Cid dependente do PT
O melhor da política são as variáveis que ninguém controla. Nem os protagonistas, muito menos os coadjuvantes. Porém, tanto uns como os outros exercem influência nos rumos dos acontecimentos, que se tornam dinâmicos. Há apenas um ano ninguém seria capaz de apostar no quadro político que se apresenta hoje no Ceará.
Chega a ser surpreendente o cenário que se configurou. Quando as circunstâncias levaram o grupo político do governador a deixar o PSB, foi estabelecida uma situação inusitada. A opção pelo Pros, uma insignificância partidária, deixou o grupo do governador completamente dependente de outros partidos para ter viabilidade eleitoral.
Compreendem? A trajetória do mais importante e mais poderoso grupo político do Ceará, que detém o Governo do Estado e a Prefeitura de Fortaleza, depende da boa vontade de outras siglas. Principalmente do PT. Sozinho ou ao lado de pequenos partidos, as chances desse grupo se manter no poder passam a ser bem menores.
Sozinho, o Pros terá pouco mais que 38 segundos no horário eleitoral. Com a adesão de siglas menores, não passaria, com boa vontade, de mais de dois minutos. É muito pouco diante do “latifúndio” de tempo que detêm o PT e o PMDB.
Mas não é só do horário gratuito que uma candidatura a governador precisa para se viabilizar. É preciso também um palanque nacional com um candidato a presidente de ponta. Sem o PT, isso não será possível. O raciocínio é só para reafirmar um ponto: o grupo do governador precisa do PT. Muito mais até que do PMDB. E é evidente que tanto um quanto o outro vão cobrar caríssimo para manter a aliança.
Não é à toa que tenha surgido a versão de que o governador Cid Gomes poderia lançar mão do apoio a um candidato a governador com ficha de filiação no PT. Seria uma saída bastante razoável para resolver o problema. Mas o neófito poderia perguntar: “E o grupo do governador abriria mão a favor de outro partido?”
Sim, é claro. Desde que o petista escolhido fosse muito menos petista e muito mais cidista. Mas, com a história política do PT, há gente no partido com características – digamos - tão heterodoxas? Há sim. O mais notório é o deputado estadual Camilo Santana. Nesse caso, o PT seria uma espécie de “cavalo de Tróia” a levar tropas cidistas.
Curiosamente, o comando estadual do PT trabalha para encurtar a agenda política. Reunido no final de janeiro, o partido deliberou pela aprovação do calendário eleitoral de 2014. Entre os pontos, está o seguinte: em 15 de março, será realizado o Encontro de Definição de Tática Eleitoral, “onde será decidido se o PT apoiará candidato ao governo do Estado do Ceará”.
Apostem: o PT não vai decidir nada em 15 de março, quando ainda restará mais de dois meses para que as articulações se desenrolarem. As convenções só ocorrem em junho. Não há motivo razoável para antecipar uma decisão dessa magnitude. A data estipulada não passa de jogo de pressão.
Mas, um fato permanece: a agenda não está sob o controle absoluto de quem detém o poder no Ceará. O senador Eunício Oliveira fustiga e tem obrigado o PT a dar respostas. A pré-candidatura do peemedebista tem obrigado o PT e também o grupo do governador a fazer movimentos que jamais ocorreriam tão cedo se a aliança mantivesse a homogeneidade.