Curada a “ressaca” do primeiro turno do Ceará, Camilo Santana (PT) e Eunício Oliveira (PMDB) partem agora para a mais complicada e decisiva etapa da briga pelo Governo do Estado. A campanha entra em nova fase, e a perspectiva é de radicalização nos dois lados. Analistas ouvidos pelo O POVO apostam em doses extras de agressividade e em uma disputa ainda mais focada no campo ético e pessoal. Os discursos que se seguiram à divulgação do resultado, no domingo, parecem confirmar a hipótese.
“Nosso desafio vai ser mostrar a Fortaleza quem é esse senhor chamado Eunício Oliveira. (…) Fortaleza está iludida por um discurso demagógico. Vamos mostrar às pessoas quem é o Eunício, porque ele é um aproveitador pessoal, é um oportunista, é ambicioso, é um mentiroso”, atacou o governador Cid Gomes (Pros) durante entrevista, sinalizando também que a Capital – maior colégio eleitoral do Estado – entrará com força nesta fase da campanha. Em Fortaleza, Eunício teve votação expressiva: 47,7% dos votos, contra 38% de Camilo.
Para o cientista político Josênio Parente, as características da disputa no Ceará – a terceira mais apertada do Brasil – criaram o ambiente para a exasperação da campanha. “A estrutura dos dois candidatos é muito competitiva, e boa parte dos eleitores já está ‘amarrada’ em grupos estruturados. Aqueles que ainda podem ser convencidos de algo são poucos. E como o eleitor já pôde conhecer algumas propostas e perfis no primeiro turno, a tendência agora é de radicalizar. Questões pessoais vão surgir”, afirmou Parente, que é professor das universidades Estadual e Federal do Ceará.
Na avaliação do publicitário cearense e especialista em marketing político Ricardo Alcântara, a exploração do escândalo dos banheiros na reta final do primeiro turno e a tentativa do PMDB de vincular a imagem de Camilo ao esquema também abriu a porteira para novos embates na esfera moral. “Eunício levou a campanha para um território perigoso, da discussão ética. É nesse território que ele vai ser enfrentado agora”, avaliou Alcântara, que foi marqueteiro do ex-governador Lúcio Alcântara (PR) e é integrante da Rede Sustentabilidade.
O escândalo dos banheiros até poderá ser mantido na pauta, mas a eficácia do tema começa a ser questionada. Apesar da estratégia do PMDB, Camilo conseguiu passar à frente na votação do último domingo, observou o publicitário. “A menos que Eunício decida desenterrar outros escândalos do Governo Cid...”, diz.
Na tarde de ontem, o comando da campanha do peemedebista se reuniu para definir o tom do segundo turno. O POVO apurou que o grupo mapeia outras “mazelas” do Governo Cid a serem atacadas até 26 de novembro. “Vamos compará-los (Camilo e Eunício). Isso não pode ser jogado para debaixo do tapete. A baixaria neste tipo de coisa não começou com a gente, mas foi com o governador, que tentou destruir a imagem e a honra (de Eunício), e depois ele vai ter que provar na Justiça. O que colocamos na televisão foram denuncias feitas pelo MP e acatados pela Justiça. Mostramos apenas os processos que ele responde”, afirmou o coordenador de campanha de Eunício Oliveira, Gaudêncio Lucena. (Colaborou Jéssica Welma e Erivelton Melo)
Multimídia
Ouça entrevistas de Camilo Santana (PT) e Eunício Oliveira (PMDB) à rádio O POVO/CBN, após o resultado do primeiro turno:
Camilo: http://bit.ly/ZPsQHR
Eunício: http://bit.ly/1BKeIez
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1. STAFF
O tom virulento da campanha deve ficar, mais uma vez, para o staff das candidaturas. Ao atacar Eunício no último domingo, Cid quis deixar claro que as críticas eram dele, pessoalmente, livrando Camilo da responsabilidade.O secretário da Saúde Ciro Gomes deverá também ter papel de destaque nos ataques, como aconteceu no 1º turno.A campanha do segundo turno começou, oficialmente, às 17 horas de ontem, depois de 24 horas do fim da votação.
2. PROPOSTAS
O candidato Eunício, pessoalmente, também ficou no discurso da paz. Em entrevista à rádio O POVO/CBN, disse que focará em propostas para a população e que cairá fora de baixarias. Ele ainda se disse vítima de uso da máquina pública por parte do governo Cid e de corrupção eleitoral. Já Gaudêncio vai para o ataque. “Eu mesmo pergunto: você ser comandado por uma pessoa que responde na Justiça por vários processos, isso é normal? Não acho”.
3. APOIOS
Gaudêncio afirma que a campanha do PMDB já está buscando diálogo com os dois candidatos derrotados na disputa, Eliane Novais (PSB) e Ailton Lopes (Psol). “Estamos conversamos com pessoas ligadas a estes próprios candidatos. A Eliane teve um bom desempenho, e vamos conversar. Já mantivemos contatos. Esperamos que, se Eunício receber o apoio da Eliane, será um apoio bem-vindo. Não somente dela, mas de todos os seguimentos do eleitorado do Ceará”.
4. PROPAGANDA
A propaganda eleitoral na TV e no rádio só recomeça no próximo sábado. Desta vez, os candidatos terão tempos iguais para falar com o eleitor. No 1º turno, Camilo levava vantagem de tempo. Em tese, o espaço em disputa entre Eunício e Camilo é mais curto no segundo turno.Há os cerca de 6% de eleitores que, no primeiro turno, votaram em Eliane Novais (PSB) e Ailton Lopes (Psol) para o Governo, e os 14% de cearenses que anularam ou votaram em branco.