Os deputados cearenses divergiram sobre o período vivenciado pela política brasileira e seus reflexos nas eleições do ano que vem. Os parlamentares ocuparam, ontem, a tribuna da Assembleia Legislativa para refletir sobre o que classificaram de “período de descrédito” da população com a classe política. A recente reforma política aprovada pelo Congresso Nacional também fez parte das discussões.
Ao fazer uso da tribuna, o deputado Osmar Baquit (PSD) trouxe uma reflexão sobre a credibilidade da classe política perante a sociedade e disse que a população não está preocupada se o candidato é “ficha limpa ou ficha suja”, e isso não trará “nenhuma mudança significativa” no pleito do ano que vem.
“Falam em Lula, Alckmin, Cid Gomes, Tasso Jereissati”. Nesse retrospecto, conforme observou ele, os méritos dos prováveis candidatos não são considerados. Sem entrar no mérito da discussão, o parlamentar ressaltou que “o povo não faz distinção entre quem é honesto ou bandido na classe política” e, para ele, a culpa é dos próprios políticos.
“A própria classe tem demonstrado falta de zelo pela sua história, mas também quero considerar que há um serviço montado para desqualificar a política”, refletiu ele, acrescentando “esse processo de desconstrução, coloca os bandidos corruptos e honestos no mesmo patamar de descrédito ante a população, e facilita o trânsito dos mal-intencionados pelo meio político”.
“A categoria política precisa dar o exemplo, ou vai ficar cada vez mais desmoralizada”, considerou.
“Colcha de retalhos”
Na contramão, o deputado Ely Aguiar (PSDC) acredita que existe anseio popular em relação a mudanças nas casas legislativas, até porque, segundo ele, não houve mudanças significativas aprovadas pelo Congresso Nacional para as eleições de 2018.
“Não houve reforma política, e sim uma colcha de retalhos. As pessoas esperavam que corruptos fossem banidos da vida pública, mas, na verdade, teremos vários ex-prefeitos, verdadeiros ladrões condenados pelo Ministério Público e pela justiça, querendo ocupar cadeiras nas assembleias legislativas do Brasil”, frisou ele.
Ely ainda criticou a criação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, no valor de R$ 1,7 bilhões. Para o parlamentar, o correto seria estabelecer um teto para cada região e os partidos deveriam buscar a receita e não da arrecadação da população. “A população está sendo forçada a aceitar essas decisões, é por isso que estamos desgastados. Cabe aos eleitores mudarem essa realidade”, opinou.
Mas, pelo menos em um ponto, os dois deputados concordaram. Para ambos, “os eleitores precisam ser ainda mais exigentes na escolha de seus candidatos, evitando decepções futuras”.
Ciro x Tasso
A declaração do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) em relação ao senador cearense Tasso Jereissati (PSDB) também permeou os debates na Assembleia. Ciro, na convenção do PDT em Fortaleza, disse que Tasso será um “traidor” caso se coloque como pré-candidato ao governo do Estado.
O deputado Carlos Matos (PSDB) rechaçou as afirmações , inclusive de que “o PSDB sustenta o governo Temer, enquanto Tasso faz discurso contra”. Para o tucano, as declarações “são mentirosas”. “Tasso tem destravado muitos projetos para o Estado do Ceará, e não segurado dinheiro, como diz Ciro Gomes”, salientou ele.
Além disso, Matos informou que o fato do tucano Maia Júnior, secretário de Planejamento, participar da atual gestão, não inviabiliza o PSDB de lançar candidatura. “Por acaso o Ceará agora tem dono?”, questionou ele, ressaltando que a indicação de Maia Júnior é “pessoal”.
Ely Aguiar também teceu comentários ao assunto. Para ele, a declaração de Ciro teve como intenção “constranger” Camilo Santana. “Os demais candidatos estão com medo porque o Tasso é adorado pelo povo”, pontuou o parlamentar.
“Todos conhecem a vida e atitudes políticas de Tasso, que não tem apego a cargo e não apadrinha os seus liderados políticos”, afirmou João Jaime, que também saiu em defesa de Tasso.
Já o deputado Odilon Aguiar (PMB) destacou que Ciro Gomes deveria ter “gratidão” a seu ex-aliado político. “Tasso apoiou os Ferreira Gomes contra o (José) Serra (senador do PSDB-SP) pela continuidade do projeto no Brasil”, lembrou.