O Conecta Ceará promove debates virtuais sobre temas diversos e é realizado pelo Comitê de Responsabilidade Social da Alece. O palestrante desta edição do projeto é pesquisador, especialista em Direito e Processo Eleitoral e professor da área do Direito.

Durante o evento, Fernandes Neto explicou que a política é a forma de chegar a consensos humanos e, neste momento de tanta polarização, percebe-se a falta de “uma verdadeira política que faça as pessoas chegarem ao consenso”.

O convidado comentou que existia a crença no vigor da democracia conquistada, mas apontou que essa não é uma conquista perpétua, precisando ser alimentada de forma contínua. Para ele, a democracia é um ideal a ser continuamente buscado.

Ao avaliar o cenário atual, o pesquisador comentou que os tempos são de incerteza sobre a perpetuação da democracia, por vivermos períodos de desvalorização de seus conceitos e princípios postos, como o resultado das urnas. Fernandes Neto já atuou como observador de eleições em diferentes países.

Os fatores confluentes para as muitas mudanças sociais no mundo foram citados pelo palestrante, entre eles, por exemplo, a globalização, a revolução científica e tecnológica, a digitalização da sociedade e emergência da sociedade da informação, assim como a mudança climática.

Nessa seara de mudanças, as sucessões de crise atravessam a sociedade. Citando o cientista político Przeworski, o convidado apresentou alguns dos sinais da atual crise, como o rápido desgaste dos partidos políticos tradicionais, o avanço dos partidos e atitudes xenofóbicas, racistas e nacionalistas e o declínio de pesquisas de apoio à democracia na opinião pública.

Segundo ele, as crises sociais são terrenos férteis para o populismo, que não é exclusivo de uma vertente ideológica, mas que, nos últimos anos, o mundo vem vivendo um crescimento do populismo de extrema direita.

Fernandes Neto explicou que o populista hoje é antissistema, jogando com a divisão da sociedade e não percebendo a heterogeneidade existente. Ele apontou que, no poder, a extrema direta alimenta-se do conflito e da divisão social, o que reforça uma violência social, além de atuar na divisão nas estruturas da sociedade, como famílias, igrejas, escolas, partidos.

Na avaliação do convidado, esse quadro de coisas gera ainda mais desigualdades sociais e econômicas que impactam fortemente na democracia. Outro ponto que desafia a democracia, citou, é a manutenção dos privilégios das elites.

Para ele, a democracia hoje exige a inclusão das pessoas, especialmente daquelas em vulnerabilidade e marginalizadas pela sociedade ao longo dos anos.

Na democracia atual, os direitos não são estendidos a todos e vive-se um processo de exigência de participação, inclusão e igualdade, fatores que também geram uma série de conflitos sociais, afirmou Fernandes Neto. O palestrante exaltou ainda a importância e a necessidade do respeito às divergências e ao outro na democracia.

SA/LF/com Assessoria