecer de todo coração o apoio que a gente está recebendo, por mobilizar os municípios coordenados por esta Crede. Muito obrigada.
Cumprimentar os prefeitos da região, a Vice-Prefeita do município Deputado Irapuan Pinheiro, a senhora Maria Rizoleta, muito obrigada pela sua presença; Orimar, Secretária de Educação de Senador Pompeu; senhora Vera Lúcia, Conselheira Tutelar de Formosa; Geomarcia Pinheiro, Presidente do CMDCA de Milhã; Dra. Candice Lucena, Promotora de Justiça, muito bem representado aqui o Ministério Público Estadual.
Gostaria de convidar para a Mesa a Secretária de Ação Social de Senador Pompeu, Antônia Geovânia (aplausos). Cumprimentar todos os representantes do município do Deputado Irapuan Pinheiro, Mombaça, Pedra Branca, Milhã, Solonópole, Piquet Carneiro, sejam todos bem-vindos.
Um especial cumprimento a todos os Conselheiros Tutelares que estão aqui presentes. Conselheiros de Direito da Criança e do Adolescente, Agentes de Saúde, Assistentes Sociais, Gestores da Educação, Gestores da Saúde, principalmente o grande público: os alunos que fazem parte da rede estadual serão figuras muito importantes nesta campanha, a de realizar o Plano de Ação Estratégia em cada escola. Muito obrigada.
Gostaria que fosse dada uma salva de palmas especial para estes alunos. (Aplausos).
Falar um pouco para vocês o que é este seminário. Ele faz parte de uma ação da Comissão da Infância e da Adolescência. Eu estou como Presidente, e como membro titular: Vice-Presidente é a Deputada Fernanda Pessoa; Deputada Patrícia Sabóia, Deputada Eliane Novaes e Deputada Inês Arruda.
Nos primeiros trabalhos da Comissão resolvemos não levantar esta questão no dia 18 de maio, que é o Dia Nacional do Enfrentamento ao Combate à Violência Sexual Contra a Criança e o Adolescente, mas com essa campanha: “Quem Cala, Consente - Violência Sexual Contra a Criança e o Adolescente é Crime. Decidimos fazer o seminário em todas as regiões do Estado do Ceará, e escolhemos os municípios que têm Crede seria o local onde ocorreria este seminário, e assim mobilizar os 184 municípios, mobilizar a sociedade para alertar quanto ao combate a este crime.
Um dos objetivos maiores deste seminário é exatamente informar principalmente à família, à escola e à comunidade, e uma maneira melhor para prevenir é exatamente informar este tema tão difícil, com tanta complexidade de ser abordado, e tem que ter uma qualificação.
Este seminário tem como objetivo formar multiplicadores para combater esta prática abominável.
Hoje é o 15º seminário. Nós vamos conseguir terminar todo seminário no mês de maio, e foi uma aceitação muito boa, Iniciamos no município de Itapipoca, a Crede mobilizou quinze municípios para receber a informação sobre este tipo de crime. Estivemos em Acaraú, Camocim, Tianguá, Canindé Baturité, Jaguaribe, Horizonte, Juazeiro, Crato, Brejo Santos e hoje estamos aqui. Ontem estivemos em Iguatu.
Nós conseguimos fazer isso, graças a Deus e ao apoio do nosso Presidente Roberto Cláudio, que está nos acompanhando, e nos deu a chance de acompanhar com esta Banda maravilhosa que é a Quarto Nove e a palestra da Dra. Helena Damasceno, é escritora e psicóloga, escreveu o livro “Pele de Cristal”, e será a nossa palestrante, ela vai explicar exatamente como identificar, como combater e denunciar este tipo de crime. Ela foi vítima de abuso em uma época antes dos anos 1990, ainda não tinha o Estatuto da Criança e do Adolescente, num período difícil, não tinha a quem recorrer. Hoje nós já temos o nosso Estatuto, o Conselho Tutelar.
O principal objetivo é sairmos daqui fortalecidos, principalmente sabendo de que têm certos fatores físicos e comportamentais que a família precisa saber, a escola tem que saber, para identificar o agressor e, o mais importante: denunciar. É tão simples denunciar, basta discar o número 100, a ligação é totalmente gratuita. Este número faz parte do Disque Denúncia Nacional, a sede fica em Brasília, mas pode ligar de qualquer lugar do Estado do Ceará. Funciona das 8 horas às 22 horas; funciona sábado, domingo e feriado também. Na hora em que você liga, um agente atende e você faz a denúncia, sem se identificar. Uma equipe entrará em contato com o Conselho Tutelar de sua cidade. A porta principal é o Conselho Tutelar, e leva a questão para o CREA de sua cidade, se não tiver, leva para o CREA Regional. Daí começa a investigação no Ministério Público Estadual.
É muito importante essa denúncia. Esse tipo de prática é um fenômeno muito complexo de poder falar, porque o diagnóstico só dá para saber através da denúncia. E é preciso elaborar políticas públicas em defesa dessa causa; e nós temos que fazer mesmo, todos nós, eu que sou mãe, já fui professora. Todos nós, juntos, podemos combater esse tipo de crime, principalmente o abuso sexual, onde a criança é para ser protegida dentro da sua casa, e onde ocorre mais esse tipo de crime, porque é uma pessoa que a família menos espera. Fica difícil até para poder denunciar, porque a mãe nunca espera que uma pessoa tão próxima dela, que ama tanto e admira, cometa violência com a sua criança. Geralmente é o pai biológico ou o padrasto, ou uma pessoa de confiança, um vizinho, alguém próximo; pode ser uma pessoa que tenha um convívio bom com a sociedade e nem desconfia. E a criança fica desprotegida. Então não dá mais para calar e aceitar esse tipo de crime; todos ficam constrangidos só quando aparece na TV uma criança de seis anos que foi abusada pelo próprio pai, pelo primo, uma pessoa muito próxima.
Então nada como prevenir os pais e ficarem alertas para combater esse tipo de crime, principalmente porque existem os sinais físicos. A escola, a comunidade e principalmente a família têm que ficarem alertas e observarem as roupas rasgadas e com manchas de sangue; hemorragia vaginal ou retal; secreção vaginal ou peniana; infecção urinária; dificuldade para caminhar; gravidez precoce; queixas constantes de gastrite e dor pélvica; dor na bacia; hematomas, edemas e escoriações na região genital e mamária; doenças sexualmente transmissíveis.
Os indicadores do comportamento. Muitas vezes o comportamento da criança pode indicar se ela está vivenciando uma situação de violência, como: mudança brusca de comportamento de humor; ou a criança come demais ou não quer comer; apetite e agressividade; sono perturbado; timidez em excesso; tristeza ou choro sem causa aparente; medo de ficar sozinha com alguém ou em algum lugar; baixa autoestima; estado de alerta constante; dificuldade de concentração; dificuldade de adaptar-se à escola e também baixo rendimento na escola; aversão ao contato físico, ou seja, a criança rejeita qualquer toque físico; fuga de casa; comportamento incompatível com a idade; regressão nesse comportamento, por exemplo, se ela tiver doze anos, fica como se tivesse oito, dez, agindo como criança.
