Embora jovens sejam a maioria do eleitorado, os discursos dos prefeituráveis sobre o tema ainda são vagos
Mesmo representando maioria do eleitorado, os jovens ainda não estão plenamente contemplados nas propostas e planos de governo dos candidatos na Capital. Na avaliação de pesquisadores, discursos vagos e ultrapassados ainda são recorrentes quando o assunto é juventude. Segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Ceará, 42% dos eleitores de Fortaleza estão na faixa etária entre 16 e 24 anos. Quando acrescentadas as estatísticas do público com idade entre 25 e 34 anos, essa fatia sobe para 67% do eleitorado total da cidade.
Para o professor Irapuan Peixoto, da Universidade Estadual do Ceará, os candidatos que se referem à essa temática de maneira mais clara são Elmano de Freitas (PT), Renato Roseno (PSOL) e Roberto Cláudio (PSB). O pesquisador explica, porém, que "ainda falta uma maior objetividade do que se está falando". E complementa: "nenhum apresenta proposta objetiva de como vai fazer isso. Quem dá a proposta mais clara em programa é o Renato Roseno, que diz que vai aumentar o orçamento da Secretaria Municipal de Direitos Humanos".
No singular, a juventude se faz incompleta, é o que afirma Irapuan Peixoto, que faz questão de ressaltar a "diversidade" dos jovens, poucas vezes explorada em discursos e programas. O especialista ainda aponta que a atual gestão até atende a essas particularidades de trabalhar a "juventude em diversidade, aumentar a participação e entender como sujeito de direito", mas a postura seria mais no "âmbito do discurso" do que da prática.
O candidato do PT, Elmano de Freitas, segue uma linha de continuidade da política atual, considera. "Ele está seguindo o mesmo trilho. Um dos destaques é o Conselho Municipal de Juventude. Se cria a esfera política de participação, que tem espaço institucional, mas não configura política efetiva", opina. No programa de governo, Elmano destaca as ações da Prefeitura voltadas para a juventude.
Atraso
A professora Celecina Veras, da Universidade Federal do Ceará, ressalta que o discurso político direcionado à juventude ainda é muito conservador. Um dos exemplos apontados é a referência constante dos postulantes, principalmente no caso dos candidatos a vereador, ao combate às drogas. "Se vê o jovem sempre pelo lado negativo. Não se lembra, por exemplo, que a principal característica da juventude é o lazer. O discurso ainda é muito conservador", declara.
Segundo Irapuan Peixoto, esse tema é muito explorado pelos candidatos a vereador porque, além de o tráfico ser um problema crítico na cidade, a pauta das drogas tem uma abordagem fácil, "sobre o qual se pode falar sem medo de errar e encontra ressonância, mas não estão sendo apontadas respostas". Assim, esse discurso "produz eco" para esses líderes comunitários.
O professor da Uece avalia que a questão das drogas está sendo mais amplamente levantada do que a própria geração de empregos. Segundo diz, o candidato Moroni (DEM) é o que aborda mais intensamente essa questão do trabalho para os jovens. A professora Celecina Veras acrescenta que ainda falta consistência nas propostas dos candidatos sobre juventude e mercado de trabalho. "Percebe-se que os candidatos, principalmente do executivo, falam de juventude e renda de uma forma muito ampla, nada tão objetivo", expõe. Ela lembra que, além de prometer empregos, é preciso garantir condições adequadas de trabalho.
Participação
A inserção dos jovens no cenário político também é peculiar. Se em décadas passadas, a juventude se organizava em partidos e movimentos estudantis, hoje a participação é mais segmentada. Basta lembrar os movimentos ambientalistas, feministas, culturais e religiosos. Para Celecina, há, sim, participação política, mas em esferas distanciadas da política tradicional.
Para a pesquisadora, é equívoco dizer que o jovem não gosta de política. Na verdade, explica, a juventude está desapontada com partidos e candidatos.
De acordo com o professor Irapuan Peixoto, as pautas de reivindicações dos jovens têm se modificado e, por isso, fica a impressão de que o campo político está esvaziado. "Essa participação não é de política tradicional", considera.