A PRISÃO E O PAPEL DOS VEREADORESA prisão do vereador A Onde É (PTC), que, segundo a Polícia, teria sido flagrado recebendo o dinheiro do salário de assessor, remete a prática recorrentemente comentada nos corredores do Poder Legislativo, embora raramente comprovada. São antigos e comuns os relatos de que assessores, em troca da nomeação, pagariam aos parlamentares parte da remuneração a que teriam direito. Como há o receio de ficar sem nem ao menos a parte que recebiam, esses funcionários normalmente não denunciavam a prática. Há nove anos, a então deputada estadual Iris Tavares (PT) chegou a responder no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa também pela acusação de cobrar essa espécie de “pedágio” dos assessores, mas foi absolvida. O parlamentar se diz vítima de tentativa de extorsão. É sempre uma possibilidade. De qualquer maneira, há algo extremamente grave em curso. É importante ver como será a postura da Câmara.
Há precedente preocupante. Em 2012, o vereador Leonelzinho Alencar (PTdoB) foi acusado de receber Bolsa Família de forma irregular, nas vésperas da eleição. Os parlamentares fizeram mise-en-scène para simular alguma atitude, no calor das denúncias. Quando a campanha passou, esqueceram o assunto.
Ontem, a Câmara ensaiou alguma ação, mas sem dar nenhum sinal de que agirá com a energia necessária no caso do primeiro vereador preso no exercício do mandato na história de Fortaleza. Não esconderam que não pretendem se envolver nesse vespeiro na véspera da eleição. Sem condenação sumária, que a ação do Conselho de Ética não seja apenas um simulacro que joga para a plateia. O caso é um abalo sério demais na imagem do Poder Legislativo.