Você está aqui: Início Últimas Notícias Os impactos da pandemia na vida das mulheres: saúde mental e autocuidado
Pesquisa realizada pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e conduzida pela equipe do neuropsicólogo Antônio de Pádua Serafim, em 2020, apontou que as mulheres foram as mais afetadas emocionalmente durante a pandemia.
Os dados da pesquisa, que foi publicada em fevereiro de 2021, apontam que as mulheres respondiam por 40,5% de sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse.
A psicóloga do Núcleo de Saúde Mental da Assembleia Legislativa do Ceará, Raquel Penaforte, avalia que a pandemia contribuiu para um adoecimento geral, e as mulheres foram uma parcela muito afetada, justamente pela posição de cuidadoras que exercem.
Segundo ela, “os dados sobre ansiedade e depressão ainda podem ser a ponta do iceberg. Já são muitos os casos, tanto no serviço público como no serviço privado”.
Entre os muitos fatores para o adoecimento, cita a psicóloga, estão a solidão, incerteza sobre o futuro, sobrecarga de trabalho e de cuidado com a família, o medo da doença, a insegurança financeira, a pressão para se reinventar diante da situação, entre outros.
A deputada Dra. Silvana (PL) opina que as mulheres e as crianças são as principais prejudicadas pelos impactos da pandemia. Para a parlamentar, as mulheres enfrentaram um “desequilíbrio emocional muito pesado” ao se depararem com as diversas questões impostas nesse período.
Entre os desafios e problemas, a deputada citou a luta diária para o equilíbrio e manutenção da casa, uma vez que os homens ainda têm participado pouco; o aumento da violência doméstica e, para as famílias com filhos, a falta das aulas presenciais, algo “irreparável” para as crianças, avalia Dra. Silvana. A primeira-dama da AL, Cristiane Leitão, reiterou que a pandemia trouxe diversas dores, e as mulheres, em especial, sentiram o impacto do adoecimento mental. “A mulher em si é, muitas vezes, a mantenedora da questão emocional, financeira, educacional da família, então ela fica sobrecarregada. Isso tudo realmente afeta a saúde mental da mulher”, avalia.
Ela, que é mestre em Gestão em Saúde e líder do Comitê de Responsabilidade Social da AL, acentua que é necessário olhar para todos os prismas que afetam a saúde da mulher nesse cenário, como o isolamento, a carga emocional, a questão profissional, familiar e, em muitos casos, a violência doméstica.
IMPORTÂNCIA DO AUTOCUIDADO
Diante de tantos desafios e incertezas, o autocuidado ficou ausente da rotina de muitas mulheres. “Esse autocuidado quase não existiu, o foco era muito na doença, na prevenção, nas prioridades do outro. É um tempo de voltar para si, recomeçar o autocuidado, ter tempo para si, cuidar da saúde física e mental, explica a psicóloga Raquel Penaforte, reforçando que a saúde mental atravessa todos os aspectos da vida.
A psicóloga Mayara Rios, da Célula de Psicologia do Departamento de Assistência Social e Saúde da Assembleia Legislativa, reforça o impacto emocional da pandemia e a necessidade de que, mesmo diante das incertezas e angústias, é necessário cuidar da saúde mental e exercer o autocuidado na rotina.
A profissional elenca algumas ações que podem colaborar nessa retomada dos processos de autocuidado, como estipular horários para as atividades do dia, contribuindo com o foco de cada momento; ter momentos de prazer e relaxamento durante a rotina, assim como um tempo só para si, como formas de aliviar o estresse.
Mayara Rios cita ainda a importância de aceitar a própria vulnerabilidade, aprender a buscar ajuda e dar espaço para as pessoas poderem participar e ajudar na rotina. Outro ponto importante, comenta a psicóloga, é buscar o acompanhamento psicológico, que colabora para lidar com as angústias e questões pessoais, assim como ressignificar o sofrimento.
SÉRIE PANDEMIA E AS MULHERES
A primeira matéria sobre os impactos da pandemia na vida das mulheres abordou a sobrecarga de trabalho e cuidado enfrentada nesse período, situação que está diretamente relacionada à saúde mental, ponto deste texto.
A terceira matéria sobre a vida das mulheres durante a pandemia abordará o aumento da violência doméstica e a maior vulnerabilidade em um cenário de crise sanitária.
SA/CG