Entre os 53 mandados de busca e apreensão cumpridos ontem na Operação Catilinárias, estão ações envolvendo dois políticos cearenses de peso. Acusados de serem operadores do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), nos supostos desvios da Petrobras, o deputado Aníbal Gomes (PMDB) e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, estavam entre os alvos das ações da Polícia Federal.
LEIA TAMBÉMO pior ainda está por virOs dois mandados executados no Ceará, no entanto, miravam apenas em residência de Sérgio Machado em Fortaleza, no bairro Dunas. Ação envolvendo Aníbal foi deflagrada no gabinete do deputado, em Brasília.
O duplo mandado contra Sérgio tem razão inusitada: como a residência do ex-dirigente tem área muito grande, a coordenação do caso acreditou que o investigado possuía duas casas na mesma rua, em endereços próximos.
Na capital cearense, a PF apreendeu uma série de documentos. Duas viaturas chegaram à casa por volta das 8 horas. Após passarem cerca de uma hora vasculhando cômodos, os policiais acionaram um chaveiro, que chegou e deixou o local sem falar.
Por volta das 10 horas, os procuradores da República Rômulo Conrado e Rafael Rayol deixaram a casa, acompanhados de agentes da PF. Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal não deram detalhes sobre o caso.
Segundo funcionários de Sérgio Machado, não estavam na residência nenhum membro da família. O MPF registrou princípio de resistência à entrada da equipe, que não foi reconhecida por seguranças. Já a ação no gabinete de Aníbal ocorreu “com educação e cordialidade”, diz a defesa.
Em nota, a assessoria jurídica de Sérgio Machado afirmou que o investigado "reitera estar certo da lisura de sua gestão" na Transpetro e que está à disposição de todos os órgãos envolvidos nas investigações".
A defesa de Aníbal diz que ainda não obteve detalhes da ação e que só irá se posicionar após ter acesso aos autos. Ela registra, no entanto, que uma das denúncias da Procuradoria-Geral da República contra o deputado já foi rejeitada no Supremo Tribunal Federal (STF).
Políticos de expressão
Filho do ex-ministro de João Goulart Expedito Machado, Sérgio Machado já foi figura central na política do Ceará. Empresário na chamada “geração Cambeba”, coordenou campanha de Tasso Jereissati (então no PMDB) ao Executivo estadual e comandou a Secretaria do Governo - pasta de maior prestígio da gestão à época.
No Cambeba, Machado era visto como sucessor natural de Tasso, mas acabou desgastado com a opinião pública após conduzir ações polêmicas da gestão do hoje senador, como cortes de servidores. Em 2003, foi indicado pelo PMDB para a Transpetro, onde ficou até 2014, quando deixou o cargo após pressão.
Já Aníbal Gomes integra família de tradição na política de Acaraú, na zona norte.
É irmão do deputado Duquinha (Pros). Em 2014, foi o sexto deputado mais votado do Ceará, com 173,7 mil votos.
Perfil
Aníbal Gomes (PMDB), deputado federal
É alvo de três inquéritos na Lava
Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Seu suposto envolvimento no esquema foi denunciado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Segundo delação, Aníbal participaria de reuniões com empreiteiros para tratar de valores de propinas obtidas em contratos com a Petrobras. Nesses encontros, o peemedebista seria, segundo Costa, emissário do presidente do Senado, Renan Calheiros. Aníbal nega as denúncias e afirma que nunca intermediou entrega ou promessa de recursos. Na tarde de ontem, Aníbal teve uma de suas denúncias arquivadas no STF. A ação, que apontava crime eleitoral com recurso da Lava Jato, foi rejeitada por falta de provas.
Perfil
Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro
É alvo de delação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Segundo o delator, Machado repassava para políticos e gestores dinheiro de um esquema na contratação de navios-sonda para subsidiárias da Petrobras. Paulo Roberto afirmou ainda ter recebido R$ 500 mil diretamente das mãos do ex-presidente, em sua casa no Rio de Janeiro. Após surgirem as primeiras denúncias envolvendo sua gestão, Sérgio pediu afastamento temporário da empresa para dedicar-se integralmente à sua defesa, mas acabou pedindo afastamento definitivo do cargo após exigência de empresas de auditoria do meio naval. Ele diz que irá “garantir a lisura” de sua gestão frente à Transpetro.
MULTIMÍDIA
Editor-adjunto de Conjuntura, Ítalo Coriolano analisa desdobramentos da nova fase da Lava Jato que atinge todo o PMDBhttp://bit.ly/1JatRKA
Carlos Mazza, repórter de Conjuntura, comenta a operação Catilinárias, deflagrada pela PF com cumprimento de mandados em Fortaleza
http://bit.ly/1Ov5BEz