O tiro no tórax de Antônio Dutra em 18 de janeiro deste ano matou não só o vigilante da Escola Professor César Campelo, no Conjunto Ceará. Minou também a sensação de segurança da comunidade do entorno do prédio e ajudou a fazer de Fortaleza uma cidade mais violenta do que a maior metrópole brasileira. Com 4,5 vezes menos habitantes do que São Paulo, a capital cearense registrou 54 assassinatos a mais do que o município do Sudeste no primeiro mês de 2013. Foram 163 casos aqui contra 109 ocorrências lá, conforme estatísticas das secretarias de segurança paulista e cearense. A morte de Antônio Dutra segue em investigação.
Em relação ao mesmo período do ano passado, Fortaleza permaneceu praticamente estável. Já SP teve os homicídios aumentados em 21%. A capital paulistana, no entanto, registra queda de 35% quando janeiro de 2013 é comparado com dezembro de 2012. Neste recorte, os assassinatos em Fortaleza aumentaram 8,6%. (ver gráfico)
Em 2012, Fortaleza registrou crescimento de 47% nas mortes em relação a 2011 (saiu de 1.107 casos para 1.628), como O POVO mostrou em 17/1. Em São Paulo, o inchaço foi de 37%. “Isso é reflexo da ineficiência das políticas de segurança. Fortaleza traz uma característica endógena de criminalidade com tendência para o aumento do homicídio. Isso é reflexo de má gestão. O Governo gasta muito em políticas fragmentadas e não tem retorno. São Paulo consegue reduzir porque não fragmenta. Aqui, falta eficiência na gestão. Recurso tem”, critica o pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC), Marcos Silva.
Ele diz que a Secretaria da Segurança Pública do Ceará (SSPDS) precisa considerar a logística local de crimes e criar, a exemplo de SP, um sistema de atuação com métodos menos militarizados nas polícias. “É preciso o Governo se despir dessa lógica de guerra. Nossos coronéis têm essa tática muito forte e não conseguem perceber que o aumento dos casos está interconectado com várias questões numa cidade complexa como a nossa. A política de segurança tem que estar ligada à da juventude, que tem que estar com a de educação etc.”
Silva tece críticas ao Ronda do Quarteirão, aposta do Governo para reduzir os índices de violência. “Foi um programa político que não reconfigurou a cultura policial. O PM do Ronda incorporou a prática de uma Polícia que tem ações ilegais e corruptivas.”
Coordenador do Laboratório de Estudos sobre Conflitualidade e Violência (Covio/Uece), Geovani Jacó endossa a tese de que reforço das tropas de segurança não significa redução de índices. De acordo com ele, experiências exitosas mundo afora tiveram como base medidas simples de controle da proliferação de bares; funcionamento de escolas aos fins de semana; (re)qualificação de praças, parques etc; combate ao narcotráfico; melhor formação policial e garantia de tratamento a drogaditos. “Fortaleza tem uma população cada vez mais refém dos seus medos; dessa sensação de insegurança e da desconfiança generalizada da cidade e das pessoas. Isso é cruel”.
Ontem à tarde, O POVO tentou falar com o titular da SSPDS, Francisco Bezerra, mas foi informado pela assessoria do secretário de que ele não poderia conceder entrevista por estar em reunião na residência oficial do governador Cid Gomes. O comandante de policiamento da Capital, coronel Giovani Pinheiro, se disse impossibilitado de atender à reportagem por também estar em reunião. “O Estado tem o dever político de dizer os motivos dessa ausência de políticas e do aumento da violência. Precisa repensar estratégias. Porque as atuais são ineficientes. A Polícia não é capaz nem de combater nem de prevenir”, finaliza Jacó. ENTENDA A NOTÍCIA
Estudiosos dizem que, enquanto a desigualdade social não diminuir, os homicídios devem aumentar. Educação, saúde e lazer são os entraves apontados. Oposição ao Governo quer discutir aumento da violência na Assembleia Legislativa.