Esse conjunto de dados, tanto de comportamento como físico, a escola, a família e todos nós que fazemos parte da sociedade, da comunidade, temos obrigação de ficarmos atentos a isso, porque nós temos o dever de proteger as crianças.
Qualquer suspeita, nós temos que denunciar. O mais importante é acreditar na criança, acreditar no adolescente, ouvi-los.
Eu acho que com essa mobilização, e a gente conseguindo fazer esse Plano de Ação conseguiremos êxito, são dez passos, mas hoje só faremos dois passos.
Deixo aqui o apelo da Comissão da Infância e da Adolescência da Assembleia, em nome de todas as deputadas e do Presidente Roberto Cláudio, que façamos realmente esse Plano de Ação.
Muito obrigada a todos vocês por terem vindo participar deste seminário. Bom dia a todos, e bom seminário. (Aplausos).
SR. CERIMONIALISTA GLEILSON MENDES: Convidamos agora para fazer uso da palavra a Coordenadora da 14ª Crede de Senador Pompeu, a professora Maria Erenice de Santos Barros. (Aplausos).
SRA. MARIA ERENICE DOS SANTOS BARROS: Bom dia a todos. Gostaria de saudar os nossos alunos que estão com a missão de absorver esse pontapé inicial, porque aqui é só o início, vai ter uma longa jornada pela frente.
Saudar o pioneirismo dos gestores e professores que acreditam na postura do tema trazidos até aqui, e fazer com que esse trabalho seja disseminado junto à escola.
A gente tem protagonismo juvenil que trata disso. A 14ª Crede tem o objetivo de vivenciar os conselhos escolares bem como os grêmios estudantis. E vocês são os protagonistas dessa história. Essa tarefa é pioneira diante dos nossos trabalhos. Dizer que todo o empenho, o entusiasmo para que este momento esteja acontecendo, eu agradeço diretamente a toda a equipe da 14ª Crede que teve à frente o empenho e a garra da Professora Helena. A todos vocês um bom seminário e um bom-dia. (Aplausos).
SR. CERIMONIALISTA GLEILSON MENDES: Convidamos para fazer uso da palavra a Dra. Candice Lucena, Promotora de Justiça de Senador Pompeu.
SRA. CANDICE LUCENA: Bom dia a todos.
Gostaria de cumprimentar os componentes da Mesa através da pessoa da Deputada Bethrose; cumprimentar a todos os presentes, aos adolescentes, aos estudantes.
Gostaria de parabenizar os idealizadores, organizadores da campanha e também os participantes, por este momento que nós estamos vivendo, o de combater e de conscientizar a população sobre a violência contra as crianças e adolescentes. Dessa forma, estimular as pessoas a denunciar essa barbaridade que, muitas vezes acontece dentro da própria residência; na maioria das vezes as violências, os atos abusivos e de exploração sexual contra crianças acontecem dentro da residência e praticadas por pessoas próximas: vizinhos ou familiares. O explorador, na maioria das vezes, não é uma pessoa de fora, geralmente é uma pessoa que convive com esta vítima, criança ou adolescente.
O Ministério Público está aqui para ajudar e para ouvir. As denúncias podem ser feitas no Conselho Tutelar, nas Delegacias Especializadas, e nos municípios onde não tem a Delegacia Especializadas da Criança e do Adolescente, que é o caso de Senador Pompeu, pode ser feitas denúncias na Delegacia Regional do município. O Disque-100 é um instrumento de grande importância e as denúncias podem ser feitas de forma anônima, não precisa se identificar. Essas denúncias são ao Conselho Tutelar, e após, fará um relatório; fará uma visita na casa dessa criança ou desse adolescente, e averiguará o suposto explorador ou abusador. O Conselho Tutelar repassa junto ao Ministério Público, e em ficando constatado o abuso ou a exploração, o Promotor de Justiça requisitará a instauração do inquérito policial.
Quanto à parte psicológica da criança, faz-se um encaminhamento a um tratamento psicológico ou assistencial, tanto a criança quanto a família.
A violência sexual consiste em dois atos, tanto o abuso como a exploração. São coisas diferentes. O abuso consiste em qualquer ato sexual feito com a criança ou adolescente que seja violência, coação, alguma espécie de relação de dominação de poder com essa criança. A exploração já é diferente. É a utilização da criança e do adolescente para a utilização sexual, para fins comerciais ou de lucro.
É preciso ter em mente que o explorador não é só aquela pessoa que paga por um serviço sexual de uma criança e de um adolescente, mas sim aquela pessoa negligente, até um familiar, quer dizer, negligência; sabe do que está acontecendo e não toma as atitudes cabíveis, como um pai, um tio, uma mãe e, às vezes, sabe o que está havendo e não procura ajuda. A pessoa também que induz a criança facilita a situação de colocar a criança e o adolescente numa forma de exploração, também é uma atitude criminosa. É preciso tratar esse caso com acompanhamento social, mas também constitui crime.
É importante que as pessoas tenham em mente que, às vezes, o que ocorre com um adolescente, mas um adolescente de treze anos, que espere a reação de uma pessoa, mas a lei não permite, é caso de estupro vulnerável, está previsto no Código Penal este crime, e é para qualquer ato sexual contra pessoa menor de quatorze anos. Não precisa ter a relação sexual em si, basta um ato sexual, até carícia, até coisa simples que a gente não imagina que possa configurar um estupro de vulnerável e que configura, tendo prova, esta pessoa poderá ser punida.
Quem quiser algum esclarecimento pode procurar o Conselho Tutelar que está tendo uma parceria muito grande com o Ministério Público; nós estamos trabalhando juntos aqui a favor da sociedade e, especialmente, protegendo as crianças e adolescentes.
Eu gostaria de parabenizar a organização do evento, e agradecer pelo convite que me foi feito para participar deste seminário. Obrigada. (Aplausos).
SR. CERIMONIALISTA GLEILSON MENDES: Convidamos para fazer uso da palavra a representante dos prefeitos da região, a vice-prefeita do município de Deputado Irapuan, Maria Rizoleta Moreira. (Aplausos).
SRA. MARIA RIZOLETA MOREIRA: Quero cumprimentar os componentes da Mesa nas pessoas das autoridades da Promotora de Justiça e da Deputada Estadual Bethrose; cumprimentar vocês que estão representando todos os municípios da região que aqui foram citados; os adolescentes, os estudantes.
Parabenizar por esta atitude da Comissão da Assembleia Legislativa, porque sabemos da grande importância desta campanha. Hoje no Estado do Ceará tem 155 municípios trabalhando a questão do Selo Unicef, digo isso porque sou articuladora municipal do município de Irapuan Pinheiro. A gente vê a preocupação dos municípios com o que se refere à criança e ao adolescente. É um trabalho que vai em busca de melhoria das políticas públicas voltadas para a criança e o adolescente.
Mas esta campanha vem realmente ao encontro a este trabalho realizado com os municípios. Sabemos que o objetivo dos municípios não é só de conquistar a edição do Selo Unicef. O maior objetivo dos administradores, dos Conselhos Tutelares, dos Conselhos de Direitos, enfim, dos gestores, é ter as políticas públicas voltadas para as crianças e os adolescentes sendo trabalhado da melhor forma possível; e essa prática do abuso sexual contra criança e adolescente está inserido neste trabalho. É um trabalho que todos têm se preocupado muito.
