Deputados da base e da oposição aguardam chegada do servidor que abre o livro de oradores para assinarem
FOTO MAURI MELO
São 4h50min da manhã quando chego à Assembleia Legislativa, no bairro Dionísio Torres.
O céu ainda está escuro e a rua, quieta. Dentro do prédio, dois deputados conversam com animação, apesar da cara de sono. Os parlamentares aguardam do lado de fora do plenário, ainda fechado.
Madrugaram ali para serem os primeiros a assinar o livro dos oradores do dia e assim garantir 15 minutos de pronunciamento, com direito a transmissão ao vivo para o interior do Estado. “Tem uns que são cadeira cativa aqui. Mas hoje não vieram. A oposição tem de chegar cedo”, explica Elzir Araújo, servidor da AL e administrador do plenário há 27 anos.
O outro servidor, que abre a lista de presença e livro de oradores, só bate o ponto às 7 horas. Mas as assinaturas respeitam a ordem de chegada. Daí a importância de chegar antes de o dia raiar. Quem faz isso tem o direito de escolher o horário para falar.
Os períodos mais disputados são aqueles perto do fim do primeiro expediente, por volta das 11 horas. Quem fala por último tem a chance de rebater os argumentos dos colegas e fechar o debate “com chave de ouro”, como eles mesmos dizem.
Ontem, os governistas Elmano de Freitas (PT) e Zé Ailton Brasil (PP) saíram na frente na lista. Em seguida, veio o líder do Governo Evandro Leitão (PDT). Era um dia importante para a base, que se articula para aprovar um projeto que permite ao Estado utilizar recursos de fundo do Judiciário.
Às 5h30min, chega o primeiro oposicionista: Leonardo Araújo (PMDB). Depois vêm Fernanda Pessoa (PR), Ely Aguiar (PSDC) e Renato Roseno (Psol).
Esses encontros na madrugada da AL não exigem tanto decoro nem mesuras como “vossa excelência”. É “você isso, você aquilo” mesmo. As melhores frases saem quando os microfones ainda estão desligados. Esquecidos da rotina de embates, deputados da base e da oposição contavam piadas entre si, leveza que mudaria dali a algumas horas, quando começou a sessão. Agora, porém, o terno ainda estava no armário e o café da manhã, por tomar.
Em vez de sapato social, sandália de couro. No lugar do terno, a camiseta. Ely Aguiar, por exemplo, vestia um blazer com blusa da banda de rock Black Sabbath. O assunto, no entanto, permanece o mesmo: política. Às vezes, há espaço para o futebol. Mas não ontem. Enquanto esperavam para assinar o livro, os deputados antecipavam o debate que oficialmente só começaria em quatro horas.
Às 7 horas em ponto, chega Evando Campos, guardador do livro de oradores, e a espera finalmente termina.