Levantamento da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) aponta pouco mais de 25 mil terrenos baldios em Fortaleza. Estes locais desafiam o combate ao mosquito Aedes aegypti, mas outro dado é ainda mais alarmante: cerca de oito em cada dez focos do inseto transmissor de doenças como dengue, zika e chikungunya são encontrados em casas habitadas.
Conforme a SMS, apenas 1% dos focos é achado nos terrenos baldios. “Não é tão representativo esse número se considerarmos que 83% dos focos de larvas do mosquito foram encontrados em casas habitadas”, pontua a assistente técnica do Núcleo de Controle de Endemias, Socorro Furtado. Outros 11% são encontrados em espaços como cemitérios, indústrias, igrejas. Já 5% dos imóveis com focos estão em prédios comerciais.
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Os números lembram a responsabilidade da própria população no controle do vetor. Agentes de combate de endemias apontam como principais dificuldades no trabalho de enfrentamento ao mosquito os moradores que não os deixam entrar em suas casas e os que não seguem as orientações sanitárias. Como consequência, é comum casas já visitadas voltarem a apresentar focos do mosquito.
O POVO ouviu relatos de agentes que participaram, ontem, de uma capacitação promovida pela SMS sobre as novas doenças transmitidas pelo mosquito.
De acordo com a agente de combate às endemias Maria da Conceição Vasconcelos, 36, a recusa para entrada do profissional diminuiu depois que a Prefeitura fez, há cerca de três anos, o zoneamento das equipes. “Desde então, cada profissional atua em determinada área e cobre os mesmos domicílios. Isso nos ajuda a ganhar a confiança deles (moradores). Eu estou responsável por cerca de 1.500 imóveis no Conjunto Ceará”, contou.
Como O POVO publicou ontem, o governador Camilo Santana (PT) estuda apresentar à Assembleia Legislativa projeto de lei que prevê multa para quem não deixar o agente entrar nas residências.
Antônia Grazielle, 33, agente de combate às endemias na Granja Portugal, avalia que questões de segurança levam, muitas das vezes, o morador a não permite o trabalho do agente. “Mesmo assim, dos 1.600 imóveis que fiscalizo, apenas em três ou quatro eu encontro dificuldades”, conta.
Grazielle ressalta a importância não só de os moradores receberem o agente, mas também de seguirem as orientações para prevenir a criação de focos do mosquito. “O morador vai ser o seu próprio agente, enquanto o profissional da SMS não faz nova visita naquele imóvel. Nós orientamos e fazemos a eliminação dos focos, mas cada um tem que fazer o seu papel”, lembra.
Terrenos baldios
Apesar de os terrenos baldios não figurarem como principais locais com focos do mosquito, um agente que preferiu não se identificar disse que, quando o terreno é murado, fica muito difícil de fiscalizar. Ele cita o caso de um terreno murado que há cerca de um ano começou a ser usado como uma espécie de lixão por moradores do entorno. “As pessoas jogam sacos de lixo para dentro do terreno”, relata o agente, enfatizando a importância da conscientização da população.
Saiba mais
Materiais que mais concentram focos do mosquito Aedes aegypti
Depósitos no nível do solo (de tanques a pequenos potes): 49,6%Vasos com plantas, pratos, bebedouros: 29,76%
Depósitos fixos (tanques em obras, etc): 13,4%Lixo: 4,83%
Caixas d’água: 2,14%Folhas, árvores ocas, etc: 0,27%