Repito, parabenizo por esta atitude, porque vem de encontro ao nosso trabalho, com isso poderá até despertar bem mais para melhorar as políticas públicas.
Eu fico com a questão das escolas. É de fundamental importância que seja inserido realmente até no currículo escolar, para que isso seja trabalhado dentro das escolas. Como as escolas já fazem esse trabalho belíssimo, procura trazer as famílias para dentro das escolas, porque esse é um trabalho feito com toda a sociedade e a família, já que a família é à base da sociedade; se a família está bem, a sociedade está bem. É preciso conscientizar as famílias desses fatos e assim, cada vez mais, termos dias melhores, termos políticas públicas melhores para a criança e o adolescente.
No final da minha palavra, quero justificar a ausência do prefeito de Irapuan Pinheiro, por motivo de força maior não pode estar aqui, mas estamos nós e a nossa equipe, aliás, peço que ela fique de pé, estamos representando todo o município de Irapuan Pinheiro: professor, diretor de escola, a secretária de assistência social, a primeira-dama, coordenadora do CRAS, a coordenadora do Conselho Tutelar.
Tenho certeza que Irapuan Pinheiro voltará com o compromisso de trabalhar cada vez mais neste tema “Quem Cala, Consente”. Jamais iremos nos calar. Muito obrigada. (Aplausos).
SR. CERIMONIALISTA GLEILSON MENDES: Convidamos para fazer a sua saudação Geomarcia Pinheiro, Presidente do Comdica de Milhã.
SRA. GEOMARCIA PINHEIRO: Bom dia a todos. Quero cumprimentar a Mesa no nome da minha amiga Vera Lúcia, Conselheira Tutelar.
Eu queria fazer uma pergunta direcionada a vocês, adultos e adolescentes: quem sabe o que é Comdica ou CMDCA?
Comdica ou CMDCA é o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. É um parceiro muito forte para o Conselho Tutelar, mas ainda não é muito divulgado, infelizmente, seria a porta de entrada para recebermos denúncia e estarmos levando também até o Conselho Tutelar.
Aproveitando a presença de gestores municipais, ficarei devendo isso ao meu município, a divulgação do meu conselho, é um Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, composto por representantes do Poder Público e da sociedade civil, são doze Conselheiros Titulares e doze suplentes, quer dizer, são vinte e quatro membros, é uma equipe muito grande; se todo mundo se disponibilizar trabalhar para divulgar, dará para fazer um trabalho bem feito.
Eu gostaria de convidar vocês alunos, para estar procurando a Secretaria de Assistência do Conselho de Direito, e conhecer os conselheiros daqui, e se necessário, a Promotoria.
Que vocês saiam daqui com o compromisso de saber um pouco mais sobre o Conselho de Direito da Criança e do Adolescente; os gestores aqui presentes têm o compromisso de divulgar; eu vou levar isso ao município, com certeza. Muito obrigada. Bom seminário para todos. (Aplausos).
SR. CERIMONIALISTA GLEILSON MENDES: Passar a palavra para a Deputada Estadual Bethrose, Presidente da Comissão da Infância e da Adolescência da Assembleia Legislativa do Ceará.
SRA. PRESIDENTE DEPUTADA BETHROSE (PRP): Gostaria de registrar a presença do senhor Antônio Ivan Bezerra, Secretário de Administração do município de Senador Pompeu. Muito obrigada pela sua presença; Francisco de Oliveira Souza, vereador de Senador Pompeu, representando aqui o legislativo; Ítila Michele, Primeira-Dama do município de Irapuan Pinheiro e Coordenadora do Centro de Referência e Assistência Social; Vânia Lúcia, Secretária de Ação Social, também do município de Irapuan Pinheiro.
SR. CERIMONIALISTA GLEILSON MENDES: Teremos a palestra com a psicóloga e escritora Helena Damasceno. (Aplausos).
SRA. HELENA DAMASCENO: Bom dia a todos e a todas. É com muita alegria que estou hoje aqui só pelo Seminário. Parabenizando a Deputada Bethrose pela iniciativa genial. É fantástico estar discutindo violência sexual contra crianças e adolescentes nos municípios cearenses. Para mim também é especial estar aqui, hoje, porque de alguma forma, a minha genética faz parte de Senador Pompeu, meu pai biológico nasceu aqui. Hoje eu não posso estar com ele, mas simbolicamente ele está aqui comigo.
Eu acho que a coragem que eu tenho é também do meu pai. De alguma forma ele aprendeu a ter aqui, sinto isso pelos rostos de vocês. Muito obrigada por estarem aqui.
Eu me chamo Helena Damasceno, tenho 38 anos, e como a deputada já falou, eu sou sobrevivente de violência sexual intrafamiliar. Como assim? Violência sexual que aconteceu dentro da família, no meu caso, é como a maioria dos casos que acontecem e está nas estatísticas, porque mais de 90% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, neste país, ainda acontecem dentro de casa, por pais, primos, tios, padrastos.
Por que esses casos acontecem? A gente precisa parar para pensar e entender que a violência sexual intrafamiliar acontece porque as crianças amam, admiram e confiam nos seus agressores, além disso, a gente precisa lembrar que são adultos, e que a nossa cultura, a cultura no nosso país diz que crianças e adolescentes não sabem de nada, são sujeitos sem informação. Na verdade, por mais que adolescentes não gostem que a gente diga isso, é verdade, vocês são sujeitos à informação, ainda não tem a experiência e a vivência que os adultos tiveram, e ter alguém que abuse sexualmente de você, primeiro você ama, admira ou confia nessa pessoa; segundo, ele é um adulto, você é a criança, você é adolescente, por si só, esses dois fatos já sinalizam um muro de silêncio que impõem a criança toda a dinâmica familiar, toda a humilhação, toda a negligência, todo o silêncio que se faz naquela família e que impedem a criança de falar verbalmente, porque a criança ou o adolescente a gente espera que ele fale, mas porque você não falou nada para ninguém.
Essa criança fala de diversas maneiras, a gente não fala só através da fala, aliás, nós humanos aprendemos a nos expressar muito antes pelos símbolos, pelos gestos, pelo comportamento, somente depois aprendemos a utilizar a fala; a fala foi o último instrumento que nós nos dispusemos.
Sigmund Freud, o pai da psicanálise, tem uma fala que eu acho genial, ele diz: Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo, quando a boca se cala, falam as pontas dos dedos. Todo comportamento, todo universo, toda a subjetividade daquela criança e daquele adolescente é visto pela família, pelos adultos que compõem aquele espaço de convivência dessa criança, desse adolescente. Então tudo, como a violência, impõe um silêncio, e impõe pela negligência e por todas as outras violências somam ao abuso sexual.
