A série de rebeliões em penitenciárias cearenses no último final de semana pautou discursos de parlamentares na Assembleia Legislativa ontem. Os deputados foram unânimes ao falar sobre a greve dos agentes prisionais e da morte de pelo menos 15 detentos. Heitor Férrer (PSB) foi o primeiro a se posicionar, classificando os episódios como "tragédia anunciada".
Segundo o parlamentar, o Governo do Estado tinha conhecimento quanto à gravidade da situação. Ele explicou que, enquanto a capacidade de abrigo em unidades prisionais do Ceará fica em torno de 11 mil presos, atualmente 23 mil pessoas estariam detidas. "Isso se soma ao número insuficiente de agentes prisionais. Enquanto a ONU (Organização das Nações Unidas) aponta que um agente tem condição de cuidar de cinco presos, aqui temos um agente para 237 detentos", exclamou. "É humanamente impossível acreditar que, num momento de revolta, cinco ou oito agentes vão dar conta de 1.900 presos".
Em aparte, o deputado Roberto Mesquita (PSD) afirmou que o governador Camilo Santana teria a "obrigação" de estar presente ontem, na Assembleia, para dar explicações sobre a situação do sistema prisional cearense. "(Ele) deveria reconhecer a fraqueza e vir ao Parlamento dar satisfação à sociedade. O Estado tem obrigação de zelar pelo apenado, mas o que vimos foram cenas bárbaras", cobrou.
Rachel Marques (PT), por sua vez, rebateu Mesquita e disse que o Governo do Estado agiu imediatamente diante da situação. "Para evitar que os agentes penitenciários entrassem em greve, houve uma série de negociações. Depois que a greve foi deflagrada, o governo voltou a sentar com o sindicato e atendeu aos pedidos dos agentes", expôs.
"Outra medida para reduzir a superlotação nos presídios já vinha sendo tomada, que são as audiências de custódia, iniciadas em 2015, fazendo com que 1.809 pessoas deixassem de entrar nos presídios. Também depois de iniciada a greve, o governador pediu apoio da Força Nacional de Segurança", relatou. O ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, autorizou envio da Força Nacional de Segurança Pública a Fortaleza, para apoiar na segurança do sistema penitenciário. As equipes devem iniciar a operação ainda nesta semana, sob coordenação local.