Você está aqui: Início Últimas Notícias Representatividade feminina na política depende de novo olhar para as mulheres
“Na medida em que as mulheres pressionam e lutam por seus interesses, há a necessidade de que exista uma representação institucional dentro da política e do Poder Legislativo, porque essa é a lógica da representação: que existam representantes para aqueles interesses”, aponta a pesquisadora Paula Vieira, colaboradora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e professora da Unichristus.
A participação das mulheres na política foi um dos desafios atuais destacados pelas deputadas estaduais na primeira matéria da série realizada pela Agência de Notícias da AL para o Dia Internacional da Mulher.
NOVO OLHAR
Paula Vieira ressalta que é essencial tratar de questões como a cultura política, as diversas pautas e interesses das mulheres e a forma como se tem olhado para candidatas e representantes mulheres.
A doutora em Sociologia afirma acreditar que a representação precisa ser ampliada, tanto na questão dos números como no envolvimento das mulheres nas diversas pautas que fazem parte do Poder Público e dos interesses da sociedade.
“Nós temos uma cultura política na sociedade que coloca o homem como perfil de representante. O desafio é institucional. Precisamos ter mais mulheres no Legislativo e, principalmente, mudar essa cultura política, apresentando as mulheres com perfis de representantes, e muito além de pautas que sejam condicionadas a uma ‘sensibilidade feminina”, afirma a pesquisadora.
Ela cita que estudos apontam a menor participação das mulheres em comissões e pautas sobre reformas no sistema político e mudanças nas instituições políticas, por exemplo, o que pode representar uma dificuldade nas aprovações de avanços nessas áreas para as mulheres.
POLÍTICA DE COTAS
No processo eleitoral de 2018, os partidos foram obrigados a repassar 30% dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e do tempo de propaganda para as candidaturas de mulheres, um complemento à legislação que instituiu as políticas de cotas.
No entanto, os resultados de tais leis demoram a surtir efeito, de uma forma geral, nos gabinetes das casas legislativas e do Poder Executivo, o que aponta para a necessidade de mudança nas estruturas da cultura e do sistema político.
“Por mais que seja necessário termos essa participação e mudanças nas legislações, precisamos ver como é que essas regras são utilizadas, e isso depende da cultura política, que coloca o homem como padrão de representação. É por isso que eu digo que também há outras transformações a serem feitas”, avalia Paula Vieira.
PARTICIPAÇÃO FEMININA
Elas são 52,5% dos eleitores brasileiros e, nas eleições de 2018, 31,6% das candidaturas foram de mulheres, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No último pleito, 77 mulheres se elegeram para a Câmara dos Deputados (15% do total). No Senado, foram eleitas sete, fazendo com que a bancada feminina ficasse com 12 (14,8% do total), uma a menos do que na legislatura anterior.
Já na Assembleia Legislativa do Ceará, o número de deputadas recuou de sete para seis (13% do total), enquanto as eleitoras cearenses somam 52,98%.
“Eu acredito que estamos passando por transformações, mas nada se transforma de um dia para o outro. Então, é necessário que isso seja falado e que a gente retome a necessidade de maior participação feminina no Legislativo e na política”, comenta a professora.
A quarta matéria da série especial sobre o Dia Internacional da Mulher, realizada pela Agência de Notícias da AL, trará o ponto de vista de entidades sobre desafios e participação da mulher na sociedade.
A primeira matéria da série abordou entrevistas com a bancada feminina do Parlamento cearense sobre os desafios colocados para as mulheres na atualidade. Já a segunda matéria tratou dos projetos produzidos e aprovados na Assembleia, voltados à efetivação e ampliação de direitos das mulheres na sociedade. O leitor pode acessar aqui.
SA/CG