Abuso sexual é a violência mais cruel que se pode impor a uma criança, porque depois dela você deixa de existir, você deixa de ter liberdade, deixa de ter escolhas, vontade de viver inclusive. A pessoa vítima de violência sexual morre um pouco mais todos os dias, até que a violência é interrompida ou não, até que ela, de fato, consiga se reerguer ou não. É muito difícil alguém conseguir ressignificar da maneira que eu consegui a violência sexual, de forma didática, e apenas de forma didática.
Eu dividi a minha história em três momentos. O livro “Pele de Cristal” foi o meu primeiro livro, o próximo já está pronto, está em fase de revisão, para que a gente possa, de fato, começar a trabalhar com ele. Mas no ‘Pele’ não existe essa divisão cronológica, ele é mais uma conversa.
Para que entendam a minha história, eu tive que dividi-la em três momentos. O primeiro eu chamo de exercício direto de violência; o segundo de exercício indireto; o terceiro, ressignificação.
Eu fui vítima de violência sexual, aproximadamente dos cinco, seis anos de idade até os dezenove, vinte anos de idade. Isso significa dizer que a violência sexual percorreu e comprometeu toda a minha infância, toda a adolescência e o início da idade adulta. Eu me refiro apenas ao primeiro momento, o do exercício direto. É desse período de cinco seis anos até os dezenove, vinte anos, quando eu descubro que se eu continuar dentro da casa do meu pai e da minha mãe, eu ia morrer de uma forma ou de outra; ou eu ia me matar, ou ele me mata, ou a vida me mata. Como eu disse: morre-se um pouco mais todos os dias; a pessoa perde o ânimo, o sentido; é como se tudo fosse Quarta-Feira de Cinzas e não sábado de Carnaval. Digamos que eu possa me apropriar dessa linguagem poética.
Para a vítima de violência sexual é tão difícil falar, primeiro porque é sobre a sua intimidade. É preciso primeiro entender que abuso sexual é uma violação de direitos humanos. O sujeito tem direito a um desenvolvimento sexual saudável, e quando há uma quebra disso é uma violação dos direitos humanos. A gente não pode olhar e ter pena da pessoa: oh, a bichinha... Vamos interromper essa violência e atender essa criança e esse adolescente sem julgamentos morais, porque são apenas julgamentos, a realidade é outra. A realidade do convívio e do cotidiano de uma vítima de violência sexual vai muito além dos nossos julgamentos morais, do nosso senso comum que está dentro de outro contexto ou dentro de outras realidades.
A realidade da criança é de negligência, é uma realidade onde a família se omite em várias outras negligências, além disso, assédio moral, a violência psicológica, a violência sexual intrafamiliar, o silêncio são resultados da vergonha, da culpa e do medo que se sobressaem na criança; que o agressor e a família transmitem para ela, e transferem como responsabilidade.
No meu caso é como o da maioria. Eu espero que aqui não tenha nenhuma vítima de violência sexual. Na minha época, em 1985/1987 nem se pensava falar que a família não é esse espaço seguro, onde a criança tem toda a proteção do mundo. Falar sobre abuso sexual contra criança e adolescente era um absoluto tabu, nem pensávamos em dizer que a família não era sagrada. Como é que eu, adultos, mulheres e homens podiam falar sobre violência sexual há vinte, vinte e cinco, trinta anos? A quem nós recorreríamos? Não existia o Estatuto da Criança e do Adolescente que garantisse proteção legal. O que guiava a nossa lei era o Código de Menores. Vocês adolescentes, não devem saber por que vivem hoje sob a proteção integral, com direitos, com representação. Não existia Conselho Tutelar nem CREAS. Não tinha absolutamente nada.
As pessoas da minha época gritavam, bradavam de alguma forma dentro da família, e ficava em silêncio, porque ninguém ia acreditar. A gente acha que ninguém vai acreditar na gente. Sabe por que a gente cala? Porque são os adultos que nós amamos, admiramos e confiamos.
Eu ouvia todos os dias, enquanto vivi dentro da casa da minha mãe: você é burra; você nunca vai ser nada; você nunca vai ser ninguém na vida; você não serve para nada! Caramba, ouvir isso das pessoas que eu amo! Como? Acreditar que aquela violência que eu sofria primeiro era violência porque ela se confundia inicialmente com o afeto. A representação de afeto para a criança, aliás, ela não sabe o que é; quando ela percebe o que é errado a exigência do segredo, que você não pode falar para ninguém, a gente percebe isso e já morreu um pouco mais.
Como eu poderia falar se a minha mãe dizia que eu era burra, se os meus tios diziam que eu não servia pra nada, se as minhas tias diziam que eu não seria ninguém. Então, de fato, eu pensava: eu sou burra; eu mereço sofrer; tudo isso que está acontecendo por minha culpa mesmo.
As outras violências somam de maneira tal que a gente acredita que é mesmo burra, imbecil, e todos os outros nomes que a gente vai ouvindo. Parece chocante, mas eu preciso dizer isso, para que os pais tenham atenção com o que dizem para os filhos; eles acreditam. Mas a gente fala alguma coisa na hora da raiva. Vamos aprender a pedir desculpas, ou então, a dizer: meu filho, eu te amo. Depois ele substitui aquilo, sabe? Quando não substitui, quando a gente dá espaço para que a violência de alguma forma se ambiente e transita no cotidiano dessa criança, desse adolescente, a gente está dizendo que em algum momento a gente pode replicar isso de alguma forma ou ela implode, ou explode.
Por muito tempo implodi. Eu fui aquela criança tímida e absolutamente arredia, como a deputada falou, caso encostassem em mim, eu dava gritos absurdos, porque eu tinha medo. Sabem quais as conseqüências? Eu tenho algumas aqui: medo, culpa, vergonha, perturbações do sono. As minhas perturbações do sono, tecnicamente, a gente chama de terror noturno, é quando a criança acorda aos gritos, ou ela sai gritando dentro de casa, sonâmbula. Eu acordava gritando, e já tinha feito xixi na rede inteira; acordava a casa inteira, duas, três da madrugada. Pavor. Eu não me lembro disso. Eu só sabia disso porque me batiam. Eu levava uma surra porque tinha sujado a rede e tinha acordado a casa inteira e, muitas vezes, eu tinha que dormir no chão.
São essas outras violências que vão alicerçando a violência maior, que vão dizendo é burra mesmo, você não vê isso? Você merece ser infeliz! Essa culpa não surge do nada. A culpa vem da vergonha, dessa violação maior de direitos que foi ter o seu corpo, o seu templo, a casa onde moramos, e nós representamos através do corpo; e ter essa casa violada, esse direito de desenvolvimento saudável quebrado, interrompido, as marcas dessas violências muitas vezes são “invisíveis” (entre aspas), porque para nós são extremamente visíveis.
Eu digo isso porque por muitos anos carreguei um cemitério na cabeça (música do Biquini Cavadão), diz como é difícil viver carregando um cemitério na cabeça, e é esse cemitério, são todos os fantasmas, são todos esses medos, os assombros, a culpa, a vergonha, o medo de ele se aproximar de você.
