E esse processo de reversão do cenário violento da cidade contou, entre outras coisas, com trabalho integrado entre Poder Público, setor privado, organizações sociais, universidades e população, enfoque diferente do entendimento de segurança e forte envolvimento e investimento em educação, cultura e projetos sociais, elencou Melguizo.
“O contrário de insegurança não é segurança, mas convivência”, apontou o conferencista, ressaltando que é necessário que o Estado esteja presente em todas as suas formas nos territórios, e não somente na forma das forças armadas. Para o professor, não é possível que a militarização de territórios continue sendo uma resposta para a questão da segurança urbana.
Jorge Melguizo afirmou ainda que as mortes violentas não são problemas locais, mas nacionais e, por isso, as soluções também devem ser nacionais.
REVERSÃO DA VIOLÊNCIA
Entre as dimensões abordadas na experiência exitosa de Medellín, Melguizo reiterou que cultura e educação são eixos transversais de todo projeto de desenvolvimento social.
Ao comentar sobre a dimensão dos assentamentos precários de Fortaleza, Melguizo ressaltou que é impossível solucionar os problemas de violência se não houver interferência nesses territórios. “O Estado se faz no bairro. O Estado tem que entrar nos territórios em que os politiqueiros transformaram os direitos em favores e privilégios”, afirmou.
A transformação de Medellín em um laboratório cultural, educativo e social apontou para questões imprescindíveis, como a formação, investimento e dignificação das polícias, a realização de uma escuta permanente dos territórios urbanos e de projetos que dialoguem com as particularidades de cada um, assim como a construção de um modelo de urbanismo social.
Nessa abordagem, há um trabalho de organização e coordenação com todos os organismos que intervêm na estratégia de segurança em nível nacional, estadual e municipal, apontou o pesquisador colombiano. Para que haja resultados positivos, afirmou Melguizo, a continuidade e sustentabilidade dos projetos realizados e apropriados pelas comunidades, independente das mudanças de gestão, também são essenciais.
Ao citar a corrupção, o ex-secretário ressaltou a implementação de uma política pública de transparência em Medellín. “A corrupção rouba décadas de desenvolvimento humano e social”, alertou.
Apesar dos avanços, a questão da violência e da segurança pública não é batalha ganha, afirmou o professor. Ele ressaltou a necessidade de conhecimento profundo sobre o assunto e sobre os territórios, ter paciência, trabalhar com ternura, delicadeza e trabalhar agora para resultados futuros.
SA/LF