A Sociedade Cearense de Pediatria (Socep) entregou ao novo secretário de saúde do Estado do Ceará, na manhã de ontem em sua sede, o plano estratégico para a melhoria da saúde infantil durante gestão do governador Camilo Santana. Entre as propostas, está transformar o Hospital Zilda Arns (Hospital da Mulher) em Hospital Materno-Infantil.
O grupo de ações foi desenvolvido pela Socep e por 40 pediatras e faz parte do Programa Viva Criança Cearense cujo objetivo é melhorar a estrutura da política de saúde da criança sob quatro aspectos: atenção ambulatorial; atenção hospitalar; atenção à criança na escola; informação, comunicação e mobilização comunitária. Entre as ações que podem ser destacadas ,estão: a reorganização da rede assistência secundária e terciária; otimização da atenção perinatal; centralização da regulação dos leitos pediátricos (Secretaria de Saúde do Estado e do Município); fortalecimento da atenção básica pediátrica e da atenção de urgência em nível secundário; valorização do pediatra; enfrentamento dos distúrbios nutricionais; ampliação da vacinação com enfoque no sarampo; promoção da educação sexual e auxílio à gestante em situações de emergência.
Transformar o Hospital da Mulher está entre as estratégias de reorganização da rede de assistência secundária e terciária, que visa identificar, nas redes estaduais e municipais, os leitos ativos em processo de desativação e leitos para continuidade de tratamento clínico do paciente, bem como de assistência pós-cirurgias. “Não precisamos aumentar o número de leitos, precisamos qualificar os que já existem”, afirmou a presidente da Sociedade Cearense de Pediatria, Fracielze Lavor, ressaltando que falta qualificação para receber o doente crônico. “São crianças com complicações que precisam de leito em hospital secundário ou, se tiver um programa domiciliar, isso pode ser feito na própria casa do paciente”, comentou. Segundo Francielze, o Hospital da Mulher tem capacidade de deixar de ser um hospital de gênero e passar para materno-infantil, onde a mulher poderá ser atendida do pré-natal ao pós-parto e o recém-nascido que tiver problemas poderá ficar internado.
proposta viável
De acordo com a vice-presidente da Socep, Jocileide Sales Campos, a proposta é viável. Segundo ela, o Hospital da Mulher é equipado com aparelhos e laboratórios de imagens e há vários leitos que podem ser utilizados. “Essa proposta é viável, temos o Hospital Infantil Albert Sabin, que é muito bom, e temos uma maternidade excelente, mas não temos um lugar que tenha acolhimento para a mulher e criança juntos”, defendeu. Ainda conforme Jocileide, idealizadora da extensão do atendimento, a proposta é que a unidade atenda, pelo menos, crianças de até seis anos, mas, inicialmente, deve receber até os seis meses de idade.
O secretário de Saúde do Estado do Ceará, Carlile Lavor, afirmou que irá analisar cada ação e a viabilidade para dar início ao pacote de melhorias. Segundo ele, o projeto abrange o Ceará inteiro e assegurou também que o Hospital da Mulher tem capacidade para estender o atendimento. “O HM tem muitos leitos vazios, ainda temos muita morte materna, e não se justifica deixar uma mãe morrer de parto se há leitos desocupados que podem ser dedicados à mãe e à criança que vai nascer”, disse Carlile, salientando que é uma dificuldade para as crianças que nascem com problema, onde muitos médicos não querem fazer o parto com medo da falta de assistência médica. “Lá[HM] tem UTI neonatal pronta para uso. As mães que tiverem complicações serão atendidas”, assegurou o secretário.
Sobre o quadro de pediatras, Carlile e Fracielze informaram que, enquanto não há realização de concurso, a sugestão é utilizar, inicialmente, os profissionais das cooperativas de pediatria. Apesar de não ter sido informado sobre os recursos nem previsão para que as ações deem início, a presidente da Socep assegurou que a médio prazo os leitos vazios serão ocupados. Para tanto, ainda será feito um levantamento e identificação dos hospitais aptos a receberem os pacientes infantis crônicos.
OUTRAS PROPOSTAS
• Qualificar os leitos de pediatria dos hospitais das redes municipais e estadual; captar equipe interdisciplinar;
• Otimizar o Programa de Atenção Domiciliar no Hias;
• Criar programas de Atenção Domiciliar nos Hospitais Regionais e hospitais das redes municipais;
• Definir hospitais secundários da Rede Municipal e pactuar com a equipe do Hias;
• Qualificar leitos dos hospitais/maternidades das redes municipais para atendimentos de médio e baixo risco;
• Propor a regulamentação governamental sobre a merenda escolar – Lei Estadual; promover mudanças de hábitos e comportamentos.
• Elaborar material educativo sobre DST, Aids e planejamento familiar, dentre outras.
COMBATE AO SARAMPO
Um dos focos do plano é promover campanhas de sensibilização e mobilização junto à sociedade no combate ao sarampo através de parcerias entre a saúde e educação. A vice-presidente da Socep aproveitou para fazer um alerta à população: “Deixamos o sarampo caminhar muito, mas existe, hoje, uma decisão da Secretaria de Saúde Estadual e Municipal de eliminar de vez o sarampo. A população precisa saber que, assim que a criança completar seis meses, já deve ser vacinada”, afirmou Jocileide Sales.
LEITOS NA REDE PÚBLICA DE FORTALEZA
Atualmente, os leitos pediátricos distribuídos na rede pública destinados à Unidade de Tratamento Intensivo, cirurgias e cuidados especiais estão nos hospitais: Hospital Infantil Albert Sabin, no Vila União, Hospital Geral de Fortaleza (HGF), no Papicu, Hospital Geral Dr. Waldemar de Alcântara (HGWA), em Messejana, e Hospital Nossa Senhora da Conceição, no Conjunto Ceará. De acordo com o secretário de Saúde do Estado, será construído um novo e maior hospital no local do Hospital Nossa Senhora da Conceição, já confirmado pela Prefeitura de Fortaleza. A secretária de Saúde do Município, Socorro Martins, disse que ainda irá analisar cada proposta e tomar conhecimento com mais profundidade, mas adiantou que irá reafirmar o compromisso de integração com o Estado, destacando que a cidade de Fortaleza tem uma responsabilidade maior nesse projeto. “Vamos nos empenhar e levar para nossa equipe avaliar para trabalharmos de maneira conjunta com o Estado para que possamos levar melhoria na vida das pessoas”. COBRANÇA“Conhecemos bem a realidade dos pacientes nos corredores, sabemos que existem leitos na rede municipal prontos a serem desativados e temos pediatras aqui engajados. Portanto, a partir de hoje, vamos cobrar da secretaria municipal e estadual. Queremos fechar um plano estratégico, discutindo um conselho estadual de saúde para levarmos a Assembleia Legislativa para que isso se torne projeto de lei. Fizemos questão desse primeiro contato com Dr. Carlile para, depois, chamarmos os deputados. Estamos tentando resgatar esse programa Viva Criança”, comentou a médica pediatra Anamaria Cavalcante, diretora do Hias.