João ficou conhecido como compositor de protesto, rótulo que carregava com desgosto. O talento do músico ultrapassou fronteiras passando por Cuba e algumas cidades da Angola.
Nascido na pequena cidade de Pedreiras, no interior do Maranhão, João Batista do Vale era descendente de escravos angolanos e viveu uma infância pobre. Aos 13 anos, iniciou-se na música, participando como amo, criador de versos, do grupo de bumba-meu-boi, Linda Noite. Aos 14 anos, fugiu de casa e foi para Teresina, onde arranjou emprego como ajudante de caminhão, percorrendo várias cidades do Brasil, a exemplo de Fortaleza, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
João do Vale chegou ao Rio de Janeiro em dezembro de 1950, onde tentou a sorte na carreira artística frequentando as rádios da cidade, à procura de artistas que gravassem suas composições. Depois de inúmeras tentativas, Zé Gonzaga, irmão de Luiz Gonzaga, grava Cesário Pinto.
No final da década dos anos 1950, João do Vale iniciou parceria com Luiz Gonzaga. Por serem de gravadoras diferentes, a parceria não foi oficial. Helena Gonzaga, esposa de Luiz Gonzaga, aparece como parceira do Rei do Baião nas músicas Sertanejo do Norte, De Teresina a São Luís, Pra onde tu vai, baião? e Fogo no Paraná.
Em 1957, João do Vale ganhou projeção nacional quando Peba na Pimenta, música em parceria com José Batista e Adelino Rivera, foi lançada no filme Rico ri à toa do diretor Roberto Farias. A composição interpretada no filme pela cantora Marinês, com acompanhamento de Abdias na sanfona de oito baixos, foi sucesso nacional.
Opinião
Ganhando espaço para mostrar seu talento, João do Vale foi convidado na década dos anos 1960 a se apresentar no bar ZiCartola, propriedade do sambista Cartola, frequentado por grandes nomes da MPB. No local, surgiu a ideia de realizar o show Opinião,que se tornou referência da música de protesto.
O espetáculo dirigido por Augusto Boal estreou no dia 4 de dezembro de 1964, no Teatro de Arena, no Rio de Janeiro, meses após Golpe Militar.
No show Opinião, que ficou em cartaz até 1966, João do Vale, Nara Leão, Zé Keti e Maria Bethânia interpretaram canções que retratavam os problemas sociais do país. O espetáculo foi lançado em disco no ano de 1965, com músicas de Carlos Lyra, Vinícius de Moraes, Cartola, Edu Lobo,Zé Keti e outros grandes compositores.
João do Vale morreu no dia 4 de dezembro de 1996, vítima de falência múltipla dos órgãos, em São Luís, Maranhão.
O Brasilidade é apresentado por Narcélio Limaverde e produzido por Ronaldo César e Julyana Brasileiro. Vai ao ar aos domingos, às 18h, com reprise nas terças-feiras, às 23h.
RW/JU