Certa vez consegui conversar - estou falando do primeiro momento, do exercício direto - com uma professora, mas não era uma professora qualquer, ela era a professora. Eu não sei se vocês têm isso, mas eu tinha uma professora que eu dizia assim: meu Deus, quando eu crescer quero ser essa mulher; porque ela era tudo que eu achava que eu não era; ela era linda, e eu horrorosa, feia; eu só tinha cabelo, orelha e olho, não tinha mais nada. Eu era feia, não tinha vida. Nessa minha casa eu vivia sob o slogan da violência sexual, juntamente com a omissão, a negligência e o silêncio de toda a minha família.
Como eu podia pensar em ter brilho nos olhos? Como eu podia pensar em ter brios? Ela era linda e eu era horrorosa. Ela era inteligente e eu burra. Ela era aquela mulher que chega e todo mundo percebe, e eu uma covarde, incapaz de dizer, de quebrar, de interromper a violência.
O agressor também se utiliza em dizer: Você não sai porque não quer. Ele também ameaça e diz que se você sair mata você. Ele mata o teu bicho de estimação. Ele conta para a sua mãe; e se você contar para a sua mãe, a vergonha vai ser muito maior, e daí ela vai ter certeza de que você é burra; e você não quer decepcionar a sua mãe, são adultos que a gente ama, admira e confia.
Eu consegui conversar com essa professora aos trancos e barrancos. Professora é porque na minha casa, meu tio abusa sexualmente de mim. Não devo ter dito com essas palavras, mas foi mais ou menos assim. E ela ficou horrorizada: Que absurdo, Helena, que absurdo. Vamos agora numa delegacia! Pense que isso foi há vinte e cinco anos, como eu podia entrar numa delegacia, num momento onde não se tinha nenhuma discussão sobre violência sexual, e sob a quebra desse mito sagrado que era a família protetora! Ninguém falava sobre violência sexual, e eu ia entrar numa delegacia para falar para um homem que dentro da minha casa havia outro homem que abusava sexualmente de mim! Eu não dizia nada, e eu tinha dez, onze, doze, reze, quatorze anos. O que eu pensei: se eu for lá esse homem vai olhar pra mim e vai dizer que eu gosto. Enrolei a professora, não disse nada; sentava nas primeiras filas, passei a sentar lá no final. Fugi dela, evidentemente que ela percebeu.
Violência sexual intrafamiliar é cotidiana. Eu não estou dizendo que violência sexual intrafamiliar é estupro e acontece todos os dias. O estupro é o mais alto grau da violência, é como se fosse um degrau e todos os dias vai subindo até cometer um estupro. Existe fita métrica para medir dor? Não conheço. A mesma invasão que acontece quando ele pega no meu pé, quando ele bota a mão no meu joelho, é uma invasão do estupro; só que o estupro é mais complexo, traz mais reticências psicológicas e comportamentais, mas é a mesma dor. Tudo dói. Violência sexual diária, cotidiana. Ele precisa manter essa violência através das outras violências.
Aconteceu de novo. Eu me retraí mais, fugi mais dessa professora. Ela me chamou: Helena venha cá, o que é que está acontecendo com você? Agora você se senta lá atrás e não quer saber da minha aula! Eu era tímida, nem olhava para as pessoas. Eu não conseguia nem me olhar, eu nem me via no espelho. Vocês sabem que eu via até os trinta, trinta e dois anos, mais ou menos? Eu olhava as fotos de infância, e se você dissesse que era você criança, eu acreditaria, porque eu não me reconhecia nas minhas fotos. Eu não lembrava nem do meu olhar. Eu não me reconhecia. Como me reconhecer naquele momento diante de uma professora que me perguntava o que tinha acontecido comigo. Como eu podia dizer para ela que aconteceu de novo? Se não fosse de cabeça baixa e morrendo de vergonha, sabe como é, aconteceu de novo. Diga uma coisa Helena, ele estava armado? Quando ela me perguntou se ele estava armado, toda admiração, todo amor e respeito por aquela professor morreu! Ela não precisava me perguntar se ele estava armado. Um agressor sexual não precisa colocar um revólver na minha cabeça, nem uma faca, um canivete, uma tesoura, ele não precisa colocar nada, ele é a própria arma; o olhar dele é a arma, a voz dele, o suor, as lembranças que te assombram na madrugada são a arma. Não há necessidade de nenhuma outra arma porque a presença dele, o nome dele é a arma.
A gente precisa pensar sobre isso. Quando pensar em perguntar para uma criança ou adolescente, porque ele não falou; a sensação que a gente tem; a vergonha... Somos sete bilhões de pessoas no planeta Terra hoje, aproximadamente, a sensação é como se a gente estivesse nua numa praça, e esses sete bilhões de pessoas estivessem todas nos olhando. Esse é o tamanho da vergonha, todo mundo apontando para você e rindo, e mais ninguém no mundo foi vítima de violência, só você, essa é outra característica. Como eu vou dizer para alguém se só eu no mundo? Ninguém vai acreditar em mim. Isso nunca aconteceu, essa transferência de culpa, de responsabilidade é tamanha, e ela é tão forte que impede de pensar.
Geralmente começa muito cedo a violência sexual, e se confunde com as relações de afeto que você tem, e em algum momento você começa a dizer assim: eu não fui vítima de violência sexual, isso não aconteceu. Eu passei um bom tempo dizendo para mim mesma que não tinha sido vítima, que eu inventei; que isso era da minha cabeça. Eu consegui inventar sabe por quê? Porque admitir a violência sexual era tão doloroso, tão forte e tão violento que eu precisava fazer alguma coisa com ela. Eu não podia simplesmente saber e não fazer nada, porque a minha consciência estava me cobrando: faz alguma coisa, e eu não tinha estrutura para isso. Eu vivia na casa dos meus pais completamente subordinada a eles, inclusive emocionalmente, porque é uma dependência que a gente se esquece de dizer, esquece de pensar sobre ela. Os filhos dependem emocionalmente dos pais por isso; e a gente precisa manter relações saudáveis de afeto com os filhos, para construir relações saudáveis e para substituir as afetações de violência que se impõem dentro de uma família incestogênica. O que é que eu estou falando?
O segundo momento eu chamo de exercício indireto. Por quê? É quando eu saio de casa e percebo que se eu ficar naquela casa de alguma forma morrerei, ou ele me mata; ou eu morro ou alguma coisa acontece. Então saio de casa. Nesse momento abro um parêntese para dizer aos adolescentes que essa foi a minha maneira de experimentar, viver e me salvar. Não é uma regra sair de casa porque sou vítima de violência. Repito: na minha época não tinha ninguém para procurar; hoje tem como se rebelar e fazer a denúncia. Fecho o parêntese.
Por que eu chamo de exercício indireto? Porque a mão dele não me alcança mais; ele não me abusa mais fisicamente, mas o abuso psicológico já está todo. Então saio arrastando todas as consequências dessa violência e, de uma forma superlativa, o medo é maior, os pavores são maiores, as violências se somam de maneira maior, só que agora eu tenho que me bancar. Eu tenho que ter um patrão, e tenho que ter um trabalho.
