Heitor Férrer (PDT) acabou frustrando as expectativas dos dois prefeituráveis que seguem na disputa da Prefeitura de Fortaleza.Ambos, Elmano de Freitas (PT) e Roberto Cláudio (PSB), queriam o apoio do deputado, que obteve 20,97% dos votos no primeiro turno - tornando-se a surpresa deste pleito.
Em entrevista coletiva na manhã de ontem, na Assembleia Legislativa, o pedetista anunciou que, diferente da postura do partido, não irá apoiar nenhum candidato no segundo turno.
Segundo ressaltou, a postura refere-se à manutenção de sua filosofia política. “Não tenho nada contra qualquer candidato. Jamais poderia trair estes eleitores e me posicionar favorável a um ou outro.
Nem voto no candidato da prefeita, nem voto no candidato do governador”, disse. A decisão foi aplaudida por militantes presentes à reunião.Ao justificar, Heitor disse que apoiar o candidato do PT seria uma “incoerência” a tudo que cobrou durante a campanha. Além disso, a atual administração deixou a desejar nos últimos oito anos. Já em relação ao postulante do PSB, o pedetista ressaltou que “seria negar minha história política como deputado estadual”, além de perfilar uma hegemonia política prejudicial à democracia.
Por esses motivos, Heitor desautorizou qualquer manifestação com seu nome no segundo turno. Caso contrário, acionará a Justiça. “Desautorizo qualquer manifestação usando meu nome para confundir o eleitor”, disse, ressaltando que seu eleitor não é “eleitor de curral eleitoral” e, portanto, independentemente do seu posicionamento, saberá escolher seu voto.
Ele, por sua vez, afirmou que seu posicionamento não trará nenhum “arranhão” ou “insatisfação” com o presidente do partido, deputado André Figueiredo, o qual agradeceu pelo empenho em viabilizar sua candidatura. Ao final, Heitor Férrer recebeu os cumprimentos do candidato do PT, Elmano de Freitas, que, pessoalmente, esteve na Assembleia Legislativa. O encontro aconteceu rapidamente nos corredores da instituição.
CoerênciaO cientista político Uribam Xavier, da Universidade Federal do Ceará, disse que o pedetista está mantendo uma linha de coerência com o eleitorado que o escolheu no primeiro turno. “O eleitor o identificou como oposição e, com certeza, ia estranhar se, agora, ele escolhesse um dos dois, afinal, Heitor é um crítico tanto da gestão de Luizianne Lins como da administração Cid Gomes”. Uribam disse que Heitor também acertou ao manter uma linha de independência em relação ao PDT, cuja inclinação tende para o candidato socialista.
Perguntado sobre a possibilidade do eleitorado de Heitor Férrer migrar para um dos postulantes neste segundo turno, o professor Uribam disse que “há, sim, certa transferência de votos, mas isso é limitado, já que o Heitor, diga-se, não é o dono do voto. O voto pertence ao eleitor, mas, ainda que ele tivesse declarado apoio a um dos candidatos, essa transferência não seria total, completa”. O cientista esclareceu que “viemos de uma tradição autoritária, em que os grandes líderes mandavam e o povo fazia, mas, com a consolidação da democracia e o amadurecimento do cidadão, o eleitor acaba se manifestando espontaneamente”.
Uribam Xavier afirmou, ainda, que acredita em um recorde, nesta eleição municipal, no número de votos em branco, nulo e de abstenções. “Não acredito na tese da transferência pura, e haverá eleitores que vão acabar aderindo a um das duas candidaturas, mas boa parte, independentemente do apoio de Heitor, vai acabar votando branco ou nulo”.
AÇÃO JUDICIALHeitor afirmou, ainda, que o foco é poder disputar o segundo turno, pois, conforme ele, foi prejudicado pelos Institutos de Pesquisa por ter divulgado informações erradas aos eleitores, o que alterou o resultado final do pleito. “Acredito no Poder Judiciário. A ação continua em tramitação. O juiz pediu informações das outras partes. Portanto, continuamos com o mesmo foco”, pontuou o parlamentar.
DEMAgora, falta somente o DEM, que teve à frente Moroni Torgan como candidato, anunciar seu posicionamento a algum dos candidatos que disputam o segundo turno. Segundo assessoria, talvez, o anúncio seja realizado hoje. (Laura Raquel e Rodolfo Oliveira, da Redação).