A deputada Fernanda Pessoa (PR) diz considerar normal a atitude de políticos que optam pela troca de agremiação procurando maior comodidade
FOTO: JOSÉ LEOMAR
imprimir Image-0-Artigo-1776152-1A deputada Fernanda Pessoa (PR) diz considerar normal a atitude de políticos que optam pela troca de agremiação procurando maior comodidadeFOTO: JOSÉ LEOMARA criação de um novo partido no Ceará, o PL, conforme noticiou o Diário do Nordeste no último dia 8, pode esvaziar a oposição no Estado, uma vez que aqueles insatisfeitos com suas legendas podem ingressar no grêmio. Deputados de oposição na Assembleia Legislativa acreditam que a legenda pode se tornar uma ameaça ao "Grupo dos 13", bloco que quer figurar como a representação oposicionista na Casa.
Em 2011, com a criação do PSD no Ceará, inúmeros políticos, principalmente de partidos como o PSDB, ingressaram na agremiação, esvaziando a representação tucana no Legislativo Estadual. O deputado Roberto Mesquita (PV) destacou que a criação da agremiação visa apenas abrigar insatisfeitos em partidos de oposição, o que representa uma ameaça. Ele criticou o sistema partidário no Brasil, ressaltando que os partidos são comandados por dirigentes que se sentem donos dos grêmios.
"Se tem alguém na oposição que não está satisfeito ou não se dá bem no partido ou não encontra espaço em seu partido, com surgimento de nova legenda se abriga para politicamente ter espaço", disse Mesquita.
Parlamentares confirmam insatisfação de integrantes da nova bancada oposicionista da Assembleia Legislativa, como seria o caso do deputado Agenor Neto (PMDB), conforme apontam lideranças que não quiseram se identificar. Alguns acreditam que ele poderá ser um dos cooptados pela nova legenda. O Diário do Nordeste tentou contato com o peemedebista, mas seu celular estava desligado.
Consolidado
Um dos nomes expressivos da nova oposição da Assembleia, o deputado Wagner Sousa (PR) declarou que, apesar das diferenças entre os partidos, o grupo está consolidado e a maioria está contemplada. "Perder um seria natural, mas acho pouco provável que muitos deixem o bloco", salientou. Carlos Matos (PSDB) também defendeu a consolidação do bloco e destacou que, sempre ao se criar um novo partido, "há uma tentação" de parlamentares para ingressar na sigla.
"A reforma política é algo urgente. Antigamente, o Governo assumia e cooptava as pessoas e hoje não é permitido porque o mandato é dos partidos. Essa forma de criação de partidos é uma falta de respeito, pois já há partidos demais no País", disse.
Fernanda Pessoa (PR) acredita que a saída de deputados para novos partidos, visando à sobrevivência política, é normal, lembrando que o mesmo ocorreu com o PR, quando Leonardo Pinheiro saiu do grêmio para se filiar ao PSD, em 2011. "Quando um bloco é criado, sempre existem pessoas que não são tão ativas. Acho que faz parte da acomodação, mas a oposição vai estar fortalecida e unida", aponta.
Silvana Oliveira (PMDB) não descarta deixar o seu partido algum dia, mas relata que isso só aconteceria se tivesse acirramentos ideológicos na sigla. "Não me vejo sofrendo nada no PMDB. Até agora não senti necessidade de sair, me sinto confortável".
A criação do PL no Ceará deve gerar embates na política local e um deles diz respeito àqueles que estão por trás da criação do novo partido. No Estado, quem encabeça a coleta de assinaturas para constituição da nova sigla é o presidente do PSD, Almircy Pinto, que convidou o irmão, Aramicy Pinto, para dirigir a legenda quando for formalizada.
Identidade ideológica
Para especialistas em Direito Eleitoral, não há impedimento legal para que isso corra, mas demonstra a falta de identidade ideológica de partidos. Segundo o advogado Irapuan Camurça, eticamente, a atitude é censurada, mas muito praticada. "Demonstra que a ideologia no País não é sólida. Essa ação está na fronteira da censura ética. Não é falta de legislação, mas de amadurecimento político", opina.
Já Djalma Pinto ressaltou que a legislação tem estimulado a proliferação de partidos e defende uma revisão na legislação. "Os partidos no Brasil, de um modo geral, querem partilhar o poder e não chegar ao poder. Eles não querem chegar ao comando do poder político, mas extrair dividendos, participar da partilha de cargos sem critério nenhum", atesta Djalma Pinto.