Inicialmente, com o quê eu trabalhava? Eu toco violão à noite, e descobri na noite algo muito engraçado que eu achava que ia me satisfazer, ia conseguir acabar com a minha dor. Freeda Calo diz uma frase que eu acho fabulosa: eu bebo para afogar as minhas mágoas, mas as danadas aprendem a nadar. Eu descobri que podia beber na tentativa absurda de esquecer o que tinha me acontecido, só que as danadas das dores aprenderam a nadar e todas elas submergiam; elas se chocavam comigo o tempo inteiro e, então, em algum momento eu tinha que fazer alguma coisa novamente.
Cada vez que eu admitia que fui vítima de violência, novamente a minha cabeça própria me cobrava, meu inconsciente me cobrava. Eu nunca acreditei que merecesse ser feliz. Eu continuava tendo vergonha, e acreditando que a culpa, a responsabilidade era minha. Eu cresci, e não disse para ninguém. Saí de casa e ele continuou lá.
Sabe qual é o perfil de agressor sexual? É aquele cara que jamais pensaríamos que ele poderia ser um agressor sexual. Esse que vai para as estatísticas, o intrafamiliar, mais de 90% é um Don Juan; ele é educado, gentil, bom pai. O agressor, o homem que me agrediu é bom tio. Todo mundo diz que ele é um bom tio, um bom pai, bom marido, que é ótimo filho, um excelente profissional. Eu não fui a primeira, a única nem a última vítima do mesmo homem, na mesma família. Mais uma característica de violência sexual intrafamiliar. As famílias são transgeracionais, a violência vai passando de geração para geração.
Ele continuou abusando. Antes de mim, ele abusava de outras crianças. Depois que eu cresci, continuou abusando de outras crianças até alguns anos atrás, inclusive. Ah, Helena, você não pode fazer nada? No meu caso, o crime prescreveu. Eu tenho 38 anos, a lei não me protege mais. Mas se alguém, hoje, denunciá-lo, eu entro como testemunha na hora, porque a denuncia é importantíssima, para interromper a violência, e não só para interromper, mas para conseguirmos gerar política pública para atender essas vítimas e suas famílias. É importantíssimo que a gente interrompa. Ah, mas eu não quero me envolver! Por favor, eu nem sei se é verdade. Não é seu papel investigar, mas você pode discar três números e fazer a denúncia anônima; você pode ligar para o CREA da sua cidade e fazer essa denuncia que ele vai tomar as iniciativas cabíveis. Eles vão resolver tudo! Enquanto paramos para pensar, tem uma criança vítima de violência, e não temos ideia do buraco que é formado para ela. De fato, não sabemos o que é, por exemplo, baixa autoestima, claro, consequência da violência sexual. Baixa autoestima para mim era assim: eu não penteava os meus cabelos, eu não tomava banho, não escovava os dentes; eu cortava os meus pés; não trocava de roupa nem de calcinha por uma semana, quinze dias. Sabe por quê? Porque eu era um lixo, porque eu não valia nada!
Lembram-se quando eu disse que nenhum ser humano consegue esconder um segredo? Pois é, as pontas dos meus dedos estavam gritando, dizendo: tem alguma coisa errada comigo! Eu estava fedendo, apodrecendo e ninguém percebia! Bastava que um adulto percebesse e, talvez, essa professora tivesse sido um pouco mais sensível, porque foi um adulto que eu procurei, e se tivesse tido um pouco mais de sensibilidade para me atender, minha história teria sido outra. Mas eu não lamento. Eu não lamento a minha história, porque através dela eu consegui chegar até aqui.
O meu grande ganho foi perceber que o abuso sexual na minha vida foi uma experiência como outras que eu tive, tenho e terei. Claro, foi uma experiência marcante e determinou muitas outras experiências na minha vida, mas foi uma experiência.
Eu queria ler para você, tentar declamar na verdade, toda confusão que imperava na minha cabeça durante todo esse período eu acho que vai dar para dizer com mais clareza como é que uma vítima de violência sexual se sente. Quando eu tinha onze anos eu li um livro chamado Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Servantes; o que mais eu fazia era ler, eu gostava de ler literatura e fui ler Servantes, e decorei um poema que o Dom Quixote declamava para os moinhos de vento imaginários dele. Só depois que eu cresci foi que eu descobri que os moinhos de vento eram imaginários, e eu tinha muitos moinhos de vento, e declamava esses poemas para os meus moinhos de vento. Ele dizia assim: Procuro na morte a vida, saúde na enfermidade, no cárcere liberdade, no encerramento, saída; no traidor fidelidade. Mas minha sorte, de quem? Se já não posso esperar o bem. Ajustou com o céu terrível, eu lhe peço o impossível, nem o impossível me deram.
Essa é a complexidade que mora, habita a cabeça de uma pessoa vítima de violência sexual. Eu lhe peço o impossível, nem o impossível me deram.
Publiquei o livro ‘Pele de Cristal’, vou publicar agora o próximo livro, para dizer para as crianças e adolescentes que foram vítimas de violência sexual que sim é possível ter qualidade de vida e superar as reticências do trauma do abuso sexual. Como? Aí vamos para a outra parte.
Profissionais que estão na Rede de Acolhimento de crianças e adolescentes, que estão na linha de frete, não desistam de suas crianças e adolescentes; desistiram muitas vezes de mim, alguns por medo, outros por inabilidade mesmo, porque é difícil. Hoje eu sei o quanto é difícil ouvir como técnica de uma criança que foi vítima de violência, por isso é preciso, além de ter a qualidade técnica, essa escuta ativa que falamos, precisamos ter uma escuta afetiva, precisamos acreditar, legitimar a fala dessa infância, legitimar a fala dessa adolescente, e tirar os juízos de valores, porque são só juízos de valores.
Frei Beto usa um conceito da antropologia chamado alteridade. Eu proponho que nós, operadores do direito - não se chama garantia dos direitos com crianças e adolescentes -, utilizemos da alteridade com essas crianças e adolescentes vítimas de violência, e nada mais é do que olhar para o outro meio que nu; você se despe dos seus valores, do seu contexto, da sua história e apenas absorve do outro a história dele, o contexto dele; se fizermos isso, talvez consigamos compreender que a criança cala porque está dentro de um sistema perverso e complexo, não é vulnerável, ela esteve vulnerável naquele momento.
Ela pode superar. Mesmo os psicólogos que estão nos consultórios com as crianças, é difícil sim quando ela dá um passo para frente, e nós comemoramos; depois dá dez passos para trás. Compreendamos que é porque dói, e da dor todo mundo quer se afastar porque temos a ideia errônea de que quando dói estamos vivendo novamente, estamos ressignificando. Esse é o terceiro momento: eu não posso e nunca vou poder voltar no tempo e apagar aquele primeiro botão. Ir em 1979, apertar um botão e dizer: tudo que eu vivi até hoje não aconteceu. Mas eu posso olhar, revisitar toda essa minha história, como eu fiz dentro de um contexto psicoterapêutico sério. Um dia eu me comprometi comigo mesma, porque eu já sabia como era ser infeliz, eu não sabia nem acreditava que podia ser feliz, em como era possível. Mas quando eu me permiti, quando eu ousei acreditar, quando eu comecei a pensar que a culpa não era minha, que aquilo era uma mentira que tinham me contado, realmente, a culpa não era minha.
