A resposta sobre as milícias
Há pelo menos dois anos e meio, governo e oposição concordam que há milícias atuando dentro da Polícia do Ceará. Em maio de 2013, Ciro Gomes atuava como eminência parda dentro da Secretaria da Segurança Pública. Ele foi categórico: “Temos uma milícia atuando, absolutamente em afinidade com o narcotráfico, com os bandidos, há listas de pessoas assaltadas para causar comoção na cidade”. E acrescentou: “Evidentemente, o chefe da milícia é esse Wagner, esse vereador picareta”. Na mesma ocasião, o vereador em questão, Capitão Wagner (PR), hoje deputado, disse que, realmente, havia bandidos atuando dentro da Polícia Militar. Já naquela ocasião, citou o major Henrique Bezerra Lopes, a quem Wagner acusou de envolvimento com grupo de extermínio. Na época, o capitão chegou a colher assinaturas para criar uma CPI na Câmara para investigar a denúncia de Ciro. O caso não foi adiante.
No ano passado, as acusações voltaram a ocorrer, antes e durante a eleição. Ciro convocou a militância a combater a “milícia” que seria comandada por Wagner e estaria atuando na campanha. Nesta semana, o assunto foi retomado. As acusações são basicamente as mesmas. Na segunda-feira, Ciro fez insinuações sobre “miliciano”, com “contato com a bandidagem inclusive infiltrada na Polícia”, que é “pré-candidato a prefeito” e “ganha com o clima de terror”. Wagner repetiu que há mesmo grupo de extermínio na PM, sob comando do major Henrique, e disse que são grupos “com afinidade com om tráfico de drogas”.
Afora as responsabilidades, os dois lados parecem concordar que há milícia na PM, atuando em conjunto com traficantes. As afirmações partiram do irmão do ex-governador, que já comandou oficiosamente a segurança do Estado, e de um capitão da Polícia. Ambos adversários políticos e, portanto, com interesses distintos. Descontando o que há de futrica, concordam praticamente integralmente sobre a situação dentro da PM. Apenas divergem sobre os responsáveis. O quadro que concordam haver é escandaloso, gravíssimo. Exige providências drásticas.
Em 2013, Ciro dizia que o caso estava sendo investigado. “Estamos achando essa milícia um a um, e vamos cortar a cabeça dessa cobra”. Era maio de 2013. Ontem, Wagner disse: “É preciso encontrar um a um esses criminosos e cortar a cabeça da cobra”. As frases praticamente se repetem. Só muda a identidade da “cobra”.
Há dois anos e meio, Ciro dizia que as investigações avançavam na identificação dessa milícia. Não se sabe de resultados mais efetivos. Ontem, o secretário Delci Teixeira deixou claro haver indícios de que policiais estão envolvidos na chacina da Grande Messejana. O contingente montado para investigar a própria Polícia, conforme revela no O POVO de hoje o jornalista Thiago Paiva, o Estado está montando provavelmente a maior ofensiva destinada a investigar policiais desde o caso França, em 1997. Não é para menos.
Pelo que afirmam as próprias autoridades da segurança, policiais estão sob suspeita. Para o bem da corporação e das autoridades do Estado, o crime precisa ser esclarecido. Se não houve envolvimento de policiais, os culpados precisam ser identificados e exemplarmente punidos, pelo crime que cometeram e para que não manche a imagem da corporação. E, se houve gente das forças de segurança, igualmente precisam ser identificados e também punidos, até para que a mácula não atinja a todos.