A eleição da saúde
Eleição é organismo com vida própria. Às vezes, pensa-se que ela vai para um lado, mas toma rumo, indiferente a estratégias pré-programadas. Essa é a graça da política. Mas, pelo menos na montagem das chapas, percebe-se que a saúde deverá ser o tema prioritário deste ano em Fortaleza. Os candidatos dos cinco maiores partidos têm um médico como candidato a prefeito ou a vice. Como cabeças de chapa, há Heitor Férrer (PDT) e Roberto Cláudio (PSB). Além deles, Moroni Torgan (DEM) tem ao seu lado Lineu Jucá (DEM); o vice de Marcos Cals (PSDB) é o deputado e médico Fernando Hugo (PSDB); e Elmano de Freitas (PT) concorrerá junto com Antonio Mourão (PR). A chapa de Inácio Arruda e Chico Lopes não tem médico, mas o partido comanda a Secretaria da Saúde do Estado e, também, tem histórica hegemonia sobre o Sindicato dos Médicos. O que, aliás, provoca queixas da Prefeitura quanto ao que considera rigor muito maior em relação à saúde municipal que à estadual. O enfoque à saúde não é à toa. Na pesquisa Ibope encomendada pelo PSB, o tema aparecia com franco destaque como a área mais problemática de Fortaleza, muito à frente de outros setores citados de forma recorrente, como educação, segurança ou mesmo trânsito e transporte - assunto da moda nas preocupações da classe média. Além disso, é questão simpática e permanentemente crítica. Para cada família, é preocupação que costuma estar acima de qualquer outra. Um dos fatores que o PSB usou como argumento para escolher Roberto Cláudio foi justamente sua profissão. As indicações de Mourão e Jucá para vice tiveram, é óbvio, esse ingrediente. O desafio dos candidatos será sair do óbvio, do rame-rame, do discurso fácil. Do simples “dar mais dinheiro” e, também, da pirotecnia. O fato de ter médico como candidato a prefeito ou a vice de forma alguma é garantia de cativar o eleitor preocupado com essa bandeira. Afinal, já houve muitos gestores com atuação nessa área que não conseguiram representar melhorias efetivas. Além disso, José Serra (PSDB) - goste-se dele ou não - teve gestão reconhecidamente marcante no ministério, sem ser profissional do ramo.
Eleger um médico, por esse mero atributo, pode ser muito útil se a intenção for que ele comece a clinicar no Paço Municipal. Evidentemente, não é o caso. Portanto, terão de mostrar muito mais.