Quais as outras mentiras que me foram contadas? Inúmeras. A partir disso, eu fui procurar uma terapeuta, uma psicóloga que junto comigo conseguimos ressignificar toda essa história. Mas eu nunca vou poder voltar lá, naquele momento e apertar o botão. Eu posso ir e olhar de forma diferenciada, fazer com que a minha história não seja um reflexo do abuso, somente.
Sim é uma experiência, apenas uma experiência. Eu conto a minha história para começar a pensar sobre o nosso senso moral, o nosso senso comum de julgar o outro, de dizer: ah, eu faria assim. Não interessa o que você faria! Interessa sim como nós, todos nós vamos fazer para interromper, acolher, entender e acompanhar as vítimas de violência sexual, independente de ser criança ou adolescente. Nós achamos que adolescente sabe o que está fazendo. Adolescentes são sujeitos em constante progresso. Nós somos uma obra em constante progresso, em constante processo. Mas nós temos uma estrada já percorrida, adolescentes não, eles são guiados pelos nossos exemplos, pelo nosso silêncio, pela nossa omissão, pela nossa coragem em enfrentar, em acolhê-los, respeitá-los.
Desafio a todos nós aqui, e digo que, o que estou dizendo não é fácil. Em nenhum momento foi fácil para mim escrever o ‘Pele de Cristal’. Foi o maior desafio, mas foi a melhor coisa que eu fiz, porque depois dele eu descobri que tudo aquilo era mentira; que eu não tenho culpa; que eu não preciso ter vergonha; que eu não cometi crime algum. O criminoso é ele! Eu devolvi todas as culpas, todas as responsabilidades que me deram. Eu desafio todos nós a acreditar que é possível sim superar. Eu não estou dizendo que é fácil violência sexual e todo esse seu substrato social. Eu não estou dizendo que é fácil não. Eu estou dizendo que é possível porque somos nós nesse planeta os únicos responsáveis em intervir na cultura e modificá-la, se não fosse assim nós estaríamos até hoje batendo uma pedra na outra para fazer fogo. Vejam que numa construção toda fundamentada, criada é idealizada por nós. Então podemos sim idealizar e construir um mundo diferente.
A última coisa que eu quero dizer para vocês é uma frase que eu não sei de quem é, mas eu queria que vocês pensassem com muito carinho nela: “Quando tudo for pedra, atire a primeira flor”. (Aplausos).
SR. CERIMONIALISTA GLEISON MENDES: Agradecemos a psicóloga e escritora Helena Damasceno pela sua palestra, e responderá algumas perguntas formuladas por vocês.
SRA. HELENA DAMASCENO (Psicóloga e Escritora): Eu acho isso genial. Para mim o Yong responde o que eu penso quando ele fala de sincronicidade. O meu livro novo vai responder as cinco perguntas que mais me fazem. Eu acho que tenho que responder. Por exemplo, sua mãe, depois que soube que você foi abusada, qual foi à reação dela? A família onde nasci como é a configuração dela? A minha mãe biológica tinha tido quatro gestações e os quatro filhos tinham morrido, e ela não quis de alguma forma, que eu morresse depois que eu nascesse. Ela me deu para a mãe dela, então eu fui criada pela minha avó. Eu não chamo a minha mãe biológica, por exemplo, nem o meu pai biológico de pais. Hoje temos tentado ressignificar essa história, por isso que é tão importante para mim dizer que o meu pai biológico de alguma forma está aqui comigo, simbolicamente.
Ela nunca conversou comigo sobre o assunto até uns três anos atrás, quando saiu uma reportagem de página inteira no jornal O Povo. Ela não pode mais negar, porque eu já tinha tentado conversar com ela algumas vezes e ela negava. A partir disso foi que começamos a dialogar, foi muito doloroso porque ela, a priori, escolheu o agressor, irmão dela, mas hoje temos tido uma relação bem mais honesta, porque se ela quiser ter uma filha, precisará escolher essa filha. Eu fiz essa imposição para ela através do tempo, com as minhas posturas, com as minhas atitudes, com as minhas ações. Eu fico feliz que ela tenha me escolhido, porque temos tido a oportunidade de ressignificar essa relação.
No livro ‘Pele’ eu falo muito sobre isso, que ela foi muito responsável pelo abuso. Mas hoje, sinceramente, eu fiz o que eu sabia; eu aprendi a fazer e faço apenas o que eu sei. Eu acredito que de alguma forma ela também fez o que sabia.
Se vocês me perguntarem se eu a perdoei, a minha resposta é não. Mas eu não sou uma pessoa rancorosa. Eu sou uma pessoa que escolho a gentileza e a esperança e deixo as portas abertas. Eu sou uma pessoa gentil. Até que me provem o contrário, eu acredito que todas as pessoas são possíveis de relações de afeto e de respeito. Eu dou mais essa oportunidade para ela, e temos conseguido reconstruir nossa história.
Essa pergunta: O que é mais difícil: escrever ou perdoar o agressor, ou não existe perdão para o agressor? Sendo muito, muito honesta. Eu não perdoei esse meu agressor, e não sei se eu vou ser capaz de fazer isso um dia. Eu não o vejo, não falo com ele, sei onde ele mora, sei dos passos dele, nós não nos visitamos, digamos assim. Eu não o perdoei, não sei se sou capaz de fazê-lo, entretanto, eu deixo a porta aberta para isso. Eu acredito que se um dia isso tiver de acontecer, eu não boto uma barreira, acho muito improvável. Mas eu não fico dizendo que isso é impossível. Se for possível, eu me permito; se não acontecer, eu também me permito. Eu me respeito. Eu aprendi a respeitar a minha velocidade, o meu tempo e os meus processos. Se perdoá-lo faz parte dos meus processos, tudo bem, hoje a resposta é: não perdoei e não pretendo perdoá-lo. Escrever o livro foi saboroso, foi difícil, mas foi muito bom.
Qual o sentimento que eu tenho hoje para com o agressor? Desprezo. Quando eu o vi há três anos, foi a última vez que eu o vi, eu olhei e pensei assim: eu vou olhar para você porque simbolicamente você é homem, certo? Eu olhei para ele e disse assim: Poxa, era disso aí que eu tinha tanto medo? Essa coisa horrorosa, pequena. Eu o coloquei no lugar dele, digamos assim.
Não tenho nenhuma revolta sobre a violência que me aconteceu, ao contrário, a revolta eu tive em todo primeiro e segundo momento, até os meus trinta e dois anos, quando eu achava que o mundo me devia respostas; eu me comportava como uma vítima do mundo inteiro; eu tinha sido vítima de violência sexual e aprendi a ser vítima do mundo inteiro. Eu me permiti me revitimizar o tempo inteiro. Eu acho que foi uma experiência que eu vivi. Não me pergunto por que isso aconteceu. Aconteceu. Foi uma fatalidade. Mas eu ressignifiquei. Portanto hoje eu sigo em frente, e acredito que o meu papel é desmistificar, falar sobre a violência, desmistificando dizendo que ela é uma violência extremamente atual e democrática, infelizmente democrática porque está em todos os lugares, independente de cor, de credo, de status social, violência sexual, está em todos os lugares.
