A violência causada pelo crescimento de facções criminosas está afetando mais adolescentes a cada dia. O relatório do primeiro semestre de 2017 do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência da Assembleia Legislativa do Ceará aponta dados preocupantes. No Ceará, 522 pessoas com idade entre 10 e 19 anos foram assassinadas. No ano passado, em igual período, o número foi de 392 jovens, o que aponta um aumento de 33%. Na Capital cearense, o estudo apontou 222 óbitos neste ano, o que indica média de um assassinato por dia.
O balanço alarmante do primeiro semestre de 2017 é um sinal de alerta que aponta um agravamento da violência letal contra jovens no Estado, principalmente em Fortaleza, cidade com aumento de 71% no número de assassinatos de adolescentes em relação a 2016, quando 130 perderam a vida entre os meses de janeiro e julho.
Em apresentação do balanço de homicídios na Assembleia, na manhã de ontem, o Comitê reuniu instituições e membros do Fundo das Nações Unidas (Unicef), Ministério Público, pesquisadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santos, Belém, além da Secretária Municipal de Saúde de Fortaleza. (SMS). O Comitê detalhou, pela primeira vez, um boletim epidemiológico sobre as mortes. Segundo o médico epidemiologista e doutor em saúde coletiva, Antônio Silva Lima, responsável pela elaboração do documento, "os dados brutos não permitiam estabelecer os motivos de tão drástica mudança de cenário, mas dois fatores podiam ser considerados com maior ênfase. O primeiro seria a reorientação de políticas de Segurança Pública implantada no período. A outra possibilidade, amplamente divulgada pela imprensa e organizações não governamentais, associava a queda do número de homicídios a "pactos de paz" selados entre facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas", disse.
Ainda conforme Silva, a chamada "pacificação" teria como base acordos de não agressão entre os membros das organizações. "Do ponto de vista epidemiológico, uma queda tão significativa num período curto sugeria outros fatores, além do aperfeiçoamento de políticas públicas. Normalmente, a redução da ocorrência de um evento de determinação complexa, como o homicídio, tende a ser gradual e lenta. Outra evidência apresentada no boletim epidemiológico é de que a distribuição espacial dos homicídios não se mostrava homogênea. Os bairros Barra do Ceará, Vicente Pinzón, Jangurussu, Messejana, Barroso e Passaré apresentavam variação negativa proporcionalmente mais elevada do que os demais entre 2015 e 2016", comenta.
Compartilhamento
Luciana Phebo, coordenadora do Escritório do Unicef no Rio de Janeiro e participante do encontro, afirmou que o modelo de estudo criado pela Comitê cearense deve ser replicado por outros Estados. "O Ceará é um dos Estados como um dos maiores índices de taxas de homicídios, mas não é uma particularidade. O relatório ainda aponta 12 ações importantes para os governos reduzirem homicídios como a busca ativa na educação escolar e o controle de armas".
O prefeito Roberto Cláudio participou da reunião na Assembleia e falou do apoio do Município. "Não é uma ação a curto prazo. A gente vai formular um plano para 2018. Vamos publicar um boletim mensal".