O mês de junho ficou marcado na história do Brasil pela insurgência da sociedade que foi às ruas cobrar mudanças. A tarifa de ônibus em São Paulo foi o estopim para a insatisfação de uma geração de jovens que está descrente com o modelo representativo da política em nosso País. As mobilizações (que continuam) mostram o desejo da sociedade de tomar parte nos rumos do Brasil.
Após o início das manifestações, pautas importantes chegaram a ser votadas no Congresso Nacional com celeridade atípica. O Governo Federal também, com muita dificuldade, tentou dar alguma resposta, com a proposta do plebiscito para a reforma política. O STF condenou, pela primeira vez no País, um deputado federal à prisão. A pergunta que nós, cearenses, fazemos é: qual, afinal, foi a resposta do nosso Estado às manifestações?
Se revisitarmos as páginas dos jornais locais de junho até hoje, veremos o Cocó sendo desmatado para construção de viadutos (com o poder público agindo com violência contra manifestantes acampados). Veremos um governador sair de férias em meio ao turbilhão de manifestações e uma das maiores secas da nossa história, utilizando-se de uma viagem oficial custeada pelo contribuinte. Um governador que deixa transparecer uma forma de agir provinciana ao ignorar a avaliação da classe de advogados na sua escolha para a vaga de desembargador do Tribunal de Justiça do Estado. Um Governo do Estado que não apresenta nada de novo para solucionar o problema da segurança pública. Um governo que gasta R$ 20 milhões com voos em aeronaves particulares e R$ 3,4 milhões com caviar e outras iguarias gastronômicas.
O poder público cearense parece estar alheio às manifestações e na contramão do que a sociedade está exigindo. A população tem o direito de opinar se quer gastar milhões com um aquário e uma ponte estaiada (que vai degradar ainda mais o Cocó), enquanto direitos elementares continuam sendo negados a cidadãos cearenses. A sociedade tem o direito de fiscalizar os parlamentares, por isso é favorável à aprovação da PEC do voto aberto no parlamento (que tramita há mais de um ano na Assembleia Legislativa). O povo cearense cobra as punições dos escândalos banheiros e dos consignados.
O papa Francisco afirmou que os líderes do Brasil devem ser humildes e trabalhar sobre as questões levantadas pelos protestos. Precisamos, de fato, assumir as vozes que cobram uma nova postura na política.
Eliane Novais
Deputada estadual (PSB)