Pergunta: Se eu tive algum contato com ele. Tive, há três anos, num enterro. Eu queria que fosse o dele, mas não era. Eu digo isso do fundo do meu coração. Eu não desejo nada de ruim a ele, mas também não desejo nada de bom. Não sei se dá para entender. Ele deixou de ser o centro da minha vida. Quando eu percebi que a história era minha, que eu podia pegá-la e me guiar por ela, ela deixou de ter sentido. Ele não tem mais nenhuma importância. Pouco me importa se ele está bem ou se está mal. Eu não quero saber dele. Eu quero saber de mim.
Essa é uma boa pergunta: De que forma essa experiência me ajudou na minha formação pessoal e profissional? Pessoal eu não tenho nem o que dizer, ela fundamentou, guiou mesmo todos os meus passos. O que eu mais aprendi em ter sido vítima de violência foi a de respeitar o outro. Hoje eu sou incapaz de fazer com o outro aquilo que eu não queria que fizesse comigo. Eu tenho um respeito tão grande pelo outro, seja ele quem for inclusive pelos animais, pela vida de forma geral. Eu gosto tanto de viver. Eu tenho tanta sede de viver, e acho que isso marcou, foi por conta disso. Se eu não tivesse vivido uma violência tão cruel e de uma forma tão complexa e violenta, eu não teria aprendido a respeitar tanto o outro ser humano como eu respeito hoje.
Profissionalmente, eu digo assim, eu sou música. A música é minha amante, e vai ser sempre. Eu tive um romance tórrido com a sociologia, mas para casar, ter filhos é com a psicologia. Não nasci para fazer mais nada na vida. Eu não sei se isso tem a ver com a minha história, porque eu não fui para a psicologia para me curar. Eu fui para a terapia para me curar. Para a psicologia eu fui para aprender a trabalhar, a como me afastar da dor do outro, como aprender a respeitar o outro de forma profissional, técnica e ética.
Essa é uma pergunta que ninguém nunca me fez; não sei se vocês viram o susto que eu tomei: Qual seria a minha reação se o agressor me pedisse perdão. Primeiro que isso é absolutamente improvável, os agressores sexuais não têm consciência de que erram; para eles isso não é um erro, mas um comportamento natural, tanto que eles não param. O agressor sexual não é porque ele envelheceu que deixa de agredir sexualmente. O meu agressor, meu não, o meu tio-agressor deve ter hoje uns setenta anos, ele continua agredindo sexualmente outras pessoas, outras meninas. Então é muito improvável. Agora, eu realmente não tenho ideia do que eu responderia para ele, qual seria a minha reação se ele me pedisse perdão, não sei mesmo. Hoje eu acho que não perdoaria, mas eu não deixo nenhuma porta fechada.
Tenho sim disponibilidade para realizar palestras em outras escolas, outros lugares, é só me procurar no final deste seminário; dou o contato, quem quiser anotar o telefone: 85-8867.0558, esse é um OI.
Gente, tem muitas perguntas, não vou conseguir respondê-las todas, eu tenho um blogsport.peledecristal.com, eu respondo algumas através desse blog e outras por e-mail.
SR. CERIMONIALISTA GLEISON MENDES: Convidamos a Deputada Bethrose, Presidente da Comissão da Infância e Adolescência da Assembleia Legislativa, para dar início às instruções do Plano de Ações Estratégicas-PAE.
SRA. PRESIDENTE DEPUTADA BETHROSE (PRP): Agora nós vamos para o grupo de trabalho. Vamos construir o PAE, são onze passos, hoje só vamos fazer dois passos, a seguir, a Banda Quarto Nove se apresentará e iremos para o almoço.
Vou explicar o que seria esses onze passos para depois chamar cada município e cada grupo correspondendo a seu município para fazer o primeiro e o segundo passo.
1-Nomear um gerente e um secretário para a equipe. Esse secretário e esse gerente têm que ser de cada escola, e um coordenador-geral do município.
2-Identificar a Rede de Proteção de seu município.
Na hora que eu disser o município de Irapuan Pinheiro, então ficam todos os representantes juntos para conhecerem a Rede de Proteção deste município.
O que seria essa Rede de Proteção? Seria o conselheiro do Conselho Municipal de Direito da Criança e do Adolescente, do Comdica, o Conselheiro Tutelar da sua cidade; conhecer alguém do Ministério Público da sua cidade, se não estiver aqui todo esse grupo, vai ter essa missão de dizer o que é o Ministério Público; o gestor da Ação Social; alguns profissionais do Centro de Referência de Assistência Social do seu município, caso não tenha o CREA, procurar o Regional, o que coordena a sua cidade.
Entrar em contato com a rede e convidá-la para participar da construção e execução do seu Plano de Ação Estratégico. O que seria esse plano? Cada escola vai elaborar no período de seis meses dez ações que podem salvar uma vida, e essas ações têm que ser bem práticas, simples, por exemplo, como proteger nossas crianças.
Uma sugestão para fazer uma das ações desse plano seria, por exemplo, mesmo sendo os alunos da rede estadual do ensino médio, eles podem ter como público-alvo os pais da educação infantil, e dizer para eles como proteger suas crianças. Por exemplo, selecionar com bastante atenção os adultos cuidadores de crianças e adolescentes; orientar acerca de contatos físicos, íntimos ou situação constrangedora; ensinar a criança ou adolescente como cuidar do seu corpo, e explicar o que pode e o que não pode, principalmente para essas crianças de pouca idade, entre três a dez anos, o que pode os adultos fazer com o seu corpo.
Existem onze atitudes que você pode levar através da orientação tanto de um conselheiro tutelar como conselheiro de direito, como também do CREAs, pode orientar os alunos que vão fazer parte desse Programa de Ação Estratégico.
Enumerar as atitudes, definindo o prazo de realização, material necessário e parceiros; definir ações; ligar para toda a Rede de Proteção. Vocês vão ter a criatividade de formar essas dez ações: o que vamos precisar, quem vai providenciar, quando vamos realizar, tipo um cronograma, os parceiros e o coordenador da ação.
Depois que você se reunir com a Rede de Proteção do seu município, elaborar as dez ações, deverá enviar o seu Plano de Ação para a Comissão da Infância da Assembleia; depois que você enviar, vai começar a realizar as ações, desenvolver, executar. Depois de executar, fará um simples relatório: o município que as escolas são compostas; o nome da escola; como aconteceu; o público-alvo pode ser os pais dos alunos da educação infantil, pode ser os pais dos alunos do ensino médio; pode ser os ouvintes de uma rádio. Por exemplo, você pode tirar em um dia e falar na rádio quais são os comportamentos físicos e emocionais que a criança pode apresentar, ou então dizer como funciona o Dique-100, como é fácil denunciar.
10-Encaminhar seu relatório à comissão;
11-Aguardar a entrega na Assembleia do Selo Escola Cidadã entregue pela Assembleia Legislativa.
Passo a chamar os municípios: Piquet Carneiro, Solonópole, Pedra Branca, Mombaça, Irapuan Pinheiro, Senador Pompeu. Sejam bem vindos. Bom trabalho.