A Comissão de Agropecuária da Assembleia Legislativa programa para hoje uma reunião importante para debater as medidas de emergência preconizadas para o semiárido, com destaque para temas recorrentes como a falta d'água, em processo de generalização, e o desaparecimento do pasto para o consumo animal.
Enquanto isso, o governo do Estado elegeu três eixos de atuação objetivando minimizar os efeitos da estiagem: a ampliação do emprego de carro-pipa para abastecer as comunidades com escassez d'água; a perfuração de poços profundos; e a instalação de adutoras de montagem rápida para deslocar água dos açudes com água estocada para as concentrações urbanas em situação crítica.
Embora esse tripé esteja situado entre os meios passíveis de emprego, há, no fundo da questão, problema maior relacionado com a ausência de água estocada, capaz de atender às demandas de consumo, tanto das sedes dos municípios, como dos distritos e suas zonas rurais. Entre os pleitos a serem propostos ao governo federal, essas três providências recebem nota de prioridade.
Ocorre que elas estão bem distantes da solução definitiva do problema do suprimento d'água humano e animal no Ceará, por conta da natureza do solo fincado sobre rochas que impedem a penetração das águas de chuva para o subsolo. A própria Secretaria de Recursos Hídricos reconhece: de cada grupo de 100 poços perfurados, mesmo com o emprego de tecnologia avançada, 30 poços apresentam vazão insignificante.
Além dessa particularidade, há uma segunda tão significativa quanto a primeira. De cada grupo de 100 poços com vazão significativa, 70 deles fornecem água salobra, servindo apenas para limpeza ambiental das residências e para o consumo animal. A alta taxa de salinidade impede o consumo humano por conta de seus efeitos maléficos na saúde.
A questão da alta salinidade tem implicações menores do que a escassez do subsolo. Tecnologia sofisticada possibilita a redução dos níveis de salinidade, viabilizando seu consumo. Essa solução há muito deveria estar expandida no interior, onde poços profundos instalados em comunidades paupérrimas estão praticamente inservíveis.
Atualmente, o fornecimento de água para inúmeros distritos, comunidades rurais e municípios de pequeno porte vem sendo feito por uma frota de mais de mil carros-pipa. O problema mais questionado no sistema é o da qualidade da água, bem distante de ser potável. Na ausência de outro recurso hídrico de qualidade, seu emprego tem inúmeros reflexos na saúde, provocando diarreias originadas da água sem tratamento.
Diante desse quadro de emergência, comum aos demais Estados do Polígono das Secas, a principal reivindicação da região deveria ser concretizada num movimento político de peso para antecipar os cronogramas das obras de transposição das águas do Rio São Francisco para as bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional.
Todos os pleitos até agora alinhados dependem, fundamentalmente, de água estocada. Os açudes públicos e privados do semiárido estão nas etapas finais de sua capacidade de retenção. Novos açudes, cisternas, poços profundos e adutoras simplificadas dependem, essencialmente, de água, e as previsões de poucas chuvas estão se confirmando.
O Ceará foi tímido em seus pleitos apresentados ao governo federal. Os programas em curso, financiados pelo Tesouro Nacional, terão maior utilidade porque inseridos num projeto global.