Agricultores do município de Tauá, na região dos Inhamuns, realizaram, ontem, uma manifestação, com o objetivo de chamar a atenção dos governos federal e estadual, para o problema da seca, falta de alimentação para os rebanhos e dificuldade de acesso ao crédito.
Segundo o vereador Cláudio Régis (PP), que idealizou o manifesto, a concentração dos criadores aconteceu na BR-020, próximo ao Cecitec. De lá, em carreata, os produtores fizeram manifestações em frente ao Banco do Brasil e Banco do Nordeste, inclusive, com carcaças de animais, chamando a atenção para as dificuldades de alimento para os animais.
A manifestação foi encerrada com a realização de uma Audiência Pública, na Câmara Municipal, quando foram apresentadas reivindicações ao poder público. Prefeitos, vereadores, sindicatos, associações e cooperativas de municípios da região dos Inhamuns, além dos deputados integrantes da Comissão da Seca da Assembleia Legislativa, foram convidados para participar do evento.
Na JustiçaEm pleno período de uma das maiores secas das últimas décadas, no Nordeste, cerca de 600 pequenos e médios agricultores cearenses, da região dos Inhamuns, ainda podem ficar sem o pouco que lhes restam. Eles brigam na Justiça para não perder os bens, por conta de dívidas adquiridas em empréstimos junto às instituições financeiras, realizados ainda nos anos 90.
Agricultores reclamam que cobrança de juros é exorbitante. De acordo com a Andar (Associação Nacional de Amparo Jurídico ao Produtor Rural), que realizou o levantamento, cerca de 90% dos casos, contabilizados da década de 90 até agora, são de execuções judiciais realizadas pelo Banco do Nordeste e Procuradoria de Geral da Fazenda Nacional do Ceará.
O agricultor Francisco Alves Rodrigues, mais conhecido na região dos Inhamuns como Chico Mariano, está prestes a entrar nesta lista. Ele se antecipou à execução judicial e procurou o escritório regional da Andar, em Tauá, para obter informações de como proceder. “Fiz três empréstimos, todos na década de 90. Um de R$ 33 mil, um de R$ 15 mil e outro de R$ 7 mil. Já paguei R$ 22 mil e estão me cobrando R$ 285 mil, no final das contas, por causa dos juros”, afirmou o agricultor, lamentando a situação.
Segundo Chico Mariano, a proposta da instituição financeira foi de efetuar o pagamento, com entrada de R$ 80 mil e parcelar o restante da dívida em mais dez anos. “Como vou pagar isso?. Não tenho condições. Estamos vivendo uma seca muito violenta aqui. Todo mundo está vendendo seus rebanhos por ninharia”, afirma.
“Não sei como fazem uma lei em que até R$ 35 mil concedem desconto de até 80%, mas se for de R$ 36 mil, não há um só real de abatimento sobre a dívida. Isso tinha que ser repensado de uma forma melhor”, desabafa. O representante da Andar, nos Inhamuns, Francisco de Assis Barroso, orientou o agricultor a procurar novamente a entidade, quando for notificado da execução judicial. “Muitos já estão protegidos com uma sentença no Tribunal de Justiça do Ceará. À medida que o BNB e a Procuradoria botam na Justiça, nós conseguimos embargar a execução”, conta Barroso. Conforme explicou, a maior reclamação, por parte dos agricultores, é o crescimento do valor da dívida.