Cristiane Holanda ressaltou a necessidade de trabalhar a comunicação da não violência para que as pessoas possam buscar a cultura de paz por meio de uma conexão profunda consigo mesmo. "A paz é fruto da justiça social, disse Paulo Freire quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz", lembrou a gestora.

Para ela, a paz não é criada por um decreto-lei, a paz é a expressão de um coletivo e, para viver em paz, é preciso conhecer as nossas necessidades. E sugeriu a seguinte reflexão: “Como é que a gente está construindo a paz? Não só a paz interior, mas a paz social”. 

Cristiane Holanda disse ainda compreender a justiça restaurativa como uma mudança de paradigma, um novo olhar para as questões. "Na justiça restaurativa cabe a mediação, a mediação narrativa circular, as práticas sistêmicas para resolução de conflitos e a busca pela paz," pontuou.

A deputada estadual Augusta Brito (PCdoB), procuradora Especial da Mulher da Assembleia Legislativa do Ceará,  ressaltou que é preciso buscar o que está por trás dessa violência quase generalizada no Brasil. Especificamente no caso da violência contra as mulheres, enfatizou ser  necessário descobrir quais os motivos dessa violência estar aumentando. "Na verdade, não sei se está aumentando ou aparecendo mais porque as mulheres estão tendo mais coragem e também oportunidades de fazer a denúncia", questionou. 

Para a parlamentar, por trás dessas ocorrências está toda uma estrutura de machismo que foi construída por muitos anos e se tornando algo natural, fortalecendo esse tipo de violência. Ela defendeu que cabe às mulheres refletirem para entender até que ponto sabem o que é violência ou não, até que ponto se reconhecem dentro do ciclo de violência também e buscar saberem o que é a paz, como podem contribuir para diminuir essa violência e para aumentar a paz, não só paz individual, mas a paz social, coletiva. 

Augusta Brito destacou as ações que a Procuradoria Especial da Mulher da AL tem feito na direção de uma cultura de paz. 

O juiz de direito do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, Sami Storch, pioneiro mundial no uso da constelação familiar no Judiciário brasileiro, disse acreditar, assim como Bert Hellinger, criador das constelações familiares, que a raiz da violência é uma só: a vontade de aniquilar alguém que seja diferente, eliminar, atribuindo a responsabilidade pelas mazelas a um outro que não se identifica com a mesma origem, cultura, cor de pele, costumes, ou seja, o diferente, o outro. "Na verdade, só temos um caminho para a paz, que é reconhecer que todos nós temos o direito de existir sobre esse chão, que nessa terra há espaço para todos", afirmou.

Segundo ele, é preciso encontrar um jeito de conviver, reconhecendo que cada um tem o seu lugar. “E, cada um tendo o seu lugar, nós nos complementamos e passamos a ver o diferente como alguém complementar, alguém necessário para o crescimento do todo”, pontuou. 

O juiz Sami Storch defendeu a necessidade de converter a visão do diferente como aquele que está incomodando para ser o diferente que agrega e acrescenta justamente por ser diferente. "É o crescimento do indivíduo, de cada um de nós, reconhecendo o valor que o outro tem que eu não tenho, enxergar que eu tenho algo a aprender com o outro também e que juntos nós crescemos. E coletivamente, é claro, reconhecer que cada um tem o seu lugar", observou. 

"É um trabalho de fraternidade, reconhecendo que cada um é importante sendo como é e dessa forma vivermos em paz", reforçou. 

Já o promotor de Justiça de Itajubá, em Minas Gerais, Elkio Uehara, especialista em justiça restaurativa e círculos de construção de paz, questionou onde começa a paz e onde começa a violência. Para ele, ohar a violência pressupõe um convite para olhar a paz também. “Quando olhamos para a violência, qual é o olhar ampliado que se requer? O que está por trás da violência? Qual é o pedido de socorro? Ninguém conduz a um caminho de paz se não passou pela experiência desse caminho. Para que possamos trilhar esse olhar, para além da violência, o quanto nós estamos pacificados em nós mesmos?”, indagou. 

O promotor informou que a justiça restaurativa tem aplicabilidade em todas as esferas, seja na educacional, comunitária, familiar, organizacional ou empresarial, e também na justiça criminal. E enfatizou o contato pessoal nesse trabalho. Segundo o juiz , durante a pandemia, em que esses contatos e ações foram impossibilitados por conta do afastamento social, ficou muito clara a importância das relações sociais e interpessoais. "Até mesmo as audiências sendo realizadas de forma on-line, percebemos o quanto nós carecemos dessa conexão", destacou.

O tema debatido fez parte das atividades da Semana da Cultura de Paz, iniciada no último dia 19/07 pelo Parlamento estadual cearense para lembrar o 22 de julho, data que marca o Dia da Paz e da Conciliação no Estado. 

Mediado pelo jornalista Ruy Lima e coordenado pelo Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da AL, o programa Grandes Debates – Parlamento Protagonista é exibido mensalmente pela TV Assembleia (canal 31.1), FM Assembleia (96,7MHz) e mídias sociais do Poder Legislativo e conta sempre com a participação de especialistas em diversos temas da atualidade.

WR/CG