Onde os santos de casa obraram milagres
A coluna citou ontem (leia aqui: http://bit.ly/1y7cw3b) grandes municípios, administrados por aliados estratégicos de Camilo Santana (PT) e Eunício Oliveira (PMDB), onde os candidatos dos respectivos prefeitos tiveram derrotas categóricas, feias mesmo. Casos de Fortaleza, em relação ao petista, e de Juazeiro do Norte e Crato, para o peemedebista. Mas houve casos de grandes sucessos, que podem ser creditados, em grande parte, aos líderes locais que apoiam um e outro. Em Maracanaú, o candidato a vice-governador Roberto Pessoa (PR) garantiu a Eunício 67 mil votos, mais do dobro do que Camilo recebeu. Em Sobral, por outro lado, a vitória do petista talvez não tenha sido a que se poderia esperar no reduto dos Ferreira Gomes e na terra administrada pelo marido da candidata a vice-governador, Izolda Cela (Pros). Mas não foi desprezível: 55% a 41%, com 13 mil votos de vantagem para Camilo. Bem melhor, por exemplo, que a apertadíssima vitória de Eunício em seu município, Lavras da Mangabeira. Foram apenas 130 votos de diferença para o petista.
VOTOS DE RESSENTIMENTOAlguns dos resultados mais curiosos da eleição foram nos municípios dos dois favoritos do Pros para concorrer ao Governo do Estado, mas que acabaram preteridos por decisão do governador Cid Gomes (Pros), que preferiu Camilo Santana (PT). Em Massapê, cidade do presidente da Assembleia Legislativa, Zezinho Albuquerque (Pros), Eunício venceu por vantagem de 300 votos. Em Tauá, terra do ex-vice-governador e hoje conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios, Domingos Filho, foram mais de três mil votos de vantagem para o peemedebista. Situação que se repetiu por toda a região dos Inhamuns.
Desde o primeiro momento, ficou claro que aliados de Domingos e Zezinho não engoliram a opção de Cid Gomes. E ambos não mostraram capacidade, ou disposição, ou vontade, de reverter o quadro.
A NOVA RELAÇÃO DE TASSO COM FORTALEZAHistoricamente, Fortaleza foi um problema para Tasso Jereissati (PSDB) nas eleições. Mas, neste ano, ele foi eleito senador com votação maior na Capital que no Interior. Enquanto teve 57,91%% dos votos válidos no conjunto do Estado, ficou com 63,66% entre os eleitores fortalezenses. A variação do desempenho de Mauro Filho (Pros) foi ainda maior, mas para pior: 29,65% em Fortaleza, contra 39,37% no Ceará inteiro.
A VITÓRIA DE TASSO E A RECONSTRUÇÃO DO PSDBPor falar em Tasso Jereissati, ele foi eleito para retornar ao Senado, mas seu desempenho foi muito, muito maior que o de seu partido, o PSDB. O partido hoje está bem mais frágil até do que quatro anos atrás, quando Tasso perdeu para o Senado. Em 2010, os tucanos eram a segunda maior bancada da Assembleia Legislativa, com sete deputados. Na Câmara dos Deputados, já vinha em crise e tinha dois parlamentares. Nessa eleição, o partido emplacou um em cada Casa legislativa: Carlos Matos deputado estadual, o sobrevivente Raimundo Gomes de Matos deputado federal, além de Tasso senador.
No domingo, antes de Tasso votar, perguntei a ele sobre como vislumbra o futuro do partido que já foi, não faz pouco tempo, uma potência de hegemonia absoluta no Estado. Na resposta, ele situou o momento tucano a uma crise que considera maior. E fez até um inesperado elogio, embora retroativo, ao maior adversário, embora faça questão de situar que a qualidade que reconhece no passado se acabou no presente.
“Está uma bagunça política. Não pode continuar essa bagunça política. O que você vê por aí é uma verdadeira salada política. Na verdade, você não vê nenhum partido aqui, nem o PT mais, com consistência. O PT ainda guardava alguma consistência, se acabou nessas eleições. Não no sentido eleitoral, mas no sentido de ter alguma consistência. O PT vota em tudo que aparece, projeto, ideias. Tudo está confuso”.
Já para o PSDB, aposta em mudança de quadros. “É preciso ter uma renovação. Temos uma visão de mundo do PSDB. Gostaria muito de ajudar a fazer um processo de renovação da política cearense dando ao nosso partido, o PSDB, uma visão do mundo que é nossa e é muito diferente de outros partidos aí”.