O governo de Camilo Santana (PT) ficou, no último mês, com um pouco menos de aparência de Ferreira Gomes. Mas, ainda tem muito a cara do clã que levou o petista ao poder. A saída de Danilo Serpa (Pros) das Relações Institucionais, deslocado para a Cearáportos – estratégica, mas periférica – tirou o grupo do Pros não apenas do comando da articulação política. Os aliados mais diretos do Ferreira Gomes ficaram longe do núcleo decisório do Palácio da Abolição. Com a saída de Ivo Gomes (Pros) das Cidades, a família mais poderosa do Ceará entregou o controle da secretaria cuja ação talvez seja mais capilarizada no Interior. Uma máquina de pequenas obras, de onde Camilo saiu para virar governador. E que ficou ainda mais poderosa com Ivo, ao incorporar o controle dos metrôs de Fortaleza, Cariri e Sobral e também a gestão do Detran. Ivo deu as costas a uma supersecretaria. Em poucas semanas, o grupo do Pros deixou espaços poderosíssimos, por certo. Mas mantém outros tantos.
O ciro-cidismo ainda controla, principalmente, o cofre do Estado. É o coração de qualquer administração, que dita o ritmo de todas as áreas e a tudo monitora. O secretário da Fazenda é Mauro Filho (Pros), integrante da chapa de Camilo na eleição passada e que conduz a economia estadual há oito anos e meio. Está embrenhado na máquina administrativo-financeira estadual lá se vão mais de 20 anos. Ou seja, a conhece por dentro como ninguém. E é ligadíssimo a Ciro Gomes já se vão uns 30 anos.
Outra presença forte do grupo– e do cirismo em particular – é Arialdo Pinho no Turismo. É o condutor de uma das maiores máquinas de investir, realizar obras e de atrair recursos externos.
Quem também se tornou bastante próximo ao grupo do ex-governador e de seus irmãos foi o ex-ministro da Integração Nacional e atual secretário dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira. Comanda o setor que, ao lado da Segurança Pública e da Saúde, mais preocupa a administração estadual, diante do cenário de seca prolongada. A pasta está também envolvida diretamente com uma das maiores obras da história do Estado – o Cinturão das Águas.
E, tal qual Cidades, a Secretaria dos Recursos Hídricos ficou mais encorpada na gestão de Camilo. Na reforma administrativa aprovada no início do ano, a Funceme passou ao comando da pasta, deixando a esfera da Secretaria da Ciência e Tecnologia.
Outra presença influente e ligada aos Ferreira Gomes no primeiríssimo escalão de Camilo é Izolda Cela (Pros). Além de vice-governadora, tem assumido papéis importantes, como na coordenação do Ceará Pacífico, que coordena o planejamento de ações na segurança. Além disso, é interlocutora de Camilo em decisões cruciais.
E há outros movimentos a serem ponderados. O lugar que era de Serpa na articulação política é hoje de Nelson Martins (PT). É um petista, de longa tradição no partido. Mas, ao longo de oito anos, primeiro como líder e depois como secretário do ex-governador, tornou-se também aliado fidelíssimo a Cid Gomes, embora sem jamais ter desfrutado do núcleo decisório central – algo do qual chega perto como nunca, agora com Camilo .
Portanto, se é fato que a presença dos Ferreira Gomes na administração está menor, ela ainda passa muito longe de ser pequena.