A eleição para senador passou a ser vista no Ceará como apêndice da eleição para governador. De fato, desde o golpe de 1964, apenas em 1974 houve eleição de governador, indireta na ocasião, sem que o vitorioso para o Senado não estivesse na mesma chapa do chefe do Executivo eleito. A correlação, porém, não é tão simples, direta ou imediata, embora as influências sejam bastante óbvias. Basta observar as duas últimas eleições. Em 2006, Cid Gomes (no PSB) teve vitória tranquila contra Lúcio Alcântara (que estava no PSDB), com vantagem de 1,94 milhão de votos. Inácio Arruda (PCdoB) foi eleito senador, mas em votação muito mais apertada: 232 mil votos sobre Moroni Torgan. Os dois chegaram ao dia da eleição empatados nas pesquisas, após o candidato do então PFL ter liderado toda a campanha. Inácio venceu com quase 500 mil votos a menos que Cid, enquanto Moroni teve 371 mil a mais que seu colega de chapa Lúcio Alcântara. Em 2010, Cid se reelegeu com 1,66 milhão de votos a mais que o segundo colocado, Marcos Cals, que representava o PSDB. Já o segundo senador da chapa de Cid, José Pimentel (PT), teve 643 mil votos a mais que Tasso. Manteve-se a tendência de os candidatos a senador de oposição se saírem melhor que os postulantes a governador. Tasso teve mais votos que os seis concorrentes contra Cid somados. A diferença a favor dele em relação aos seis opositores que disputavam o governo foi de 211 mil votos.
Mas há um aspecto curioso: Moroni foi mais competitivo em 2006 que Tasso em 2010, embora ambos tenham liderado praticamente todas as pesquisas, e perdido no fim. A votação de Tasso foi maior que a de Moroni, mas em 2010 os candidatos governistas ao Senado tiveram desempenhos mais expressivos. Eunício Oliveira (PMDB), hoje principal opositor, estava com Cid e teve 251 mil votos a mais que o governador. Repetiu o que fez seu hoje colega de chapa Tasso que, em 2002, teve 290 mil votos a mais que seu candidato ao governo, Lúcio Alcântara, no 1º turno. Em 2010, porém, houve peso determinante na eleição para o Senado de outro aspecto, que já se faz presente nesta campanha: a disputa presidencial.
Na última eleição, o peso nacional foi talvez mais significativo na disputa para o Senado que o da campanha para governador. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era ainda presidente e entrou com tudo para eleger Eunício e Pimentel, acabar com as brigas entre eles e derrotar Tasso. Desta vez, conforme a coluna tratou ontem, o envolvimento de Lula e Dilma permanece como interrogação. Mas Mauro Filho (Pros) já abraça o mesmo discurso vitorioso há quatro anos.
O CANDIDATO DA DILMAEnquanto a eleição para governador, conforme abordado ontem, é marcada pela confusão dos palanques nacionais, para o Senado há mais clareza. Tasso aceitou concorrer, principalmente, para dar palanque a Aécio Neves (PSDB). E Mauro já adota o discurso de que é o único candidato de Dilma e Lula para o Senado. Se, para o governo, tanto Eunício quanto Camilo Santana (PT) se declaram da base aliada, para senador, realmente, não há a mesma ambiguidade.
ECONOMIA E EDUCAÇÃO COMO ALVOUm elemento interessante para projetar como irá se desenrolar a campanha está no programa que Eunício apresentou à Justiça Eleitoral. Ao fazer o diagnóstico da situação atual, três pontos são criticados com maior ênfase. Um, mais óbvio, é a segurança, reconhecidamente o setor mais problemático da gestão Cid. Outro é a economia, seara de Mauro Filho. Nesse particular, o documento aponta que a taxa de crescimento do PIB tem caído nos últimos três anos, mesmo período no qual as exportações estariam estagnadas. O terceiro é a educação, que foi gerida pela candidata a vice de Camilo, Izolda Cela (Pros). É apontada, também, estagnação da nota dos estudantes do ensino médio no Ideb, responsabilidade direta do Estado.
HISTÓRIAUma curiosidade histórica. As duas últimas ocasiões em que o senador eleito não pertencia à mesma chapa do governador que saiu vitorioso foram em 1962 e 1974. Na primeira, Virgílio Távora (UDN) se elegeu governador na maior coligação da história cearense antes de Cid. Mas o senador vitorioso foi o opositor Carlos Jereissati (PTB). Em 1974, foi eleito indiretamente para o Executivo Adauto Bezerra (Arena). Para o Senado, venceu o opositor Mauro Benevides (MDB). Jereissati, o pai de Tasso. Benevides, o pai de Mauro. Ambos os filhos agora se enfrentam, um para repetir o feito, outro para manter o pai como último a quebrar a escrita.