Burocracia destrutiva
CID VERSUS MANTEGAÉ estranho o conflito entre Cid Gomes e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O governador provocou terremoto na política cearense, ao mudar de partido para não deixar de apoiar a administração da qual Guido é um dos principais integrantes. Dificilmente abriria guerra com o gestor de área tão sensível se não estivesse muito bem embasado. Se não tivesse mais informações do que as que tornou públicas. O rebaixamento da nota do Ceará partiu do Tribunal de Contas da União (TCU). Cid atribui ao ministro o vazamento para a imprensa, meses depois de o episódio ter se dado. O episódio foi mencionado por Heitor Férrer (PDT) na Assembleia Legislativa, na semana passada, e noticiado pelo O POVO no dia 11. Três dias depois, saiu na Folha de S.Paulo. Mas o primeiro registro que conheço sobre o fato na imprensa é anterior: na coluna do jornalista Elio Gaspari de 8 de dezembro, publicada na edição impressa do O POVO, ele já tratava do episódio. E não era para poupar Mantega, mas para reclamar do “jeitinho” dado por ele para liberar empréstimo do Banco Mundial (Bird), que a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) sugeriu rejeitar. “Guido Mantega deve contratar um ator para representar o papel de defensor da responsabilidade fiscal. Sua capacidade de desempenho esgotou-se. Não se pode dizer que perdeu a credibilidade. O que perdeu foi a graça”, escreveu Gaspari, que acrescentou, sobre o endividamento: “Quando chegar a hora de pagar ao Bird, o Ceará terá outro governador, e a Fazenda, outro ministro”. Cid há de estar bem embasado para acusar o sujeito, responsável por comandar a economia brasileira em momento tão atribulado, de gastar tempo plantando notícias a seu respeito, que resvalam no próprio Mantega. Muito provavelmente, há mais nesse conflito subterrâneo do que veio à tona.
Mas, talvez o mais importante seja passar a limpo qual o real nível de comprometimento da economia cearense. É fato que Cid buscou financiamentos como nunca antes se viu. Gaspari dizia que a STN apontara atrelamento excessivo da dívida ao dólar, o que deixaria o Estado vulnerável em caso de oscilação cambial mais profunda. Esse debate é mais relevante que a futrica política.