Vinte e sete militares foram eleitos para cargos políticos nas eleições municipais de 2016 no Ceará. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 169 candidatos às eleições municipais no Ceará identificam sua ocupação como policial militar, 162 disputaram o cargo de vereador, três a prefeito e quatro a vice-prefeito. Segundo especialistas ouvidos pelo jornal O Estado, esses parlamentares tendem, além de se dedicar à temática da segurança, se organizar para defender temas ligados à classe.
Em 2012, foram cerca de 150 candidatos da mesma profissão. Levantamento da Associação de Cabos e Soldados Militares do Ceará (ACS), com dados do boletim interno da PM, mostram que 125 policiais militares saíram da ativa para tentar carreira política.
Dos parlamentares eleitos, dois foram em Fortaleza. São eles: Soldado Noélio e Julierme Sena, inspetor da Polícia Civil, ambos do PR. Para Noélio, é gratificante ter representantes da instituição assumindo cargos como esses, de responsabilidade política, atuando diretamente no Poder Legislativo.
“Consideramos importante a representação na Câmara. Um representante conhece os problema da sua categoria. No caso, conheço de perto as dificuldades da segurança pública e poderei ajudar muito com minha experiência, contribuindo com projetos que possam ajudar a cidade a sair desta situação de insegurança”, disse ele, acrescentando que “também acreditamos que segurança não se faça somente com homem. Mas, lógico que temos de dar estrutura e salário para estar motivado, mas precisamos trabalhar outras áreas como cultura, educação, porque a gente sabe que estas áreas influenciam diretamente nos resultados da segurança”.
O deputado Cabo Sabino (PR) comemorou a representatividade da categoria na política e afirmou que, além da segurança, os novos parlamentares irão propor melhorias em outras áreas. Disse, ainda, que pretende marcar uma reunião com o governador Camilo Santana para apresentar o grupo, que além de vereadores tem um prefeito e dois vices eleitos eleitos no último último dia 02 de outubro.
Prefeitura
Em 2012, por exemplo, o capitão da Polícia Militar Wagner Sousa tornou-se o vereador =mais bem votado da capital. Em 2014, ele repetindo o feito e se tornou deputado estadual. Agora, em 2016, Capitão Wagner é candidato a prefeito. Além dele, outro nome ligado à segurança, o ex-delegado da Polícia Federal no Ceará, o deputado federal Moroni Torgan (DEM), é candidato a vice na chapa do atual prefeito Roberto Cláudio (PDT).
Debate
Para a cientista política e professora universitária, Carla Michelle Quaresma, do Centro Universitário Estácio do Ceará, o crescimento do grupo do Ceará, além do fenômeno ocasionado pelas votações expressivas do deputado estadual Capitão Wagner (PR), está ligada ao fato da violência ser um dos temas que mais preocupa os eleitores, sendo um dos principais assuntos da agenda política brasileira.
Além disso, a cientista política chamou atenção para a ausência do debate político, que acaba fazendo que, no caso da disputa municipal, o candidato construa um discurso em torno da criminalidade, embora não seja competência do município a questão da segurança pública. “A sociedade não discute política. É a ausência do debate que acaba seduzindo o eleitoral, que não compreende as competências de cada ente político”, frisou Quaresma, lembrando que alguns candidatos se elegeram defendendo algo que não está dentro de suas atribuições.
Entre os temas que devem estar na agenda desses novos parlamentares, segundo salientou a professora universitária, seguem propostas de segurança na questão da iluminação pública, atendimento adequado de saúde e educação, além de ampliar a cobrança entorno do prefeito.