O Programa Mais Médicos, do governo federal, voltou a ser pauta dos debates da Assembleia Legislativa, na manhã de ontem. Enquanto uns defendiam o programa, outros deputados comentavam a polêmica envolvendo a deserção de médicos cubanos e suscitando o debate sobre as condições de trabalho dos profissionais. O deputado Fernando Hugo (SDD), que também é médico, foi à tribuna para tecer críticas ao programa e disse que o sistema patrocinado pelo Governo é uma “vergonha”.
Fernando Hugo afirmou que tanto a presidente Dilma Rousseff, quanto o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tentam “maquiar” o fracasso da saúde pública. “Eu clamava aqui para que o Governo tivesse pelo menos sensibilidade, humanismo, e não expusesse a população ao destrato dos receituários e das consultas médicas”, disse o parlamentar, apresentando um receituário do município de Piquet Carneiro, onde, segundo informou, o médico cubano tinha receitado uma superdosagem de insulina, que teria levado um paciente a entrar em coma.
O parlamentar disse que cerca de 30 médicos cubanos já abandonaram o programa, segundo informações das associações médicas. O nó da questão está no fato de os cubanos, do Programa Mais Médicos, terem um regime de contratação diferenciado. Fernando Hugo ressaltou que a maior parte dos salários é repassada ao governo de Cuba e “apenas 40% do dinheiro fica com os médicos”.
MAL-ESTAR
O petista Dedé Teixeira criticou o posicionamento de Fernando Hugo e ressaltou que o programa pode ser considerado como uma conquista do povo brasileiro. Disse, ainda, que os médicos cubanos têm uma característica humanitária, diferente dos médicos brasileiros que consultam de “cabeça baixa para poder atender até 60 pacientes por dia”.
Dedé Teixeira foi interrompido pelo deputado Wellington Landim (Pros), que não gostou das críticas e respondeu de imediato: “Vossa excelência está faltando com respeito aos médicos brasileiros”, disparou irritado. A declaração de Dedé Teixeira soou como provocação e também desagradou a Fernando Hugo. A discussão provocou um mal-estar no Plenário. Depois de algumas ponderações, as declarações foram retiradas dos arquivos da Casa, após solicitação dos parlamentares à taquigrafia.
CAMPANHA
Mas as críticas não pararam por aí. Para o deputado João Jaime, o programa é uma grande campanha eleitoral. Segundo disse, o Governo “tirou do bolso do colete o Mais Médicos como uma solução para o Brasil”. Já Wellington Landim, defendeu que, uma vez que não foi adotado o Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos que permite ao médico formado no exterior tornar válido o diploma para exercício da profissão no Brasil), deveria ter ocorrido uma seleção em Cuba, o que, segundo ele, evitaria alguns vícios, citando casos de excessos por parte dos médicos cubanos.
O deputado Professor Pinheiro (PT), por sua vez, disse que as manifestações são discursos “virulentos” contra os médicos. O parlamentar ainda ressaltou que supostas falhas e denúncias contra os profissionais contratados pelo Mais Médicos foram desmentidas depois das devidas investigações.