A candidatura e a hora do desmame
Desde a eleição que marcou a chegada do atual consórcio partidário ao poder, o Ceará vive relação despudorada entre o núcleo governista e aqueles que o orbitam e sonham com a carreira solo. Na cada vez mais provável hipótese de Eunício Oliveira romper com Cid Gomes (Pros), o senador peemedebista repetirá aquilo que o governador fez com seu antecessor. Faz sete anos e dois meses que Eunício está ali, como privilegiado condômino do poder, como voz em várias das decisões mais estratégicas. Daqui a dois meses, pode simplesmente romper, passar a fazer oposição, fingir que não tem nada com “tudo isso que está aí” e se apresentar como o “novo”. Convenhamos, é uma desfaçatez, só explicada pela incompatibilidade das ambições pelo poder.
Porém, convenhamos, foi a mesmíssima coisa que o senhor Cid Gomes fez com Lúcio Alcântara (então no PSDB, hoje no PR). O descaro foi um pouco menor, é verdade, porque o discurso de oposição já vinha sendo construído desde o ano anterior. Dia sim outro não, Ivo Gomes (Pros) dizia muitas e boas, na Assembleia, sobre a administração que à época seu partido apoiava. Só o Lúcio fazia questão de alimentar ilusões. Porém, entregar os cargos mesmo, que é bom, os Ferreira Gomes só o fizeram três meses antes de caírem em campanha contra o ex-aliado, apresentarem-se como o “novo” – sempre ele – e fingirem que não tinham nada a ver com os 20 anos de administração do chamado mudancismo, durante os quais sempre foram, parceiros preferenciais do Palácio. É o tipo de coisa que não se dá para fazer sem uma boa dose de cara de pau.
Como cara de pau foi necessária para, em 2010, o PSDB ir para a oposição faltando um mês para começar a campanha, depois de alimentar até aquele momento o sonho de ter o apoio do governador à reeleição de Tasso Jereissati. E mais ainda quando lançou como candidato Marcos Cals, que era secretário do mesmo Cid até menos de três meses antes.
Assim como Cid alimentou até a menos de um mês antes de a campanha começar, em 2012, a possibilidade de apoiar o candidato de Luizianne Lins (PT) em Fortaleza. Aliás, com a disputa já na rua, apareceu vereador que apoiava Roberto Cláudio (Pros, à época no PSB) se queixando porque indicados seus na Prefeitura estavam sendo exonerados. Ou seja, os apaniguados nem entregaram os cargos.
E, aliás, seria a mesma coisa se o PT, cuja maioria está até agora agarrada nas tetas governamentais, esquecesse os oito anos de amancebamento e decidisse lançar candidato de oposição a Cid.