“Não consegui coordenar as ações da Secretaria. A saúde é um sistema imenso. E a coordenação é essencial. O que senti nestes quatro meses, de fato, foi isso. Não consegui um consenso para levar as ações da Secretaria numa determinada linha. Grande parte dos colegas, principalmente em Fortaleza, acredita que a solução é mais hospitais, e eu não concordo. Acredito numa atuação mais ampla, descentralizada. Esse consenso, eu não consegui dentro da Secretaria”. Foi com essa declaração que o ex-secretário da Saúde do Estado do Ceará, Carlile Lavor, explicou, ontem, durante reunião da Comissão de Seguridade Social da Assembleia Legislativa, as motivações que o levaram a pedir exoneração após quatro meses no cargo.
O ex-secretário defendeu o fortalecimento e o aumento de repasse para os hospitais filantrópicos, já que, segundo ele, o custo operacional é menor do que os hospitais públicos. “O custo dos hospitais públicos geridos pelo ISGH é muito mais alto que o dos filantrópicos, por isso, defendo que eles sejam mais beneficiados e recebam mais estímulos do Governo do Estado”, disse ao responder questionamento dos deputados. E criticou também a forma de custeio dos equipamentos de saúde do Estado.
Ainda segundo ele, a maioria dos acordos firmados entre o Estado e a União foi apenas verbal, intermediado pelo Ministério da Saúde, sem nenhuma oficialização formal. Pelo menos, de acordo com ele, foi o que deixou claro o ministro da Saúde, Artur Chioro. “A grande maioria dos entendimentos foram verbais. É um fato. Entendo que estivemos duas vezes com o ministro da Saúde, governador e eu, e o que ele coloca é que está cumprindo o que está escrito em portarias”, salientou.
Repercussão
A fala de Carlile gerou cobrança por parte de alguns parlamentares. O deputado Danniel Oliveira (PMDB) pediu que o secretário interino da Saúde do Ceará, Henrique Javi, seja convocado à Assembleia Legislativa, para prestar esclarecimentos sobre a crise da saúde no Estado e sobre o funcionamento do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), responsável pela gestão dos grandes hospitais públicos.
“Quem comanda, na realidade, a saúde do Ceará é o ISGH, um instituto onde não há nenhum tipo de transparência nas suas execuções”, declarou, ressaltando o Instituto tem consumido os recursos da saúde, porém não presta o serviço da forma correta. Carlile, mais cedo, informou que os procedimentos realizados nos hospitais geridos pelo ISGH custam até três vezes mais que nos hospitais filantrópicos.
Para Danniel, o Estado se tornou “refém” do ISGH. Os hospitais públicos do Ceará, tanto na Capital, quanto no interior, não conseguem prestar o atendimento adequado a população, devido a superlotação, a falta de equipamentos e insumos básicos, e má gestão de recursos. “Vamos aproveitar a tribuna dessa Casa pra fazer as denuncias corretas, até entrar na Justiça se for necessário, mas para fazer com que os recursos do Estado do Ceará sejam, de fato, gastos de maneira adequada”, finalizou. Quem também pediu esclarecimentos foi o deputado Tomas Holanda (PPS).
Simec vê “boa intenção” de CamiloSantana
O governador Camilo Santana (PT) esteve reunido, ontem, no Palácio da Abolição, com a presidente do Sindicato dos Médicos do Estado (Simec), Mayra Pinheiro, debatendo demandas da saúde público do Ceará. Ao jornal O Estado, Mayra explicou que o governador apresentou “a realidade orçamentária do Estado”, o que, segundo ela, sinaliza a falta de recursos. De acordo com a médica, o problema é crônico e precisa ser discutido. A atual crise na saúde, denunciada pelo Simec, na opinião dela, não se trata, de oposição política, mas de um alerta aos gestores que podem cobrar mais recursos ao governo federal. “Esperamos um engajamento do prefeito Roberto Cláudio, seguindo o exemplo do governador Camilo Santana”, disse. Atendendo chamamento de Camilo para participar do comitê para discutir a Saúde, Mayra adiantou que buscará apresentar soluções viáveis que utilizem poucos recursos, diante da situação orçamentaria do Estado.