Para o deputado João Jaime, as construções das cisternas de enxurradas por ONGs podem ser um outro caminho para desvio de recursos
FOTO: JOSÉ LEOMAR
Para o deputado João Jaime, liberar dinheiro para ONGs é investir em novo escândalo como os dos banheiros
Água poluída e desvio de finalidade com o dinheiro público. Estas foram algumas denúncias apresentadas pelos tucanos João Jaime e Fernando Hugo na manhã de ontem, no plenário da Assembleia Legislativa, quanto aos programas de combate à seca. De acordo com eles, material danoso à saúde da população está sendo distribuído pelos carros-pipa e o Governo está gastando mal o dinheiro quando quer investir em cisternas no valor de R$ 225 milhões, recursos que serão aplicados por ONGs.
Fernando Hugo, por exemplo, afirmou que recebeu um relatório na sexta-feira passada, assinado por Manoel Fonseca, da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) e afirmou que "nunca a qualidade de água foi desse jeito. A água que estão servindo é água de péssima qualidade", lembrou ele, que visitou municípios no fim de semana. "A quantidade de ameboides e bactérias, bem como material de metais pesados é enorme. Isso porque os ´pipeiros´ não têm a estrutura necessária que o Ministério da Saúde assegura", reclamou.
Manoel Fonseca teria feito uma exigência, solicitando aquisição de estações de tratamento móvel para que em cada grande reservatório se coloque tais instalações que não custam muito ao Estado e pode evitar um mal maior à população. "Eu espero que Dilma faça essa exigência ser cumprida".
Licitações
De acordo com ele, o leilão do milho, destinado ao Nordeste "escafedeu-se", ainda que todos os municípios da região se encontrem em necessidade emergencial devido a estiagem.
Para esses casos emergenciais, ele lembrou que existe a mudança na Lei de Licitação, para assuntos emergenciais."Isso é preocupante se constatarmos que as pessoas estão bebendo água contaminada. As contaminações por material pesado levam a doenças graves como leucemias e tipos diferentes de câncer". Conforme disse, existe exigência para que a água seja tratada e desinfecção com agentes químicos.
"A presidente Dilma esteve aqui e eu lembrei que existia muito de promessas exageradas e que o R$ 9 bilhões estampados não era realidade. Muito já estava disponível", disparou Fernando Hugo. "Isso é uma vergonha para o País que faz Copa do Mundo". Para Ely Aguiar (PSDC), o que falta é prioridade de critérios e para ele o Governo Federal não tem o problema do Nordeste como principal meta em sua gestão. "A gente lamenta que tenha tido falta de competência da Secretaria de Agricultura ou Funceme que nós teríamos uma quadra chuvosa abaixo do esperado. Isso demonstra a incompetência das pessoas que estão nesses órgãos", lamentou Aguiar.
Consumo
O documento sobre a qualidade da água apresentado pelo deputado Fernando Hugo, será encaminhado no próximo dia 24 de abril à presidente Dilma Rousseff e inicia dizendo que o Ministério da Saúde lembra que a água para consumo humano deve ser potável, independentemente, de sua origem. Já João Jaime, reclamou da proposta da Secretaria de Desenvolvimento Agrário que quer investir R$ 225 milhões para construção de cisternas no Estado, o que ele denominou como um "desvio de finalidade do dinheiro público".
Desvirtuada
Ele informou que irá apresentar um requerimento pedindo ao governador Cid Gomes que reveja essa proposta " totalmente desvirtuada da realidade do cearense". "A presidente Dilma anunciou bilhões de reais e até agora não chegou. As ações de cisternas poderão estar trazendo uma nova onda de "indústria da seca", criticou ele, devido ao envolvimento de Organizações Não Governamentais (ONGs) na administração dessas cisternas.
João Jaime disse que entregar esse dinheiro a ONGs está se estimulando um novo escândalo igual ao do caso dos banheiros ou Kits sanitários. O Governo liberou o dinheiro para associações comunitárias e os recursos foram desviados.
O deputado Manoel Duca (PRB), que faz parte da Comissão Especial da Seca, presidida por João Jaime, também se confraternizou com a fala do seu adversário político do Acaraú, e lembrou que não interessa para a população a construção de cisternas, pois não existe água para armazenar. Ele defende a política de mais carros-pipa. "A finalidade maior é a perfuratriz e a presidente quer prestigiar o pessoal do Sudeste, por isso manda esses materiais para cá", disse.
Importante
Dedé Teixeira (PT) disse que a política de cisterna é importante, porque é o pensamento além do Governo da presidente Dilma. Ele afirmou ainda que as ações propostas por João Jaime para serem viabilizadas são muito difíceis de serem postas em prática emergencialmente. "Isso não existe na estrutura burocrática de Governo. A política de convivência com o semiárido está sendo construída agora e com as ONGs mesmo".
Para o petista, a cisterna de enxurrada, com 50 mil litros de água é a mais necessária para manutenção no convívio das populações dos municípios que sofrem com seca. "Isso é pouco ainda para os desafios que são para enfrentar uma seca como essa", apontou. Fernando Hugo, por sua vez, afirmou ser favorável a adutoras, por conta do momento emergencial que está ocorrendo no Estado, atualmente.
Antônio Carlos também afirmou que existe uma tentativa de responsabilizar o Governo sobre o agravamento da situação de seca no Ceará. De acordo com ele, as invasões às instituições públicas só não estão acontecendo devido às politicas feitas pelo Governo da presidente Dilma Rousseff, salientando ainda que ela vem implantando políticas, sim, de preocupação com a região Nordeste.
Idemar Citó (DEM) lamentou que nenhuma ação do Governo Federal foi feita para diminuir a situação da população do Nordeste. De acordo com ele, a discussão sobre as cisternas são demoradas e que isso deveria ter sido feito ao longo do tempo, falha que Dedé Teixeira reconheceu em seu pronunciamento ao afirmar que os últimos presidentes brasileiros não fizeram o que deveria ter sido feito para evitar a situação atual.