A estreia dos debates na televisão nestas eleições no Ceará, na TV O POVO, foi a primeira oportunidade de colocar os quatro candidatos a governador frente a frente e expor aspectos interessantes das estratégias. Pelo menos nesse primeiro embate. Afinal, a postura do início da campanha, na maioria das vezes, não é a mesma no fim. Eles puderam se conhecer melhor e, também, a postura uns dos outros. O que, seguramente, irá balizar o próximos debates.
O ALVO PREFERIDOEunício Oliveira (PMDB) foi o alvo mais visado por Ailton Lopes (Psol) e Eliane Novais (PSB). Como líder nas pesquisas, era de se esperar que estivesse mesmo na mira dos demais. Já ao perguntar a ambos, o peemedebista claramente pretendia usar os questionamentos como oportunidade de bater no Governo do Estado. Deu certo com a candidata do PSB, oportunidade em que ambos criticaram as prioridades invertidas no campo dos recursos hídricos. Já com o representante do Psol na disputa, a pergunta de Eunício sobre corrupção foi devolvida, com questionamento acerca das doações eleitorais de empresas, que depois se revertem em contratos estatais. Procedimento que foi apontado por Ailton como, também, uma forma de corrupção.
Foi um dos momentos mais quentes e o mais surpreendente do debate, no qual Eunício procurou responder destacando a atuação, como senador, na reforma do Código Penal, no projeto que transformou em hediondo o crime de corrupção e como relator da proposta que amplia a lei da Ficha Limpa.
EUNÍCIO FOI MAIS DURO COM CAMILOEunício, por sua vez, adotou tom mais duro apenas em relação a Camilo Santana (PT) – seu adversário mais próximo na disputa. Tanto ao perguntar quanto na hora de responder. Quando foi sua vez de questionar o petista, apontou o “fracasso” do concorrente, como secretário das Cidades, em relação ao cumprimento do prazo para fim dos lixões. Na sua vez de responder a Camilo, sobre trânsito e poluição, aproveitou para apontar que o metrô segue em fase de testes e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) está paralisado.
CAUTELA COMO ESTRATÉGIACamilo, por sua vez, foi o mais cauteloso no debate. Postura compreensível para quem é candidato do governo e, portanto, tem mais flancos a serem atacados. Atuou como time que joga com o regulamento. Não tinha objetivo de fazer gol, mas tampouco deixava espaço para contra-ataque. Não teve nenhum momento de brilho, mas também não passou por nenhum grande aperto. Ainda numa comparação futebolística, foi um “debatedor de resultado”, que atuou numa espécie de retranca.
SURPRESA E ESTRATÉGIA AGRESSIVAJá Ailton adotou a postura mais ousada. Foi a surpresa – até por ser o único a nunca ter exercido mandato – e quem mais chamou atenção no debate. Apertou todos os adversários, até ao responder – como com Eunício sobre corrupção. No embate com Camilo, insistiu na questão dos agrotóxicos e tentou vincular o candidato governista ao agronegócio. Tanto quando perguntou quanto ao responder a indagação do petista, sobre segurança alimentar. Ao perguntar a Eliane e Eunício, Ailton explorou contradições políticas. No primeiro caso, pelo PSB ter abrigado e apoiado Cid Gomes (Pros) em seu primeiro mandato. Com o peemedebista, indagou sobre ter mantido, por mais de sete anos, o secretário dos Recursos Hídricos do governo Cid, área à qual fez duras críticas no debate.
A única participação em que Ailton não foi mais duro foi quando, perguntado por Eliane sobre o Parque do Cocó, ambos fizeram “dobradinha” em discurso unificado contra a degradação ambiental.
OS TEMAS MAIS INESPERADOSJá Eliane abordou em suas perguntas os temas menos usuais no debate, quase sempre relacionados ao noticiário e nas redes sociais. A Camilo Santana, cobrou sobre a posição do presidente do partido, Diassis Diniz, que compartilhou texto no Facebook no qual a candidata a presidente, Marina Silva (PSB/Rede) é chamada de “vampira que só cresce com a morte”. Nesse sentido, cumpriu o que se esperava, que é se vincular à campanha nacional do PMDB. A Eunício, lembrou denúncia de que estaria “roubando” água do Lago Paranoá para regar o jardim de sua mansão em Brasília.
MAIS REVELADOR QUE O HORÁRIO ELEITORALNo fim das contas, o debate não acrescentou tanto sobre o conteúdo programático das candidaturas, apesar de alguns pontos terem sido superficialmente pincelados. Mas foi precioso para conhecer melhor a personalidade e a postura de cada um. Nesse sentido, foi mais revelador que toda a primeira semana de horário eleitoral.
QUATRO PROGRAMAS EM UMO formato do debate, idealizado pelo jornalista Marcos Tardin, deu mais destaque à atuação de candidato, deixando em evidência qualidades e defeitos. E teve o mérito de quebrar a monotonia dos modelos convencionais, em que os blocos se repetem. O fator crucial, cada candidato perguntou e respondeu a todos os oponentes. E, na prática, o que se teve foram quatro programas dentro de um nos quais, em cada um desses diferentes programas, o candidato era “entrevistado” pelos adversários. Para ver ou rever, acesse: http://bit.ly/1tNhRrf